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sexta-feira, setembro 20, 2024

Mostra fotográfica retratará os contrastes da Fauna Urbana de Campinas

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Uma mira e um disparo. Pronto. Para sorte dos animais, as mãos do repórter fotográfico Nerivelton Araújo não seguram um rifle. Mas, com a precisão de um atirador de elite, Neri, como é conhecido no meio jornalístico, capta imagens impressionantes de borboletas e pássaros que migraram para a cidade de Campinas, Interior de São Paulo. Vencedor de quatro prêmios na carreira, entre eles dois da Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (FEAC), Neri mostrará parte desse acervo, a partir do dia 21 de maio, que ocupará lugar de destaque nas paredes do casarão que abriga a choperia Giovannetti Cambuí, durante a exposição fotográfica Fauna Urbana. A iniciativa é uma homenagem do Departamento de Fotografia da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC) ao profissional Neri por seus 22 anos de casa, e faz parte também das comemorações aos 71 anos da marca Giovannetti, completados em maio. A mostra permanece aberta ao público até 30 de junho, em uma referência ao Dia Mundial do Meio Ambiente – 5 de junho.

Os 30 trabalhos em cores e preto-e-branco retratam borboletas e pássaros em diversas situações do cotidiano. Desde um pica-pau bicando um poste de concreto até um urutau, uma ave pré-histórica, em meios aos fios de energia. Tudo mostrando o real contraste entre a natureza e o cenário urbano. O material é inédito e foi selecionado pelos profissionais do departamento de fotografia da RAC, que acompanham a carreira de Nerivelton Araújo. “Acreditamos que um acervo tão rico em técnica e sentimento deve ser compartilhado com a sociedade. Por isso tivemos a idéia de organizar a mostra”, afirma o editor de fotografia da RAC, Flávio Grieger.

Nerivelton Araújo acumula histórias e experiências. Em 34 anos de carreira já registrou mais de 600 mil imagens, em média 50 por dia; de perseguição policial ao funeral do ídolo Ayrton Senna. As imagens dos pássaros no universo urbano, captadas por Neri, revelam uma grande preocupação do fotógrafo. “Se eles estão na cidade é porque foram obrigados a migrar de seu habitat natural”, explica.

Ao se deparar com um pica-pau bicando um poste de concreto, ele garante se entristecer. “Procuro mostrar a agonia dessas aves para que as pessoas percebam o quanto é importante preservar a natureza. O pica-pau, por exemplo, deveria picar madeira”. Neri usa como exemplo de degradação ambiental, a matança de jacarés, ocorrida em décadas passadas, no Pantanal. Segundo ele, a espécie era o único predador natural das piranhas. Com a caça descontrolada para obtenção da pele desses répteis, as piranhas aumentaram de população e tomaram conta dos rios, matando os outros peixes. “Na hora de pescar, quem passou a se dar mal foi o homem, pois não havia outras espécies”, analisa.

O repórter fotográfico imagina histórias para cada foto tirada. Para o urutau, ave pré-histórica que pousou próximo a uma escola de idiomas, por exemplo, ele criou a frase: “Será que alguém nessa cidade fala a minha língua? O que estou fazendo aqui?”.

A fotografia de duas corujas é intrigante. No ângulo registrado, a imagem é de um pássaro com duas cabeças. Porém, trata-se de um animal atrás do outro. “Para mim, era uma fêmea acuada atrás do macho, com medo”, explica o fotógrafo.

Na “cidade das andorinhas”, imagens desses pássaros não poderiam faltar. Em uma delas, Neri registrou uma solitária andorinha em um fio de alta tensão. “Elas vêm procriar em Campinas. De acordo com o apelido da cidade seria normal existirem diversos desses bichinhos, mas, não é o que ocorre. A andorinha solitária deve pensar: “Cadê as outras? Uma só não faz verão” diz.

Em suas férias anuais, Neri gosta de ir para matas. Pega sua máquina e registra belas imagens. “Tenho um acervo, em casa, com mais de mil fotos. Um dia vou fazer uma exposição com esses retratos”, promete.

O Início
Mineiro de Poços de Caldas, Nerivelton Araújo deu os primeiros cliques logo aos 11 anos. “Precisava aprender uma profissão e fui trabalhar em um laboratório de fotografia, onde começou o meu interesse”, diz. As primeiras imagens eram feitas em família. Seu primo era goleiro do Caldense, time de futebol da cidade, e ficava defendendo bolas para que Neri o fotografasse. O empenho do menino deu certo e logo ele passou a cobrir os jogos do time para o Jornal da Mantiqueira.

Nessa época, a paixão pelo futebol quase o tira do jornalismo. Habilidoso e rápido, Neri foi convidado pelo professor de Educação Física de sua escola para jogar no Caldense. Atuou por pouco tempo no time mineiro e abandonou os gramados para continuar registrando as imagens pelo mundo afora.

Além de se dedicar à fotografia, Neri cultivava outro hobby – fazia postais de paisagens da cidade em preto e branco e os coloria à mão. Foi a partir daí que seu espírito de preservação da natureza aumentou. “Sempre tive essa ligação com o ecossistema”, garante. Tanto que foi às lágrimas quando destruíram parte da mata de sua cidade natal.

A Carreira
Em 1974, Nerivelton Araújo mudou-se para Campinas. No ano seguinte, começou a trabalhar no jornal Diário do Povo. Em 86, passou a integrar o time de profissionais do Correio Popular, onde está até hoje. No mesmo ano, também realizou alguns trabalhos para a Revista Nacional de Telecomunicações. Dois anos mais tarde, chegou ao cargo de editor de fotografia no Correio Popular. Porém, sua verve jornalística falou mais alto e ele pediu para voltar a fotografar. “Eu gosto mesmo é de ficar nas ruas”, explica.

Nesse tempo, ele recorda do medo que sentiu ao cobrir uma morte. “Foi no enterro de um traficante. Cheguei sozinho ao velório e comecei o meu trabalho. Os amigos do bandido se rebelaram. Só me restou pedir a Deus que me salvasse”. A prece deu resultado. No mesmo instante, a polícia chegou ao local. Outro momento marcante foi quando perseguiu, na década de 70, a dupla de bandidos, Chupeta e Chupetinha. “Esses irmãos, de 11 e 13 anos, assaltavam com uma chupeta na boca. Consegui segui-los, no Fusca do jornal, enquanto eles estavam num Opala”.

Porém, um dos fatos mais notáveis de sua carreira foi o enterro do piloto Ayrton Senna. Neri já havia feito a imagem que seria capa do jornal. Era o caixão segurado por militares, sob uma chuva de pétalas. Ele não sabia ainda que essa foto seria a escolhida. A vontade de conseguir outros enquadramentos fez com que ele percorresse o trajeto da Assembléia Legislativa de São Paulo ao Cemitério do Morumbi, a pé. “Falei para o motorista parar onde toda a imprensa estava estacionando. Ele disse que era proibido deixar o carro naquele local. Não pensei duas vezes. Desci do carro e fui a pé”, lembra.

Neri diz que no 1º de maio de 1994 não era apenas o fotógrafo que estava cobrindo mais um fato jornalístico. “Senti muito como pessoa. Difícil encontrar alguém que não era fã do piloto”, relembra.

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