O quadro mundial no período compreendido entre o fim do século XIX e começo do XX pode ser caracterizado inserido em um processo dramático de transformação dos hábitos cotidianos das pessoas, suas convicções e seus modos de percepção. Durante este período, novas tecnologias surgiram, como o telefone, o telégrafo, o avião, os automóveis, os transatlânticos, a iluminação elétrica, o cinema, a televisão, etc. Com a modernidade, ampliavam-se a vida social e as oportunidades culturais. Ao se pensar nos aspectos culturais de Campinas deste momento, não podemos deixar de mencionar que a aspirante à capital do Estado era, como toda importante cidade brasileira da época, permeada por influências européias, principalmente francesa. O caso da febre amarela, que devastou a cidade e destruiu seus prévios planos de tornar-se eminente como capital, teve repercussões também culturais, haja vista que a relativamente rápida recuperação envolveu um renascimento cultural que adveio não somente da necessidade e comprometimento da população em recuperar seu status, como também da efervescência das inovações que chegavam da Europa ao Brasil. A cidade vivia uma ótima fase devido ao vigor da economia cafeeira, o que permitiu que as inovações tecnológicas que surgiram nesta época tivessem breve repercussão em Campinas.
Embora com limitações, Campinas era caracterizada como uma cidade moderna e, para muitos de seus historiadores e memorialistas, como José de Castro Mendes, “incluída no rol dos mais importantes empresários que se revezavam na apresentação do que havia de melhor no mundo dos divertimentos. Era a Terra da Arte”. A movimentação urbana aumentava com as opções de lazer que a cidade adquiria e ainda mais com as novas tecnologias (como a iluminação a gás, a primeira linha de bondes com tração animal e a primeira estação telefônica) que permitiram este crescimento. Ricardo Badaró data a iluminação a gás em 1875 e o sistema de bondes de burro, que constituiria alternativa para o cavalo, a liteira e trole, em 1879. Desta forma, a população campineira podia manter maior contato com os modernos meios de entretenimento, como o teatro e o cinema, além de obterem maior segurança para freqüentá-los. Antes, na hora em que as pessoas tinham que sair do teatro, armava-se todo um sistema de segurança com coches ou capangas e lâmpadas de querosene para iluminação já que os assaltos e assassinatos eram freqüentes, assim como tropeçar em “obstáculos” como pedras ou poças de barro devido ao calçamento irregular.
A primeira casa de espetáculos de Campinas inaugurou-se em 1850, embora uma primeira sociedade teatral tenha solicitado à Câmara Municipal a concessão de terreno para construção de edifício destinado às suas atividades. Em 1846, a Associação Campineira do Teatro São Carlos, retratada por José de Castro Mendes como “um grupo de campineiros entusiastas da arte cênica”, conseguiu da Câmara o terreno para a construção do tão aguardado teatro, cujas ações tinham o valor estipulado em 18:400$000. Construído em 1847 e inaugurado após três anos com a peça “Os Dois Sargentos”, o Theatro São Carlos fora reformado em 1867, melhorando sua estrutura interna com fibras e camarotes e o exterior de sua fachada. Entretanto, até 1875, o São Carlos permaneceu sem mobiliário e iluminação. Quando as famílias iam às peças, deveriam levar bancos e cadeiras. Geralmente, os criados iam junto transportando as cadeiras empilhadas na cabeça, o lampião de querosene e os “quitutes” (como empadas, pastéis, cuscuz e farofa de banana) para os entreatos. Mesmo passando por dificuldades, o teatro raramente fechava suas portas.
Foi, portanto, no ano de 1875, junto com a introdução da iluminação a gás, que o teatro passou a ter melhoramentos e investimentos. Segundo a autora Margarita Ribeiro, o São Carlos fora o “símbolo da vida burguesa” durante quase 80 anos, tendo sido freqüentado pela aristocracia que trazia da Europa artistas como Sarah Bernhardt. Impressionava a quantidade de companhias e artistas que eram atraídos à cidade, apresentando as melhores peças e musicais de São Paulo e do Rio de Janeiro. O teatro era considerado “passarela da moda”, na qual o povo miserável olhava os cavalheiros e as senhoras com suas vestimentas elegantes. O memorialista Geraldo Sesso Jr. citava que era o “ponto predileto das damas de alta sociedade que, ricamente trajadas, vinham exibir as luxuosas indumentárias e, (…), fazer inveja às companheiras do belo sexo”. Tal consideração pode ser observada na seguinte passagem da edição do dia 10 de Agosto de 1897 do jornal “Diario de Campinas”: “O theatro estava replecto, notando-se nos camarotes e nas varandas a nata da sociedade campineira, representada pelas exmªs. familias trajando luxuosos toilets, e distinctos cavalheiros”. Além disso, o São Carlos foi cenário de momentos políticos importantes, como o banquete oferecido em homenagem aos deputados Provinciais Campos Salles, Prudente de Morais e Rangel Pestana, em 1882.