O artista faz um apanhado dos caminhos da dança em Campinas
Com uma bagagem de 26 anos na dança e dono de um currículo invejável, o bailarino, coreógrafo, iluminador e professor, Felipe Chepkassoff fala de sua carreira na dança clássica, moderna. Iniciando sua carreira aos 18 anos, não demorou muito a atuar como ator e coreógrafo, fazendo carreira rapidamente no tão sonhado mundo da dança.
Como você começou sua carreira?
Iniciei a carreira artística com o Teatro. Estudei expressão corporal e direção, com o professor argentino Juan Uviedo durante 2 anos, sendo certificado pelo TIT Taller de Investigaciones Teatrales de Buenos Aires. Em 1981 com 19 anos, iniciei meus estudos de dança com a professora Valderez Zani em sua própria escola, e ainda com os professores Silvano Canniatti, Silvio Maia e Ivonice Satie, que teve grande influência na minha decisão de seguir a carreira profissional. No ano seguinte já dançava profissionalmente, primeiro no Grupo Casa Forte, em seguida brevemente no Grupo Cisne Negro e no Ballet Ópera Paulista onde permaneci por mais tempo, sob a direção de Ângela Nolf e Sasha Svetlov, onde viria a estrear como coreógrafo em 1984. Em 1989 fui convidado para fazer parte do Ballet Lina Penteado em Campinas, como bailarino, coreógrafo residente e ensaiador, inicialmente com direção artística de Sasha Svetlov e mais tarde de Maria Silvia DeGennaro.
Em quais espetáculos você participou?
Em São Paulo, dancei em Cias que traziam em seu repertório obras dos melhores coreógrafos da época como Luís Arrieta, Ana Maria Mondini, Armando Duarte e Jairo Sette entre outros. Ainda atuei em comerciais e shows para TV. Em 1984 a partir de um pequeno workshop organizado pelo Ballet Ópera Paulista criei minha primeira coreografia, “Solitude” com música de Astor Piazzolla, que foi imediatamente incorporada ao repertório da Cia, e em seguida apresentado na II Mostra de Novos Coreógrafos Ruth Rachou . Dancei em palcos do Brasil inteiro, em ginásios de esporte, praças públicas, em circo e calçada de padaria, enfim em qualquer lugar que surgisse e que pudesse mostrar o meu trabalho. Quase sempre ao lado de Wolnei Macena, um dos melhores bailarinos que já conheci. Com ele também fui premiado no Festival Internacional de Joinville – SC, e na X Mostra de Novos Coreógrafos do Rio de Janeiro.
Você sofreu algum preconceito?
Um pouco da família, pois quando se trata de Arte, pais de formação cultural menos abrangente nunca conseguem enxergar essa possibilidade como uma linda carreira, que exige muito estudo, disciplina e dedicação integral, geralmente pensam nas escolhas mais convencionais, acreditando que isso será o melhor para eles. Acredito que o preconceito ainda hoje esteja menos voltado para a sexualidade (sem descartar essa possibilidade) e mais para a profissão. De certa forma durante muitos anos me senti marginalizado. Podemos observar quando preenchemos uma ficha com as opções profissionais, e nunca encontramos a opção bailarino, ou ainda coreógrafo, sempre tendo que optar por outras. Ou ainda a famosa pergunta: Você só dança, e não trabalha? Isso precisa mudar. Sempre fui muito determinado, então quando decidi pela Dança, já sabia o que iria enfrentar, não parei para olhar para trás.
Como está a dança no Brasil?
Hoje temos excelentes companhias de repercussão internacional. A formação e a criatividade da dança brasileira são respeitadas em vários países, o que deixa a desejar é a falta de incentivo de políticas públicas estaduais e municipais (o estado de São Paulo vem incentivando bastante),
já que a adesão da iniciativa privada depende destas leis de fomento para poderem aplicar seus investimentos com suas devidas deduções.
As escolas de dança estão preparadas para formar bailarinos a nível internacional?
Ensinar é uma arte, e se não tiver sensibilidade e conhecimento técnico, pode contribuir de forma desfavorável para a formação de novos talentos. Sem dúvida de 20 anos para cá houve um crescimento em qualidade de ensino e, quem abraça a carreira, deve estudar contínuamente. De certa forma os festivais contribuíram para esse crescimento, incentivando os alunos para a profissionalização.
E o nível dos Festivais no Brasil, como você vê esta questão?
Fui convidado a fazer parte do corpo de jurados dos Festivais de São José dos Campos, do MPB Dança de Santo André e de avaliações de projetos do Sesc Santos, e do Mapa Cultural Paulista.
Pude observar que são bem organizados, contribuindo para a divulgação da Dança.
O que você vem fazendo na dança?
Meus últimos trabalhos estão voltados para ações sociais de inclusão através da educação artística. Participo da Abamba em Barão Geraldo, dirigido por Beto Regina, projeto mais conhecido como Meninos do Barão. Em outubro de 2007 recebi em Bento Gonçalves – RS, mais uma premiação pela coreografia “Cantoria”, com música de Elomar Figueira de Melo, representada pelo Faces Ocultas Cia de Dança da cidade de Salto, dirigida por Arilton Assunção. Venho atuando como iluminador, e presto consultoria para a AMDC, associação Movimento Dança Campinas, na organização e produção do III Fórum de Dança em parceria com o SESC Campinas, onde
pretendemos trazer o Balé da Cidade de Londrina PR, que é uma companhia de 15 anos de estrada, e que escolheu outros caminhos, de forma desbravadora, se apresentando na África e em vários outros países da América Latina que não tem tanta tradição em dança, saindo do conceito
de glamour das companhias que só saem do Brasil se for para dançar na Europa ou Estados Unidos.
Eles estão numa fase de inovação e vem desenvolvendo oficinas em várias cidades.
Em Taubaté estou atuando como coreógrafo convidado para o Balé da cidade, onde devo estrear uma nova peça coreográfica em três pequenos atos em setembro deste ano.
Nesta nova fase de sua carreira, quais são seus planos?
Quero participar mais ativamente, ajudando novas companhias, produzindo e alavancando novos talentos.
Como você se inspira para criar uma coreografia?
Busco a inspiração na poesia e na Natureza. Para mim, a coreografia traduz a música em movimento no espaço. Sempre busco referências poéticas que me inspirem, que desbloqueiem os sentidos. No entanto, mais do que a dança e a coreografia, busco o valor humano. O meu trabalho muitas vezes depende de vários intérpretes para a realização de um espetáculo e que pode levar
de um dia a um ano para expressar uma idéia. Não sou rápido e a tendência moderna exige que você seja muito rápido. Acredito na inspiração, que faz parte da vivência do artista.
Legenda da foto vermelho
1989 – Teatro Castro Mendes “Mariposa Dissecadas” pela Cia de Dança Lina Penteado coreografia que ficou por cinco anos no repertório.
Legenda 2
2003 – Teatro Castro Mendes “Imagine” pela Cia Lina Penteado com música de Corelli
BOX
Festival
O III Fórum Regional de Dança será realizado em Campinas, entre os dias 23, 24, 25 e 26
de agosto, data ainda a ser confirmada. O evento acontece no Centro de Convivência e no SESC.
O objetivo principal do Fórum é formatar discussões e trocar de idéias, com mesas redondas, palestras e oficinas. Haverá a participação especial do professor e diretor do Balé de Londrina, Leonardo Ramos e do maitre de ballet Sasha Svetlov.
“O Fórum abre portas para aumentar as oportunidades para os artistas e a repercussão é sempre positiva, pois reúnem alunos, professores e bailarinos de diversas formações. A idéia é que se torne um evento de abrangência nacional”, afirma Felipe.
Projetos Sociais
O artista participa do Projeto “Meninos do Barão”, que após 10 anos, já formou 5 bailarinos profissionais. O projeto está voltado apenas para meninos adolescentes com idade a partir de 12 anos. Além das atividades da dança, o projeto dá assistência social e psicológica aos alunos. Aulas de música, artes plásticas, reforço escolar, como português e matemática, fazem parte da didática de ensino. Os alunos recebem uma cesta básica para ajudar a família. Para ser admitido no projeto,
a criança precisa fazer um teste de aptidão para a dança.
www.abamba.org.br