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sábado, novembro 9, 2024

Caça às Bruxas: da heresia ao Haloween

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No mês passado, observamos a comemoração do “Dia das Bruxas” (o Haloween) em algumas localidades de nossa região, como nos condomínios fechados. É curioso como estes festejos têm se tornado um costume, ainda que pouco difuso, no Brasil, enquanto outras crenças típicas – como a caipora, o curupira e o saci – são cada vez menos conhecidas pelas crianças. O fenômeno da divulgação do Haloween no país se deve, principalmente, aos cursos de língua inglesa, que promovem o evento. No artigo anterior, discorri sobre a questão das constantes (re)criações das tradições. Neste sentido, consideramos interessante discutir a tradição do dia das bruxas e mesmo da crença em bruxas e feitiçaria, que fazem parte, sobretudo, da memória coletiva européia e norte-americana.

A perseguição àquilo que se designou como “bruxaria” ou “feitiçaria” e às pessoas praticantes destas atividades consiste em fenômeno da Idade Média, ocorrido entre os séculos XV e XVIII. Em geral, as parteiras, enfermeiras e suas assistentes eram consideradas pertencentes às práticas pagãs da bruxaria. O pânico e a histeria que assolaram a Europa do século XIV-XV relacionavam-se às conspirações malignas que visavam à destruição do cristianismo através de associações e magias. No entanto, é importante ressaltar que este quadro de pânico se formou concomitantemente às mudanças sociais (instabilidade e descentralização do poder da Igreja), guerras, cruzadas, pragas, doenças (como a peste bubônica) e revoltas camponesas. As bruxas e feiticeiras foram consideradas pertencentes a um dos tipos de heresia e perseguidas pela Inquisição – atividade dos tribunais especiais da Igreja Católica que punia os hereges cuja existência, segundo alguns estudiosos, como Grigulevich, data desde os séculos XII e XIII, a partir da criação dos Tribunais, até a primeira metade do século XIV. A dimensão do pânico e histeria em função da ameaça das religiões pagãs satânicas acarretou, em 1484, na publicação do “Malleus Maleficarum”, uma espécie de “manual” contra as bruxas.

Em 1692, o povoado de Salem, nos Estados Unidos, foi palco de uma série de julgamentos e condenações à morte de muitas pessoas acusadas de feitiçaria. Algumas garotas começaram a apresentar comportamentos estranhos e os médicos acreditaram que elas estariam sob a influência de Satanás. A histeria tomou conta do povoado quando as garotas começaram a acusar aleatoriamente outros cidadãos de feitiçaria. Quatro meses após as primeiras manifestações, instalou-se um Tribunal Especial composto de sete juízes para julgar os casos de bruxaria. Depois de sete meses aproximadamente, o pânico diminuiu e a opinião pública passou a condenar os julgamentos. O Tribunal foi dissolvido pelo Governador de Massachusetts e as pessoas que ainda restavam presas foram liberadas.

O Dia das Bruxas está relacionado a uma antiga tradição celta – a comemoração do “All Hallows Eve” (ou Samain), isto é, a véspera do Dia de Todos os Santos, na noite de 31 de Outubro. O ano novo celta iniciava-se no dia 01 de Novembro e era considerado o dia festivo mais perigoso e portentoso. Acreditava-se que, nesta época, os deuses moviam-se livremente no mundo dos homens, fazendo brincadeiras cruéis em pessoas insuspeitas. Os homens também poderiam entrar no “outro mundo”, mas isto era considerado um empreendimento muito arriscado. Os costumes foram sendo integrados ou modificados de acordo com a localidade. Assim, na Inglaterra e na Escócia, acreditava-se que os fantasmas que rondavam a região naquela data tinham natureza ruim e, para se defender, faziam uma espécie de “lanterna”, esculpindo faces assustadoras em abóboras ou nabos iluminados. Na Bélgica, preparava-se bolos especiais para os mortos, com a crença de que, quanto mais bolos se comesse, mais os mortos os abençoariam. Estas crenças pagãs foram incorporadas pelo cristianismo com a celebração do Dia de Todos os Santos (comemorado em 01 de Novembro) e do Dia dos Mortos (02 de Novembro). De colonização anglo-saxônica, os Estados Unidos também comemoravam o Haloween. A popularização da festa fez com que o medo que a celebração trazia se transformasse em brincadeira: as crianças e os jovens vestem fantasias e batem à porta das pessoas em busca de doces para não fazerem travessuras. Por influência dos EUA, o México e o Canadá também festejam o Dia das Bruxas, mas incorporando os elementos de suas próprias tradições e costumes.

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