Falta de comunicação formal do Executivo paralisa indicação ao STF e acirra tensão institucional
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), suspendeu nesta terça-feira (2) o calendário da sabatina de Jorge Messias, escolhido pelo governo para ocupar vaga no Supremo Tribunal Federal, alegando que o Planalto não enviou a mensagem oficial de indicação.
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A decisão interrompe a tramitação que previa a leitura do parecer nesta quarta-feira (3) e a sabatina no dia 10. Em nota, Alcolumbre afirmou que a ausência do documento escrito, apesar da publicação no Diário Oficial, inviabiliza a continuidade do processo. O recuo expõe uma fricção incomum entre Executivo e Senado num momento em que o governo tenta acelerar a escolha do novo ministro antes do recesso.

Segundo Alcolumbre, o calendário seguia o padrão das indicações anteriores, mas a falta da mensagem formal tornou-se um obstáculo regimental. A paralisação é classificada por ele como um episódio sem precedentes e atribuída exclusivamente ao governo, que teria falhado em cumprir etapas básicas.
O Planalto ainda não informou por que a comunicação não foi enviada ao Senado. Interlocutores veem divergências internas sobre o ritmo da indicação e pressão de grupos que defendem mais tempo para avaliar o nome de Messias.
O indicado tem 45 anos e poderá permanecer no STF por até três décadas. Para assumir a vaga deixada por Luís Roberto Barroso, Messias precisa ser aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e, em seguida, receber ao menos 41 votos no plenário.
A suspensão frustra o plano de concluir o processo ainda em 2025, como pretendia a cúpula do Senado. A indefinição instala incerteza sobre o calendário legislativo e abre margem para disputas políticas por influência na composição da Corte.
O que há por trás do atraso
A interrupção reaviva controvérsias sobre o papel de Alcolumbre nas sabatinas do Supremo. Ele já foi protagonista de outras postergadas estratégicas e, agora, volta a controlar o ritmo de uma indicação sensível ao governo. Nos bastidores, senadores afirmam que o presidente da Casa pretende ampliar sua margem de negociação com o Planalto para votações de final de ano e indicar descontentamento com articulações paralelas conduzidas por ministros do governo junto à CCJ.
Há também movimentações de grupos que querem avaliar mais detalhadamente o perfil de Messias, sobretudo no campo empresarial, preocupado com o posicionamento do indicado em temas tributários e regulatórios. Parlamentares relataram aumento de consultas e pressão para adiar o processo até que esses setores consolidem uma leitura mais clara sobre o potencial novo ministro.
Riscos regimentais e impasses futuros
O cancelamento sob a justificativa de evitar vício formal abre espaço para novas contestações. O envio tardio da mensagem pode comprimir prazos e gerar disputas sobre a legalidade de uma sabatina realizada próximo ao recesso. Caso a análise avance em ritmo acelerado, aliados de oposição cogitam apontar atropelo regimental, enquanto governistas discutem se vão insistir em concluir o processo ainda este ano ou aceitar a prorrogação para 2026.
Além disso, o episódio pressiona a articulação política do Planalto, que terá de recompor diálogo com a cúpula do Senado e explicar a falha administrativa. O atraso alimenta interpretações de que o governo enfrenta dificuldade em coordenar suas próprias nomeações, oferecendo munição à oposição e criando instabilidade no debate sobre a composição do STF.




