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quinta-feira, dezembro 25, 2025
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Coordenador de prevenção às drogas fala das conquistas realizadas

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Os próximos planos de Nelson Hossri são focados na candidatura a vereador

Nelson Hossri e Padre Haroldo
Nelson Hossri e Padre Haroldo

Em Campinas, os casos relacionados a dependência química não é diferente de outros lugares do Brasil, ocorre que a cidade se destaca pelo departamento especializado que atua com políticas publicas de prevenção às drogas, entre os serviços da Coordenadoria de Prevenção às Drogas destaca-se o programa “Recomeço” que já atendeu cerca de cinco mil pessoas, entre dependentes e codependentes.

Destes, a maioria são jovens de 18 a 23 anos. A segunda categoria com mais usuários é a de idades entre 24 e 28 anos, seguida de 39 a 43 anos. Os outros usuários têm idade até 58 anos. O perfil desses usuários se destaca para os poliusuarios de  álcool, cigarro, cocaína e maconha; seguido pelos usuários de álcool e cocaína; e álcool e crack; também existem os casos de usuários de uma única substancia, como o álcool.

Especialista em Dependência Química pela UNIFESP, Formado Direito, Idealizador do Movimento “Sou Feliz sem Drogas” e responsável pelos programas da Coordenadoria de Prevenção às Drogas junto a Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social de Campinas, Nelson Hossri faz, desde 2005, um importante trabalho de prevenção às drogas e tratamento aos dependentes químicos, familiares e a sociedade como um todo.

Segundo Nelson, a maior concentração de dependentes está nos lugares onde o tráfico é mais intenso, pois os fatores de risco prevalecem, é o caso da região central.

O programa é oferecido pela Prefeitura de Campinas para dependentes químicos que não tem como pagar por tratamento particular e são encaminhados ao Instituto Padre Haroldo.

 

Jornal Local: Como funciona seu trabalho junto ao Padre Haroldo?

Nelson Hossri: O Padre Haroldo é um ser humano especial e tem um grande significado na minha vida, sou suspeito para falar desse homem. Sempre me identifiquei com as causas sociais e desde que escolhi seguir esse caminho de ajudar as pessoas, ele participa ativamente do meu trabalho e consequentemente da minha vida. Ele é referência no assunto. Hoje sou voluntário de inúmeras entidades sociais de vários segmentos, desde aprendizes, dependência química, pessoas especiais, idosos e animais. Acredito que estamos de passagem nesse mundo e precisamos fazer o bem sempre. A convivência com o Padre Haroldo me ensina isso todos os dias. Eu me encontrei em ajudar o próximo! Hoje o nosso trabalho vai além das palestras educativas, está também no Programa Recomeço, que coordeno e repassa R$ 1.350,00 por mês por pessoa para o seu Instituto tratar esses dependentes de variadas drogas, do álcool ao crack.

 

JL: O que motivou o início desse trabalho de prevenção e recuperação de uso de drogas?

NH: Nasci e moro em Campinas. Me formei em Direito. Tão logo vivi o problema das drogas na família, o que me despertou interesse pela área, idealizei o Movimento “Sou Feliz sem Drogas”, em 2005, com o apadrinhamento do Padre Haroldo e mais alguns voluntários. Quem conhece algum dependente do álcool e outras drogas sabe do que estou falando. É uma luta árdua. Então comecei a estudar me especializei em Dependência Química pela UNIFESP, me formei pelo GRAUNA – Grupo de Recuperação e Apoio Urgente a Narcodependentes e Alcoolistas e me capacitei para ser conselheiro de liderança Comunitária pela SENAD (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas). Entendo esse trabalho como uma missão de vida, sou muito grato a Deus por ter conquistado políticas publicas que ajudam os que mais precisam. É muito gratificante. Tenho prazer em atender a sociedade e acredito que a política sendo utilizada para o bem comum é a melhor ferramenta para um país melhor.

 

 

JL:Como e quando surgiu a Coordenadoria de Prevenção às Drogas?

NH: Logo que me formei em Direito na Universidade de Ribeirão Preto, voltei para a minha terra Campinas. Através de muito estudo, percebi que o Brasil era carente de serviços de prevenção às drogas, e o Poder Público ficava a desejar em suas políticas públicas. Foi quando apresentei ao prefeito, em 2009, a sugestão de criarmos uma Secretaria, ou qualquer Departamento de Prevenção às Drogas. Juntos, criamos a Coordenadoria de Prevenção às Drogas, que desde então ficou encarregada de atribuições que oferecem palestras, grupos de amparo, até encaminhamentos para acolhimento em centro de recuperação. Campinas foi a segunda cidade no Brasil a ter uma Coordenadoria de Prevenção às Drogas – a primeira foi o Rio de Janeiro. Em 2013, recebemos do prefeito Jonas Donizette uma estrutura com excelentes profissionais e parceiros, o que nos possibilitou desenvolver varias ações que, graças a Deus, atendem e salvam mais vidas e famílias.

 

JL: Quais são as classes sociais atendidas pelo programa?

NH: Atendemos pessoas de todas as classes sociais. O programa não realiza avaliação socioeconômica. Sabemos que o problema das drogas pode atingir qualquer cidadão, seja rico ou pobre. Todos merecem a oportunidade de se tratar. Qualquer um pode ser vítima das drogas, mesmo aqueles que não a utilizam. O problema das drogas é o pior mal do século, em qualquer estatística a droga está em primeiro lugar, por exemplo: os maiores atos de violência e criminalidade são por consequência do uso e abuso das drogas, os maiores gastos na saúde pública também são por conta das drogas, as demissões vêm aumentando, a evasão escolar, a desestrutura familiar, as separações, os acidentes de trânsito. Precisamos atender todos, pois a droga não escolhe religião, raça e nem classe social.

 

JL: Existem usuários de Sousas e Joaquim Egídio no programa?

NH: Pessoas de todas as regiões de Campinas procuram pelos serviços da Coordenadoria de Prevenção às Drogas. A região que mais nos procura é a região sul, que engloba o bairro Campo Belo. Porém, pessoas das regiões mais favorecidas – incluindo Sousas e Joaquim Egídio, também nos procuram pedindo amparo. O primeiro distrito chegou a 249 procuras e o segundo distrito a 299 pessoas desde setembro de 2013. São números baixos perto das demais regiões, mas são números consideráveis tendo em vista a população da região. Em algumas oportunidades, realizamos trabalhos de prevenção às drogas junto às escolas de Sousas e Joaquim Egídio, mas sabemos que muitos dos casos vêm da zona rural. Pretendemos ampliar e realizar ações com mais frequência nessas regiões.

 

JL: Como a família pode identificar um usuário de drogas em casa?

NH: Existem vários aspectos para identificar um usuário de drogas, mas mudança de comportamento, humor e sensações são os pontos principais. Entretanto, existem outros sinais que também ajudam a detectar o uso abusivo de uma substância: o dependente das drogas costuma trocar os prazeres da vida, passa a se interessar apenas por amigos e ambientes que tenham a droga. A compulsão também é outro aspecto, muitos quando entram na fase da tolerância acabam não conseguindo mais manipular, pois é uma fase em que o dependente aumenta a quantidade do uso da droga para atingir o efeito anterior. Quando detectamos um usuário de drogas na família, o melhor caminho é pedir ajuda para um profissional da área.

 

JL: Quais são os procedimentos necessários antes da internação?

NH: Existem três modalidades de internação, todas necessitam de procedimentos tanto para o dependente, como também para os familiares. A internação voluntária se dá pelo consentimento do usuário; a internação involuntária é sem o consentimento do usuário, mas com solicitação de terceiro; e a internação compulsória é determinada pela Justiça. A família, em qualquer uma das três modalidades de internação, necessita ser amparada. E eu sugiro o grupo de ajuda Amor-Exigente para os familiares, onde semanalmente são compartilhadas situações por pessoas que também passam ou já passaram pelo problema. Isso colabora demais para que todos entendam e saibam lidar com a doença. Apoio de psicólogos especialistas na área também é recomendado.

JL: Quais os profissionais e serviços disponíveis durante a internação em Comunidades Terapêuticas?

NH: Sou a favor de variados serviços para tratar o dependente, ele tem que escolher e se identificar. Antes precisamos convencê-los que existe uma doença chamada dependência química. As comunidades terapêuticas são excelentes ferramentas que surgiram a partir das observações clínicas de Maxwell Jones, em 1953. Psiquiatra do exército inglês, Jones começou a desenvolver esse modelo para soldados com traumas decorrentes da II Guerra Mundial. Com esse propósito, organizou um serviço de internação baseado em abordagens educativas, encenações dramáticas e discussões, dentro de um ambiente pautado pelas normas de convivência em grupo. Posteriormente, ampliou seu modelo para outras patologias crônicas, entre elas a dependência das drogas. Com a evolução, o quadro de profissionais mudou, passaram a servir também para abordagens baseadas na psicanálise, na terapia existencial e cognitivo-comportamental. Muitas comunidades passaram a ter profissionais especializados, entre eles médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos, atendentes, setor de triagem, acolhimento e terapeutas ocupacionais. Novas técnicas, tais como o aprendizado social e o treinamento de habilidades, foram instituídas em alguns lugares. Houve, igualmente, uma maior investigação científica acerca de sua eficácia, dos pacientes mais indicados para esse ambiente de tratamento, do papel dos profissionais envolvidos, entre outras coisas.

 

JL: Qual é o tempo médio que um usuário fica internado?

NH: Costumo dizer que a pior droga é aquela que o usuário usa. O perfil do brasileiro atualmente é de poliusuário (uso de mais de uma droga), e o prazo determinado pelos especialistas é de seis meses, sendo quatro meses para a desintoxicação e dois meses para a ressocialização. Existe toda uma programação com atividades físicas, espiritualidade, oficinas, cursos, educação, laborterapia e outras ações que venham resgatar a dignidade, responsabilidade, moral e autoestima do dependente.

 

JL: Quanto custa o tratamento e a internação?

NH: O tratamento via clinica particular sai em medira R$ 3,500,00 /mês. Por isso desenvolvemos esse trabalho gratuito em parceria com o Governo do Estado, para que qualquer dependente das drogas que deseje um tratamento tenha essa oportunidade, é um direito do ser humano viver com dignidade. Quando falamos em dinheiro público, temos que ter muito cuidado, pois não podemos errar. Utilizamos de um sistema via biometria que nos possibilita registrar as digitais de cada interno inserido no programa, ou seja, todos os dias o dependente precisa marcar presença, caso não marque o dinheiro não é repassado. O convênio é junto ao Governo do Estado de São Paulo e Prefeitura Municipal de Campinas. Repassamos R$ 1.350,00 reais por mês-dependente, R$ 45,00 reais por dia. Hoje temos praticamente 80% das vagas do Instituto Padre Haroldo.

 

JL: Os usuários são identificados ou é mantido o sigilo?

NH: Se tem uma coisa que prezo é o sigilo, o anonimato de cada um, até porque ninguém quer ser conhecido como cheirador, cachaceiro, maconheiro ou drogado. Ninguém usa drogas esperando um dia se tornar dependente, é uma doença terrível, mental, progressiva, física, espiritual e incurável, porém tem controle. Grande parte da sociedade ainda descrimina os dependentes, até mesmo para o reingresso no mercado de trabalho, por isso não os identificamos a não ser que o mesmo permita quebrar o anonimato.

 

JL: A Coordenadoria apoia vários programas de prevenção e tratamento de drogas. Como funciona o projeto Recomeço?

NH: Sempre achei inadmissível uma cidade como Campinas não ter um programa de tratamento que atendesse gratuitamente os dependentes do álcool e outras drogas em Comunidade Terapêutica, tendo em vista que todas as frentes devem ser trabalhadas: prevenção, redução de danos, combate ao tráfico e tratamento. Antes, os dependentes das drogas precisavam recorrer às clínicas particulares, que cobravam cerca de cinco mil reais mensais. Foi quando conquistamos, em 2013, o Programa Recomeço, tratamento totalmente gratuito, uma parceria do governo do Estado de São Paulo com a Prefeitura de Campinas, que possibilita qualquer cidadão campineiro, maior de 18 anos, e que aceite o tratamento voluntário ficar internado na Comunidade do Padre Haroldo, instituição conveniada. O dinheiro não passa na mão do dependente e nem de sua família. A verba é de uso exclusivo para o tratamento. Criamos um fluxo, onde o primeiro estágio é se dirigir à Coordenadoria de Prevenção às Drogas, onde a pessoa recebe os procedimentos junto aos exames necessários, triagem com a psicóloga e a assistente social. Com os resultados dos exames médicos realizados na rede de saúde, a pessoa passa por uma entrevista de perfil e recebe a aprovação ou não para inserção no tratamento por até 6 meses. A família também é amparada durante e após o tratamento do dependente. Prezamos de fato a vontade do indivíduo. Quer ajuda? Vamos ajudar. É um programa completo.

 

JL: Como funciona o projeto Papo de mãe e gestantes para mulheres que querem engravidar?

NH: O problema do álcool e outras drogas sempre foi visto dentro da cultura brasileira como um problema do homem, mas as estatísticas comprovam o alto índice de mulheres dependentes de inúmeras substâncias. De cada 10 pessoas que nos procuram com problemas relacionados ao álcool, três são mulheres. Os casos que envolvem gestantes nos preocupam e por esse motivo criei o Programa “Papo de Mãe”, totalmente sigiloso, exclusivo para as mulheres que pretendem engravidar e para aquelas que já são gestantes. Dentro do programa realizamos um grupo e também o atendimento individual, informamos e orientamos sobre os malefícios do uso e abuso do álcool e drogas. Reforçamos os problemas gerados, como atraso no crescimento intrauterino, parto prematuro, problema respiratório e até mesmo a possibilidade de a criança vir a óbito. Para aquelas mulheres que já apresentam estado de vulnerabilidade ou sintomas da dependência, encaminhamos para a Casa da Gestante, onde podem ficar por até dois anos amparadas por profissionais capacitados em suas áreas.

 

JL: Como funciona o tratamento dos dependentes com os cachorros?

NH: Esse é um sonho antigo. Criei um projeto que venho apresentando com sucesso aos defensores da causa animal, sociedade civil e em breve quero apresentar ao prefeito. Todo mundo sabe que o cachorro é o melhor amigo do ser humano, e as pesquisas mostram resultados positivos em relação ao animal na terapia de inúmeras doenças. O projeto com os cães tem como objetivo utilizar da Cinoterapia, uma nova abordagem terapêutica que tem como diferencial o uso de cães como co-terapeutas no tratamento físico, psíquico e emocional de pessoas portadoras da doença da dependência do álcool, crack e outras drogas. Inúmeras situações podem melhorar na qualidade de vida do dependente que necessita ser ressocializado e conseguir a abstinência, redução dos problemas psicológicos, de relacionamento social, de afetividade, agressividade e a melhora da aprendizagem. Percebi a necessidade desse projeto, quando um morador de rua dependente do crack me solicitou tratamento, e percebi que sua família era um cachorro de estimação, que foi para um abrigo temporário enquanto o seu dono foi para o tratamento. A mudança comportamental do paciente foi muito forte no primeiro mês, quando detectamos que o mesmo queria (e precisava) da visita do cachorro. Abrimos uma exceção, pois as clínicas não têm estrutura para receber os animais de estimação dos pacientes, em especial das pessoas em situação de rua. Ao receber a visita do cão de estimação, tudo se normalizou e o tratamento se fidelizou, mas por outras consequências o dependente concluiu o tratamento sem completar os seis meses propostos pelo projeto.

 

JL: Como é o trabalho de prevenção do uso de drogas como palestras nas escolas e quais outros tipos de ações?

NH: Quando iniciei os trabalhos de prevenção às drogas em Campinas em 2005, prezei pela oportunidade de toda população ser beneficiada com a informação sobre os possíveis prejuízos do uso e abuso das drogas licitas e ilícitas. Acredito que o abuso e a dependência das drogas é um grande problema enfrentado por toda a sociedade. Além dos prejuízos sociais, as drogas causam graves distúrbios físicos nos seus usuários. O conhecimento dos efeitos danosos causados pelas drogas na saúde do indivíduo pode ajudar na prevenção do seu uso.

A primeira região que desenvolvi o trabalho foi na região do bairro São Marcos. Lá me deparei com um pai de 43 anos que alegou não saber que álcool era uma droga e que colocava dois dedos de pinga misturados com leite para o filho de dois anos dormir. Percebi aí a importância do trabalho de prevenção. Foi quando desenvolvi palestras educativas para escolas, igrejas, empresas, canteiros de obras, entre outros lugares que percorremos. Tão logo veio a conquista do Programa Recomeço,a criação dos grupos de família e dependentes, atendimento aos pais, disponibilidade de bolsas de cursos para interessados em atuar na área e ajudarem na causa, o programa “Papo de Mãe”, a campanha “Não de esmola. De cidadania”, o disk 132 que atende 24h para orientação de serviços de prevenção às drogas e a Coordenadoria Itinerante nos bairros. Realizamos anualmente no município a Semana de Prevenção às Drogas, sempre com a participação de diversos especialistas da área e por fim o projeto dos cães para ajudarem no tratamento dos dependentes.

 

JL: Qual a sua participação no programa “Não dê esmola, dê cidadania”?

NH: Criei essa campanha depois de muito estudo e conversa com pessoas que também entendem do assunto. Analisei perfis diferentes de pessoas em situação de rua: existe o morador de rua romântico (que não usa drogas e vive na rua por ser contra o sistema), os traficantes que fingem ser moradores de rua para traficar nos sinaleiros, os profissionais (que usam o ato de pedir esmola como uma profissão – e chegam a receber uma média de R$200,00 por dia) e os moradores de rua que têm problemas psiquiátricos, foram despejados ou abandonados, por exemplo.  Podemos dizer que pelo menos 80% dessas pessoas estão nas ruas por conta do uso e abuso do álcool, crack e outras drogas. A ideia da campanha sempre foi a de conscientizar a população em geral sobre os prejuízos que uma simples moeda pode causar.

Relatamos que a esmola é a ação suficiente para incentivar as pessoas a continuarem nas ruas. Sustenta o vício dos usuários e dependentes das drogas e atrapalha o trabalho de quem une esforços para dar uma nova perspectiva para as vidas dessas pessoas. É um direito de todos viver em condições dignas.

A Prefeitura de Campinas oferece serviços de busca ativa e abordagem dessas pessoas, atendimento especializado via SARES (Oferta de atendimento especializado para pessoas em situação de rua), o acolhimento também é garantido a essa população através do SAMIN (Serviço de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Mendicante), a Casa da Cidadania tem um espaço que oferta refeições e a Coordenadoria de Prevenção às Drogas o encaminhamento para tratamento do álcool e outras drogas.

 

JL: Quantos usuários existem hoje nos programas? E qual a porcentagem de recuperação deles?

NH: O número de pessoas que procuram os serviços da Coordenadoria de Prevenção às Drogas já ultrapassa os seis mil, mas nem todas necessitam da internação em centro de recuperação, cerca de 670 dependentes do álcool, crack e outras drogas já foram para o tratamento via Programa Recomeço. Temos um índice positivo na recuperação: de cada 10 encaminhados, 6 passam a ficar limpos e se manter na abstinência. Não tem como acompanhar todos os casos, mas a permanência da família e do dependente após o tratamento junto aos grupos de amparo e manutenção é fundamental para esse sucesso. Costumamos apresentar um cardápio de serviços, e a internação é o ultimo caso. O dependente do álcool e outras drogas e a família precisam, antes de tudo, entender a doença e passar por um atendimento psicológico. Muitos casos quando detectados no início são resolvidos apenas com participações em grupos e a aplicação de algumas estratégias que favorecem os fatores de proteção. É um trabalho em que não existe receita, mas é uma doença onde a espiritualidade é essencial para manter o controle e resgatar a normalidade e naturalidade da vida.

 

JL: Você preza muito pela diferença do uso da maconha em diversos aspectos. Quais são eles?

NH: Sou firmemente contrário à liberação da maconha no Brasil. Falo como especialista em dependência química, a experiência de quase 12 anos na área me permite afirmar que a epidemia das drogas se constitui no maior problema de saúde pública, social e de segurança do país. Com a liberação, aumentará o número de dependentes químicos. Nos últimos 200 anos já existiram verdadeiras tragédias sociais em todos os locais onde as drogas foram liberadas, além do aumento de transtornos mentais decorrentes da dependência, sem falar na destruição de milhões de famílias, devastadas quando um de seus membros se torna dependente. Quem já viveu de perto os males de ter um dependente na família sabe do que falo. Por isso faço questão de reforçar as diferenças. Sou favorável para “uso” medicinal”, que na verdade não é a maconha, mas sim substâncias da maconha, o Tetrahidrocanabinol e Canabidiol, considerando que são substâncias que podem aliviar desconfortos de inúmeras doenças e são utilizadas com uma finalidade e uma prescrição médica. São utilizadas no mundo inteiro para o tratamento de doenças graves como epilepsia refratária, mal de Parkinson, esclerose múltipla, entre outras doenças. Já a “maconha recreativa” é totalmente diferente, sou fervorosamente contra, primeiro porque se trata de uma droga perturbadora do sistema nervoso central, pois o uso crônico de maconha está associado a problemas respiratórios, visto que a fumaça é muito irritante, seu teor de alcatrão é muito alto (maior que do tabaco) e contém benzopireno, substância cancerígena. Outras consequências do fumo, semelhantes ao tabaco, são: hipertensão, asma, bronquite, cânceres, doenças cardíacas e doenças crônicas obstrutivas aéreas. Há consequências também na fertilidade do homem por haver uma queda de 50 a 60% na produção de testosterona. E reforço os malefícios dessa droga que aparenta ser inofensiva, como uma porta de entrada para outras drogas com potencial maior.

 

JL:Você considera que o Brasil perdeu a guerra para as drogas?

NH: Não perdeu, pois ainda não tivemos a guerra. A guerra contra as drogas não é a guerra do “sobe e desce morro”. A guerra tem que ser com os nossos países vizinhos, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Equador e Venezuela que são produtores. A Colômbia era responsável por 50% da plantação mundial de coca, enquanto o Peru produziu 33% e a Bolívia 17%. No Equador e na Venezuela, já se percebe um aumento do cultivo, mesmo que em pequena escala. O Brasil não é um país produtor de drogas e sim de consumidores, ehoje estamos em 1º lugar no ranking de usuários de cracke somos o 5º em consumo de cocaína. Por infelicidade, além de sermos vizinhos de países produtores de drogas, as nossas fronteiras terrestre e marítima são extensas e não têm fiscalização severa. Quando ocorrer essa guerra, iremos vencer. Eu acredito.

 

JL:Você desenvolveu todo o trabalho desde o início, teve várias conquistas nas realizações de seus projetos, e hoje, você é uma referência nacional no programa de prevenção as drogas. Conte um pouco sobre o início do trabalho e suas dificuldades.

NH: O problema das drogas é o pior problema do país, todas as esferas são atingidas por esse mal, desde os maiores atos de violência sexual, física, verbal, doméstica, como os maiores atos de criminalidade por consequência do uso e abuso das drogas, o problema na educação faz com que professores e funcionários de escolas sejam vítimas dos jovens usuários das drogas, potencializando também a evasão escolar, pois os traficantes estão adotando os nossos jovens. É fácil observarmos empresas demitindo funcionários dependentes do álcool e outras drogas, eles representam 50% das faltas, usam mais diárias hospitalares, 70% dos acidentes de trânsito estão relacionados com motoristas sob efeito de álcool e outras drogas, famílias se desestruturam por causa de um único dependente, os maiores gastos na saúde pública são por conta das drogas, entre outras situações. Diante disso, me especializei na área da dependência química e conseguimos aplicar e ter sucesso em inúmeras políticas públicas. O mais importante de todos vêm sendo o Programa Recomeço e o Grupo Família. Campinas foi a primeira cidade do Estado de São Paulo a desenvolver esse trabalho, oferecendo de forma gratuita o tratamento para o dependente das drogas e também para as pessoas mais próximas que adoecem também. O programa chamou a atenção e inúmeros Estados já nos procuraram para conhecer melhor os serviços oferecidos. O sucesso com o Programa Recomeço me incentivou a desenvolver mais ações de prevenção às drogas, como o programa “Papo de Mãe” e a Campanha “Não dê esmola, Dê Cidadania”, além de outras políticas que, a médio prazo, irão contribuir para evitar, reduzir e amenizar todas as tragédias mencionadas pelas drogas.

 

JL: Como posso solicitar palestras?

NH: Para solicitar palestras educativas de prevenção ao uso de drogas é muito simples. Nosso contato é feito diretamente por e-mail nelson.hossri@gmail.com e atendemos escolas públicas e particulares, igrejas, associações, SIPATs, empresas, sindicatos, canteiros de obras etc.

 

Serviço 132
O serviço 132 é gratuito e funciona 24 horas por dia para todas as regiões de Campinas. O atendimento é anônimo e confidencial, fornece orientações e informações sobre drogas por telefone.

Além de orientar e informar sobre drogas, o serviço também presta aconselhamento aos familiares que possuem parentes em sofrimento em decorrência do uso ou do abuso de drogas. O atendimento presta assistência à saúde via telefone, faz acompanhamento de casos e informa locais de tratamento conforme a conveniência da pessoa que procura o serviço.

 

 

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