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quinta-feira, setembro 19, 2024

A sobrevivência do passado frente às mudanças

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Entre os dias 25 e 27 de Novembro, a Società Italiana Lavoro e Progresso organizou a I Exposição de Pintura de artistas locais e regionais acerca de paisagens de Sousas e Joaquim Egídio. Aqueles que puderam visitar a exposição puderam perceber a ênfase dos artistas na natureza da região – o rio Atibaia, os caminhos de terra, as montanhas da estrada que liga os dois distritos. Além disso, percebe-se a importância do meio ambiente na evocação da memória do passado pelos moradores mais antigos e também a lástima pela deterioração do presente e o medo do porvir. Relacionando história e natureza, a memória constitui um recurso fundamental para a preservação do patrimônio histórico. Neste sentido, trazemos a contribuição de três historiadores que estão relacionados à luta da preservação do patrimônio: Maria Lúcia A. Gnerre (doutoranda de História pela UNICAMP, que desenvolve curso sobre Patrimônio Histórico e Natureza na UNICAMP), Profª. Maria Lúcia S. R. Ricci (pesquisadora do Centro de Memória da UNICAMP, que desenvolve trabalho de reconstituição histórica e ambiental dos distritos de Campinas) e Prof. Edgar S. De Decca (atual Pró-Reitor de Graduação da UNICAMP). Dividimos os resultados da pesquisa em dois textos, que serão apresentados em duas edições; na primeira, as questões que versam sobre a constituição do Patrimônio.

MARIA LÚCIA GNERRE: “O conceito de patrimônio histórico deve ser compreendido dentro do próprio conceito de patrimônio cultural, que é um conceito mais amplo, que está presente na própria constituição brasileira. É definido a partir de suas formas de expressão; de seus modos de criar, fazer e viver; das criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Assim, na prática o podemos considerar como constitutivos do patrimônio histórico, edificações, espaços públicos ou privados, que são representativos de uma forma de viver, que são expressão de uma cultura, ou da arte de um determinado período. Cabe ao Condepacc o papel de aplicar e definir uma política municipal de defesa e proteção do patrimônio cultural, realizar estudos para elaboração de recursos institucionais voltados a preservação do patrimônio, e ainda, coordenar e executar as atividades públicas referentes a essa política, podendo ainda este conselho sugerir aos poderes públicos medidas para cumprimento das exigências decorrentes da execução dessa política”.

MARIA LÚCIA RICCI: “Compreender concretamente a cidade é apreender a individualidade dos habitantes, individualidade esta que é a base dos próprios monumentos, ou seja, compreendê-la é para além de seus monumentos, para além da história inscrita em suas pedras, é descobrir a maneira particular de ser de seus moradores. O urbanismo e as políticas culturais são fios condutores dos elos – externo, interno e geral – particulares que configuram a história de cada lugar. A cidade pode ser compreendida como condensação de tempos sociais seletivamente resguardados da destruição. A matéria sustenta, pois, crenças e valores que tendem a se deslocar de qualquer colagem a objetivos específicos, transformando-se em cultura e ideologia. No entanto, a política urbana tende a ser, via de regra, imediatista. É inegável a relevância da memória para a ação, ou seja, na emergência de sujeitos sociais na cena pública, visto que a memória compartilhada orienta a socialização”.

EDGAR DE DECCA: “Cada sociedade ou cultura tem o seu desejo e seu programa e sentimento de preservação. Evidentemente, nosso desejo de preservar, em uma cultura marcada pela aceleração tecnológica, é muito diferente de uma cultura cujos padrões de tecnologia sejam muito diferentes dos nossos. Na época das Revoluções do século 18 e 19, como foi a Revolução Francesa e a Revolução Americana, havia percepções diferentes quanto à preservação do passado. Devemos levar em consideração o fato de que o conceito de patrimônio, tal como conhecemos hoje, surgiu como resposta do Estado nacional frente às utopias de revolução, isto é, como marca importante do pensamento conservador. Essa é a história da formação dos serviços de patrimônio. O Condepacc faz parte dessa história, com a diferença histórica que separa a nossa época do século XIX. Hoje, descobrimos que preservar significa respeitar as diferenças culturais e a diversidade, mas ainda assim existe o elemento estatal de cunho identitário nacional em todos os órgãos oficias de preservação”.

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