A Índia é um país fascinante, cheio de contrastes. Sua população é em sua grande maioria hinduísta, mas tem no centro de sua bandeira roda do Dharma que é um símbolo budista e, além disso, o seu principal ícone -o belíssimo Taj Mahal- foi construído por um rei muçulmano.
Visitar o Taj Mahal é como receber uma aula de harmonia. Esse é o impacto produzido pela maravilhosa simetria dessa obra monumental tida como uma das 7 maravilhas do mundo. Todo feito de mármore, ele nos recebe ora brilhando sob uma chuva de sol, ora surgindo da neblina como um gigante onírico que amanhece junto com o dia.
As pessoas que me acompanham na viagem, reagem com lágrimas, silêncios extasiados ou exclamações de admiração. A visita é um encontro com a Beleza que nutre e revitaliza o lado mais sensível e belo do nosso ser.
Mas, como nada é absoluto neste mundo relativo (e essa é a única afirmação absoluta que não pode ser negada), tanta beleza tem suas raízes –como a flor do lótus– na lama da dor e do desespero. O Taj Mahal não é nem um templo nem um palácio. É o túmulo da esposa amada do rei Shah Jahan. A sua dor foi tão grande após a morte de sua esposa (ocorrida durante o seu décimo quarto parto) que só encontrou forças para sair do seu estado depressivo ao conceber uma obra que imortalizasse o seu amor pela amada. Assim ele chamou os artesãos mais habilidosos de toda a Índia e dos reinos vizinhos e fez trazer pedras preciosas e semi-preciosas de diversos lugares da Ásia. Mas: quem seria capaz de imortalizar o seu sonho?
Conta-se que ele convidou para um jantar real o arquiteto escolhido para realizar a obra. O rei recebeu o arquiteto e sua esposa com toda a pompa necessária. Durante o jantar, explicou o seu desejo e a necessidade de que o arquiteto fosse capaz de expressar a intensidade infinita do seu amor. Ele pensava que nenhum arquiteto, por mais habilidoso que fosse tecnicamente, seria capaz de realizar a obra a não ser que conhecesse -como ele- os abismos da dor e do desespero, a menos que encontrasse nas profundezas da tristeza e da desolação a força criadora mais excelsa. Tendo assim ponderado, ordenou a seus guardas que matassem de imediato a esposa do arquiteto.
Ação chocante e certamente causadora de infinita dor. Hoje, olhando a magnificência e perfeição do Taj Mahal, podemos inferir que a artimanha infame surtiu o efeito desejado.
A história diz que, fascinado pelo resultado, o rei quis realizar, do outro lado do rio que beira o Taj Mahal, uma outra construção idêntica, só que em mármore negro. Ela seria o seu túmulo.
Sabendo das intenções do rei, que iriam esvaziar os cofres exauridos do reino, seu filho Aurangzeb assumiu o trono e trancou o pai numa ala do palácio. Restrito a essa ala do seu luxuoso palácio, Shah Jahan passou os últimos anos de sua vida, até falecer em 1666, contemplando à distância a silhueta esbelta e cheia de magia do Taj Mahal.
Assim, podemos ver como os opostos se encontram, um dando origem ao outro: prazer e dor, encontro e despedida, horror e beleza, ódio e amor…
É dessa alternância incessante, dessa dança sufocante dos opostos que os sábios indianos buscaram por séculos a libertação. E foi ansiando responder à questão “Como estar em paz em todos os momentos da vida, os agradáveis e os desagradáveis?” que surgiram estilos de vida, visões filosóficas e práticas como as do Yoga e do Vedanta.
Professor Andrés De Nuccio
Diretor do Isvara Instituto de Yoga