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quinta-feira, novembro 21, 2024

Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana 2007

Data:

Evento mostra, através da história de Chico Rei, a contribuição da

cultura negra na construção da identidade cultural brasileira

Foi divulgada, ontem, 04/06, a programação do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes. O evento receberá, de 8 a 29 de julho, um extenso conjunto de atrações, todas voltadas para o tema central da festividade, que este ano homenageia a cultura negra. Sob a égide de Chico Rei, o lendário escravo que comprou a própria alforria e, com seu trabalho, libertou centenas de outros cativos, o Festival reconhece a importância da cultura afro-brasileira para a formação das duas cidades e para a construção da identidade nacional. Em 21 dias de duração, sete a mais que em 2006, o Festival oferecerá 68 oficinas e 400 vagas, divididas em Literatura, Artes Plásticas, Artes Visuais, Artes Cênicas, Música, Patrimônio, e Infanto-Juvenil.

O anúncio foi feito durante entrevista coletiva, que reuniu o reitor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), João Luiz Martins; o secretário de Turismo, Patrimônio e Cultura de Ouro Preto, Vitório Lanari; o vice-prefeito de Mariana, Roque Camilo; a representante da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais, Silvana Pessoa; os coordenadores do evento, Guiomar de Grammont e Fábio Faversani; além de representantes dos patrocinadores do Festival, Marco Antônio Pepino, da Gerdau Açominas; e Marlene Machado, da Companhia Vale do Rio Doce.

De acordo com os organizadores, o Festival se baseia, sobretudo, no crescimento das cidades que abrigam o evento e no desenvolvimento de seus moradores, por meio da democratização da cultura e da possibilidade de geração de renda, uma vez que o fluxo de turistas durante o período permite a exploração das potencialidades da região. Para o vice-prefeito de Mariana, Roque Camilo, a integração entre as cidades é um ponto que merece ser lembrado. “Responsabilidade social com enfoque em cultura se tornou uma das marcas de Ouro Preto e Mariana, e o Festival representa bem isso”, comenta. A opinião é compartilhada pelo secretário Vitório Lanari. “Temos orgulho em dizer que, hoje, 10 km unem nossos municípios, fazendo com que nossas ações estejam sempre em harmonia”, acredita.

Além de todos esses aspectos, a coordenadora Guiomar de Grammont lembra que a diversidade cultural existente nas duas cidades permite que o Festival abarque um número cada vez maior de ações. “Isso é estimulado, principalmente, pelo histórico que circunda a cidade. Esse ano, teremos um universo ainda maior a ser explorado, pois a contribuição que a cultura negra, tema desta edição do evento, oferece é muito grande”, analisa. O reitor João Luiz Martins fortaleceu a opinião da coordenadora, enfatizando a necessidade de promover um resgate da história de Ouro Preto e Mariana com a ajuda das atividades desenvolvidas durante o Festival.

O coordenador e pró-reitor de Extensão da UFOP, Fábio Faversani, destaca a importância desse diálogo entre o passado e o futuro. Ele lembra que essa atitude inspira também a forma como o Festival se apresenta ao público, já que a integração entre as áreas é essencial para que os participantes possam desfrutar do evento em sua totalidade. “Nossa busca é pela diversificação de atrações e de linguagens; é preciso explorar todas as possibilidades”, afirma, ao apontar para as inovações que se apresentam nessa edição do evento.

Curadorias serão feitas por instituições

Uma das principais mudanças fica por conta das curadorias. Algumas áreas como Artes Plásticas e Artes Visuais terão curadorias realizadas por instituições e não por uma pessoa apenas, seguindo tendência iniciada no último Festival de Inverno. Assim, a Fundação de Arte de Ouro Preto, FAOP e o Comitê Aberto de Cinema, Comcine, são os responsáveis pela escolha dos eventos e oficinas das duas áreas. Segundo um dos coordenadores do evento, Fábio Faversani, as curadorias em equipe traduzem a característica de diversidade do evento, pois permitem uma multiplicidade maior de olhares e leituras.

Artes Cênicas também passou por transformações em relação ao ano passado, quando todas as oficinas eram destinadas a pessoas com experiência comprovada no ramo. Agora, os iniciantes também poderão se aventurar em oficinas como Dança e Perfomance Afro-brasileira, além de Manipulação de bonecos e Maquiagem de Época. O curador da área, Flaviano Souza e Silva, diz que buscou suprir a demanda de artistas locais e da faculdade de Artes Cênicas. “Espero que o público das oficinas e espetáculos se dedique à multiplicação do conteúdo artístico e cultural trabalhado e transforme dessa forma, a experiência individual em experiência coletiva”.

Literatura, área que volta ao evento depois de dois anos longe da programação das oficinas, vem para suprir a demanda gerada pelo Fórum das Letras de Ouro Preto, evento que ocorre anualmente, em novembro, também com realização da UFOP. A coordenadora Guiomar de Grammont ressalta a importância desse retorno, que irá contribuir de maneira efetiva para a difusão ainda maior da leitura. Os participantes que escolherem as letras no Festival de Inverno terão, além das oficinas, a opção de participar do Seminário de Tradução, Vanguarda e Modernismos. A área de Literatura trará aos espaços culturais, bares e restaurantes das duas cidades saraus poéticos, em que jovens artistas e outros já consagrados recitarão poesias nas noites frias do mês de julho.

O curador da área de Música, Chiquinho de Assis, pretende trazer ao Festival de Inverno o som dos tambores e das choromelas, que, arranjados em busca de uma harmonia popular, desfilarão pelas ladeiras e ruelas da cidade em nome da memória e da ação urgente de preservar agindo. Com oficinas de percussão, canto, dança e ritmos africanos, a área se volta também para a produção técnica com a oficina de Produção, gravação e edição, e para a reflexão musical, editando o III Encontro de Musicologia Histórica e Etnomusicologia.

A área de Patrimônio vai trabalhar um conceito bastante amplo do tema. “Hoje, considera-se patrimônio não apenas o que é antigo, mas tudo aquilo que culturalmente expressa a identidade de uma comunidade”, diz Celina Albano, curadora da área. Partindo dessa premissa, a área volta seu olhar para a culinária e prazeres da mesa, com duas oficinas de gastronomia. A memória também terá atenção especial com a oficina de Conservação de livros. O Seminário Raça e Identidade: Diálogos pela igualdade abre a semana de oficinas propondo uma reflexão acerca das diferenças culturais.

A curadoria Infanto-Juvenil vem imprimir colorido e magia para o Festival com seu espaço destinado ao mundo circense, na oficina Curto-Circuito do Grupo Trampulim, e em várias oficinas de dança, quadrinhos e criatividade. Para César Teixeira, que divide a curadoria pelo segundo ano com Adriana Mel, as oficinas e espetáculos da área serão o espaço certo para os participantes vivenciarem, de forma lúdica, diferentes linguagens e experiências estéticas baseadas na diversidade cultural e artística de grupos e pessoas de referência.

O ponto em comum a todas as áreas foi a inspiração trazida pelo tema do evento, Chico Rei e a Cultura Afro-brasileira, que foi escolhido através de voto popular, durante o Festival de Inverno de 2006. O personagem foi o norteador do conceito de várias das oficinas e seminários, que buscaram, através da história comovente dessa figura lendária, homenageada em diversos rituais e festas de Minas Gerais, marcar a contribuição da cultura negra para a construção da identidade brasileira.

Personagem – Nascido no Congo com o nome “Galanga”, Chico Rei era um monarca guerreiro e sumo-sacerdote do deus pagão Zambi-Apungo. Foi capturado com toda a corte por comerciantes portugueses de escravos e vendido com o filho Muzinga no Rio de Janeiro, de onde foi levado para Ouro Preto em 1740.

Depois de servir cinco anos como escravo, Chico comprou sua carta de alforria, libertou o filho, conseguiu comprar uma mina de ouro supostamente esgotada e, com o trabalho na mineração, alforriou outros 400 cativos, entre os quais os integrantes da sua corte africana. Aproveitando, habitualmente, uma brecha no sistema colonial, Chico, um homem inteligente e enérgico, tornou-se rei novamente no exílio, com direito a cetro de ouro, coroa e palácio real.

Com seu carisma e determinação, o rei ex-escravo, que trabalhava como todos nas minas de ouro, se tornou, também, um homem rico e respeitado, que deixou 42 potes, com aproximadamente 100 quilos do metal precioso, ao morrer, em 1781, aos 72 anos.

Música negra marca calendário de eventos

Durante todo o mês de Julho, vários artistas passarão pelas duas cidades-sede do Festival de Inverno. A programação musical começa a partir da segunda semana do evento e a exemplo das oficinas, a escolha dos grupos que se apresentarão no evento, primou pela diversidade.

A programação musical será inaugurada pelo grupo Teatro Mágico que faz show em Ouro Preto no dia 14/07. O cantor Toni Garrido marca presença com sua banda em Mariana no dia 16/07. No dia 20/07, o grupo A Barca se apresenta em Ouro Preto, seguido de BNegão e os Seletores de Freqüência que também fazem show na cidade na mesma data.

No dia 21/07 é a vez do grupo nordestino Cordel do Fogo Encantado se apresentar em Ouro Preto. O grupo Berimbrown faz shows nas duas cidades: em Mariana, no dia 21/07 e em Ouro Preto, no dia 22/07. Ainda no dia 22/07, chega à Mariana Marcus Viana e a Orkestra Transfônica.

A Orquestra Tabajara volta se apresentar no Festival de Inverno, em duas datas: dia 27/07 em Ouro Preto e dia 28/07 em Mariana. O Grupo Farofa Carioca faz apresentação no penúltimo dia do evento, dia 28/07 em Ouro Preto. No dia 29/07, para encerrar o Festival de Inverno, chega Sandra de Sá, que se apresenta em Ouro Preto com o show MPB – Música Preta Brasileira.

Artes Cênicas traz grupos de destaque no país

Quem está em busca de novidades na área de Artes Cênicas, terá durante o Festival de Inverno, um ótimo período para se atualizar com o que há de melhor na dramaturgia do país.

O solo “Primeiro Amor” é o espetáculo que inaugura as apresentações da área, com estréia no dia 14/07, em Ouro Preto. A peça rendeu o Prêmio Shell 2006 – SP de melhor ator para Marat Descartes. O Giramundo com o \”O auto das pastorinhas\” se apresenta no dia 14/07 em Mariana e 15/07 em Ouro Preto.

No dia 17/07, chega a Ouro Preto a atriz Clarice Niskier, vencedora do Prêmio Shell 2006 – RJ com o solo \”A alma imoral\”. O Grupo Galpão volta à Ouro Preto com o espetáculo \”Pequenos Milagres\”, em duas apresentações no dia 19/07.

O grupo Moitará, um dos mais importantes grupos de teatro de máscara do país, se apresenta em Ouro Preto no dia 23/07, com o espetáculo \”Quiprocó\”. A atriz Rita Clemente apresenta o espetáculo solo \”Dias Felizes\” no dia 24/07, em Ouro Preto. Vindo de Campinas para também se apresentar em Ouro Preto, o grupo referência em artes cênicas Lume traz o espetáculo \”O Sopro\” no dia 26/07.

O Balé de Rua de Uberlândia se apresenta com o espetáculo \”O Corpo Negro na Dança\” dia 26/07 em Ouro Preto e dia 27/07 em Mariana. Dia 28/07 é a vez da Cia Espanca! que chega a Ouro Preto com o espetáculo \”Amores surdos\”. Também está confirmada a apresentação do Pia Fraus, um dos mais conceituados grupos de teatro de bonecos do país, com o espetáculo \”100 Shakespeare\”.

Artes Plásticas aposta em exposições coletivas com técnicas variadas

Fazer arte nem sempre é uma ação solitária. Com esse pensamento, a curadoria de Artes Plásticas convidou artistas a se unirem em algumas produções coletivas que serão expostas ao público durante o Festival de Inverno. O Centro de Artes e Convenções da UFOP recebe, de 08 a 29/07, a exposição ressonâncias@rtesnegr (as). Com curadoria do artista plástico Antônio Sérgio Moreira, essa exposição unirá trabalhos de escultura, fotografia, vídeo, objeto, performance e instalação de vários artistas consagrados.

Em Mariana, a partir do dia 09/07, acontece a exposição coletiva Prato Feito, onde vários artistas locais irão expor o resultado da experiência de fazer arte em pratos de cerâmica. A exposição será realizada no Museu Casa Alphonsus de Guimaraens.

No mesmo espaço, será realizada a exposição coletiva de serigrafia Mariana palavra – imagem – memória, de 20 a 29/07. De 14 a 29/07, a Câmara Municipal de Mariana receberá a exposição Diáspora Negra: resistência e ousadia.

O artista mineiro Guilherme Mansur se inspirou em um dos maiores símbolos de patriotismo e ao idealizar e criar a exposição Bandeiras: Territórios Imaginários, que será realizada durante todo o Festival. No dia 10/07, o artista Jorge dos Anjos abre a exposição de esculturas em madeira e ferro no Centro Cultural e Turístico do Sistema FIEMG.

As gravuras também terão espaço no evento com a exposição da artista plástica Rosana Paulino que será realizada na Fundação de Arte de Ouro Preto, no período de 12/07 a 05/08.

Filmes africanos dão o tom das mostras de cinema

Em Ouro Preto, o Cine Vila Rica será palco de algumas mostras realizadas pela curadoria de Artes Visuais. O cinema africano terá espaço garantido com duas mostras que exibirão um pouco da cultura e costumes de vários países do continente.

Uma das mostras confirmadas é sobre o cineasta Jean Rouch que produziu vários documentários em solo africano. Ao todo serão exibidos 6 filmes. Um deles é um documentário sobre o cineasta, e os outros cinco são documentários produzidos e gravados na África. Outra mostra, que segue a mesma linha, deverá apresentar o que há de mais recente na produção cinematográfica da África, entre documentários e filmes de ficção.

O Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2007 é uma realização da Universidade Federal de Ouro Preto em parceria com as Prefeituras Municipais de Ouro Preto e Mariana. O evento tem o patrocínio de Gerdau Açominas, Ministério do Turismo, Ministério da Cultura, Companhia Vale do Rio Doce, Petrobras, Cemig, Eletrobrás, Caixa Econômica Federal e Secretaria do Estado da Cultura.

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