As Fazendas em processo de tombamento
Nas duas últimas edições do Jornal Local, apresentei a história da fundação de Sousas e Joaquim Egídio e pudemos acompanhar pelas diversas reportagens informações sobre o processo de tombamento de ruas e fazendas dos nossos distritos pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (CONDEPACC). Estas ações nos demonstram como temos nos apegado cada vez mais a nossa comunidade, tendo em vista sua preservação e manutenção, através do crescente interesse da população sobre sua história e ambiente. Tal interesse transforma-se em preocupação em defender e perpetuar os traços específicos, as tradições e costumes daqueles que construíram a localidade. Além disso, podemos observar ainda o recente aumento dos projetos turísticos, ecológicos e históricos em processo de desenvolvimento, com pesquisas sobre as belezas naturais do cenário paradisíaco e a história viva presente nas festas religiosas, nas casas preservadas, nas lendas, causos e, principalmente, na memória dos habitantes.
Ao longo deste ano, o Jornal Local acompanhará minha pesquisa sobre a memória da imigração italiana nos distritos de Sousas e Joaquim Egídio, em especial a história da Società Italiana Lavoro e Progresso e sua importância, além das festas e celebrações típicas dos imigrantes, incluindo as entrevistas com descendentes que queiram e possam contribuir com suas memórias. Acompanharemos também projetos como o de Ton Crivelaro e Adriano Nogueira sobre migrações e o do Centro de Memória da UNICAMP que visa refazer a história de todos os bairros de Campinas, abrangendo, no momento, Sousas e Joaquim Egídio. É importante ressaltar que o recente processo de tombamento das Fazendas da região faz parte de um projeto que se iniciou com o tombamento de edifícios públicos, espaço urbano (ruas e avenidas) e que se encerra com as propriedades particulares. Aproveitando o momento, neste artigo, será feita uma relação da história de algumas das fazendas que estão sendo avaliadas, a partir do livro “Campinas, Município no Império”, de Celso Maria Puppo:
*Alpes: Era parte da Fazenda Laranjal, do Major Luciano T. Nogueira, localizando-se na serra de Cabras. A propriedade foi herdada por Maria Luisa Nogueira de Camargo, filha do major, que se casou duas vezes; a primeira com Francisco José de Camargo Andrade e a segunda com Antonio Pompeu de Camargo. Após 1890, foi propriedade de Dario Pompeu de Camargo – período em que o arquiteto Ramos de Azevedo projetou e construiu a sede e em que a fazenda produzia cerca de 5 mil arrobas de café. Em 1914, pertencia a José Pereira Rebouças, cultivando 130 mil pés de café. Por fim, passou para herdeiros de Said Abdala;
*Cabras: Foi fundada pelo brigadeiro José Joaquim da Costa Gavião e vendida em 1820 ao capitão-mor Floriano de Camargo Penteado, o qual a transferiu a seus descendentes. Em 1890, era de herança da Baronesa de Itatiba e, em 1900, pertencia a Fausto Ferreira, produzindo 14 mil arrobas. Em 1914, ainda pertencente ao mesmo proprietário, possuía 306 alqueires de terras e 335 mil pés de café. Após, pertenceu à viúva Ofélia Ferreira & Filhos, encontrando-se na porta principal da luxuosa sede a data de 1883. Na década de 1980, pertencia ao proprietário Raul Diederichsen, possuindo móveis e obras de arte;
*Fazendinha: A Fazenda Atibaia (Fazendinha) era parte de um latifúndio registrado, em 1818, como “bens rústicos”, possuindo 2807 alqueires e pertencente ao brigadeiro Luís Antônio de Sousa. O Barão de Limeira, filho do Brigadeiro, adquiriu a propriedade, que, em 1851, produzia 6 mil arrobas de café. Após sua morte, em 1872, a Baronesa conservou-a como sua propriedade ou em sociedade com os filhos. Em 1885, a Fazenda possuía 250 mil pés de café em terras massapé brancas, com máquina de benefício a vapor e terreiro atijolado. Em 1900, encontramos a fazenda pertencente à sociedade Baronesa de Limeira & Filhos, com produção de 15 mil arrobas de café. No ano de 1914, pertencia a Sílvio Maia, contabilizando 250 alqueires de terras e 180 mil pés de café. Foi herdada por seu sobrinho e herdeiro, Geraldo B. Maia;
*Sant’Ana: A Fazenda era parte da sesmaria de Francisco Xavier da Rocha (Cachoeira Grande), tendo sido comprada sua metade de João de Assis Lopes Martins por Albino José Barbosa de Oliveira, em 1896. A produção, em 1900, era de 5 mil arrobas de café. Com sua morte, a metade passou a pertencer a sua viúva, Luísa Ataliba Barbosa de Oliveira, com 50 alqueires de terras e 250 mil pés de café. Devido ao falecimento de Joaquim Teixeira Nogueira de Almeida, em 1918, encontra-se em seu inventário a metade da fazenda Sant’Ana. Consta que pertenceu também a Eliseu Teixeira de Camargo, o qual desenvolveu criações de gado “puro sangue”, junto com a fazenda vizinha (Barreiro) e foi transmitida a seus herdeiros;
As quatro Fazendas seguintes (Santa Mônica, São José, São Joaquim e São Pedro), situadas na região de Cabras, eram parte do grande latifúndio do capitão-mor Floriano de Camargo Penteado:
*Santa Mônica: Foi transmitida aos descendentes de Floriano C. Penteado, até seu bisneto, Artur Teixeira de Camargo. Após, pertenceu à Anésia do Amaral Schimidt e seu marido, Wolfgang Schimidt;
*São José: Foi propriedade de Joaquim Ferreira de Camargo Andrade, o Barão de Itapetininga. Em 1885, possuía 200 mil pés de café em terra salmourão. Após 15 anos, pertencendo ao filho do Barão, Clodomiro Ferreira de Camargo, produzia 8 mil arroubas de café. Ainda sob domínio do mesmo proprietário, em 1914, tinha 180 alqueires de terras e 200 mil pés café;
*São Joaquim: A Fazenda era parte do latifúndio do Sertão, comprado por Floriano C. Penteado, que a deixou para seu genro, o Barão de Itatiba. A Fazenda passou a seu filho, José Ferreira Penteado, e, após, à viúva Maria Eleutéria de Campos Ferreira, sob a razão social de Viúva Eleutéria & Genro. Em 1914, pertencia a Calestino de Cicco, que a deixou para seus herdeiros;
*São Pedro: Floriano C. Penteado deixou a Fazenda S. Pedro para seu genro, o Barão de Itatiba. Seu filho, Estanislau Ferreira de Camargo Andrade, herdou-a, contabilizando 200 mil pés de café em terra salmourão, máquina de benefício a vapor e terreiros atijolados, em 1885. E, após 5 anos, produzia 10 mil arrobas de café. Na década de 1980, pertencia a Orlando Borghi;
*Sertão: Antiga sesmaria não cultivada de Antônio da Cunha Raposo Leme, o qual a vendeu ao brigadeiro José Joaquim da Costa Gavião, fundando o engenho de Nossa Senhora da Conceição do Sertão e a Fazenda Cabras. Toda a gleba foi vendida a Floriano C. Penteado, em 1820, que a passou para seu filho, o capitão Francisco José de Camargo Andrade. Em 1851, tinha produção de 4 mil arrobas de açúcar. Após sua morte, no ano de 1869, a fazenda tornou-se propriedade de sua terceira esposa, Maria Luísa Nogueira de Camargo, a qual se casou com Antonio Pompeu de Camargo. A propriedade foi adquirida pelo então Conde de Três Rios (futuro Marquês), Joaquim Egídio de Sousa Aranha, em 1885, e lhe pertenceu até seu falecimento, em 1893, deixando-a para seus netos – filhos de Carlos Egídio de Sousa Aranha, então já falecido. Em 1900, era propriedade de um deles, Joaquim Egídio de Sousa Aranha, quando contabilizava uma produção de 12 mil arrobas de café. Em 1914, possuía 200 alqueires de terras e 330 mil pés de café. Em 1950, a Fazenda era propriedade de João Antonio de Sousa Ribeiro, que a transmitiu a Manuel de Almeida Filho. Após seu falecimento e o de sua esposa (Maria Cecília Cardoso de Almeida), a Fazenda passou a suas três filhas casadas e a seu filho, falecido sem geração;