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segunda-feira, julho 7, 2025

Plínio Camillo dá voz aos negros escravizados

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plinio-camilo-outras-vozes-sousas-campinasMadalena nasceu sem os braços, mas atinou que depois de abraçar as pessoas com as pernas, boca e ouvido, as criaturas ficavam felizes. A escrava ganhou fama. Frei João da Luz chegou a contar que no meio daquele abraço tinha visto a verdadeira face de Cristo. Sua história e muitas outras estão em Outras Vozes – contos sobre o negro escravizado no Brasil, do autor Plínio Camillo

O livro será lançado no dia 31 de outubro, às 20h, na Rabeca Cultural, em Campinas. A obra embaralha ficção a fatos reais, em 33 contos, e dá ao negro do período escravocrata uma voz dissonante, situando-o como protagonista, ora o oprimido, ora o opressor. Temas sobre os quais pouco se fala na historiografia oficial, como a inúmera presença de negros muçulmanos na Bahia, são tratados de forma bastante original.

Em narrativas que muitas vezes flertam com a sonoridade do poema, Camillo transporta o leitor para variados cenários e enredos, desde a vinda nos navios negreiros e o trabalho nas fazendas, passando pelos “negros de estimação”, até os alforriados que trabalhavam nas cidades.

Zulmira, que teve os seus filhos vendidos, Ifigênia, a cozinheira desdentada, João Criolo, o escravo faiscador, Antônio, o negro alforriado são alguns dos personagens do livro, que traz também contos inspirados em fatos reais da história brasileira, como o que relata o flagelo do alufá Bilal Licutan, um dos líderes da Revolta dos malês de 1835, condenado a 24 dias de açoites.

O autor conta que pesquisou por cerca de vinte anos livros e documentos sobre a escravidão. Diz ter encontrado muitos textos importantes, mas nenhum deles trazia o negro como protagonista de sua própria história. “Era apenas a imagem estereotipada do vitimizado em busca de liberdade”, comenta.

Há quatro anos, começou a rascunhar as primeiras histórias, mas não se agradou com os resultados. Em 2013, escreveu Minha Lorinha – texto que mostra relação de apego de uma escrava e sua senhora. Foi aí que encontrou a voz que buscava para os contos que se seguiram. “Dei personalidade, outras facetas, outros olhares, outras vozes, para levar aos leitores boas histórias”, comenta: “São páginas escritas com muita potência e capazes de tornar o autor Plinio Camillo porta-voz de uma etnia que matiza 52% dos brasileiros”, afirma a jornalista e escritora Nanete Neves, que assina a orelha da obra, prefaciada pelo presidente da Fundação Pedro Calmon, Zulu Araújo.

Segundo Zulu Araújo (militante do movimento negro brasileiro e presidente da Fundação Pedro Calmon): Texto firme, melodioso, articulado. Impressão primeira de quem lê o livro de contos de Plínio Camillo. Mais que isto, texto criativo e ousado, como tem sido a vida dos escravizados desde quando pisaram, pela primeira vez, nas terras do além-mar africano – a Terra Brasilis. São contos de todos os cantos que mostram de forma simples e profunda a dor, o sofrimento e a alegria de gente de vários lugares do continente africano, sejam eles n’golas, iorubas, congos, fulas ou hauçás. Ou mesmo afro-brasileiros. São contos da vida e de vidas vividas. São contos. São cantos. Às vezes lamentos. Lamentos indignados, incontidos, diante do tormento vivido por tanta gente ao longo de tanto tempo. Mas são tão bonitos e bem escritos que nos remetem à nossa saga de todos os tempos – a busca permanente pela liberdade. Liberdade de ir, de vir, de sorrir, de sambar. De amar e de trabalhar. Livre, leve e solto.”

E também que “Plínio Camillo passeia por histórias acontecidas ou vividas tanto no continente africano quanto em terras brasileiras, no período escravocrata e pós. Neste passeio, com os pés fincados na África e no Brasil, ora Plínio se faz acompanhar do escritor togolês Kangni Alem, autor de um dos livros mais interessantes sobre a migração forçada para o Brasil e a consequente formação da comunidade afro-brasileira no país, intitulado Escravos, ora se aproxima da contundência histórico-ficcional de Ana Maria Gonçalves, no seu célebre Um Defeito de Cor.  O que significa dizer – “boa romaria faz, quem em sua casa fica em paz”. E me senti verdadeiramente em paz ao escrever sobre estas Outras Vozes. Até porque, não são vozes comuns, apesar de tratar da vida de tantos seres comuns. São vozes ditas com outras palavras de quem domina a arte do bem escrever, do bem contar. São vozes que, quando acompanhadas das palavras escritas de forma poética pelo autor, revelam parte da nossa história que teimam em esconder dos nossos livros.”

Cabe ressaltar que segundo Nanete Neves (jornalista, tendo prestado serviços para a importantes veículos nacionais de comunicação, atuando também como ghostwriter, coordenadora editorial e preparadora para grandes editoras.): “O que se aprende na escola se reduz às leis que, muito depois dos outros países, aos poucos foram acabando com a escravidão no Brasil. O que se vê nos filmes e novelas de TV é sempre algo açucarado que se prende às chibatas, aos castigos, injustiças e histórias de amores impossíveis entre gente de cor diferente, com os negros sempre como coitados e sem individualidade alguma.  Mas Plinio Camillo em “Outras vozes” abre o panorama e subverte tudo ao dar para o negro escravizado um perfil e uma voz dissonante, ousando destoar do pouco que nos foi ensinado – e que fomos forçados a acreditar.”

Plínio Camillo nasceu em Ribeirão Preto em 1960, reside em São Paulo desde 1984, tendo vivido em Campinas entre 1998 a 2001. Ator, educador social, atuou com crianças e adolescentes de rua e hoje trabalha na área de comunicação de uma empresa estatal.

Publicou seu primeiro livro “O Namorado do Papai Ronca” em 2012, selecionado pelo Concurso de Apoio a Projetos de Primeira Publicação de Livro no Estado de São Paulo do ano de 2011 (ProAC Edital nº 32/2011), e lançado pela Prólogo Selo Editorial em parceria com o Instituto Cultural Mundomundano, chamando a atenção pela inovação na linguagem, apropriando-se do modo de expressão usual nas redes sociais.

Em 2014, publicou, pela Editora Kazua, a coletânea de contos: “Coração Peludo” que nesta descreve situações marcantes em formas curtas. O protagonista compartilha com o leitor momentos diversos e decisivos da sua experiência de vida, tão surpreendente quanto a linguagem do escritor. Em poucas, mas certeiras palavras, dá o tom das circunstâncias, descreve personagens e conclui as passagens que seu narrador escolhe para relatar.

Lançamento

Dia: sábado, 31 de outubro de 2015.

Local:  Rabeca Cultural – Avenida Dona Maria Franco Salgado 250 – Jd Atibaia, Sousas – Campinas.

Horário: início as 20hs

Investimento: R$45,00 (Quarenta e cinco reais)

Editora: 11Editora (www.11editora.com.br – 14 3032-2513)

Edição Original: 2015

ISBN: 978-85-69013-03-7

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