No ano de 1875, junto com a introdução da iluminação a gás, o teatro São Carlos passou a ter melhoramentos e investimentos. Segundo a autora Margarita Ribeiro, o São Carlos fora o “símbolo da vida burguesa” durante quase 80 anos, tendo sido freqüentado pela aristocracia que trazia da Europa artistas como Sarah Bernhardt. Impressionava a quantidade de companhias e artistas que eram atraídos à cidade, apresentando as melhores peças e musicais de São Paulo e do Rio de Janeiro. O teatro era considerado “passarela da moda”, na qual o povo miserável olhava os cavalheiros e as senhoras com suas vestimentas elegantes. O memorialista Geraldo Sesso Jr. citava que era o “ponto predileto das damas de alta sociedade que, ricamente trajadas, vinham exibir as luxuosas indumentárias e, (…), fazer inveja às companheiras do belo sexo”. Tal consideração pode ser observada na seguinte passagem da edição do dia 10 de Agosto de 1897 do jornal “Diario de Campinas”: “O theatro estava replecto, notando-se nos camarotes e nas varandas a nata da sociedade campineira, representada pelas exmªs. familias trajando luxuosos toilets, e distinctos cavalheiros”. Além disso, o São Carlos foi cenário de momentos políticos importantes, como o banquete oferecido em homenagem aos deputados Provinciais Campos Salles, Prudente de Morais e Rangel Pestana, em 1882.
Em 1895, os irmãos Luiz e Augusto Lumiére, em Paris, apresentavam as primeiras projeções de “fotografias animadas” através do aparelho denominado Cinematógrafo”. Cabe lembrar que a primeira exibição pública de cinema no Brasil ocorreu em julho de 1896, no Rio de Janeiro. Nesta época, Campinas ainda era temida pela peste, entretanto, apenas dois anos após a invenção do cinematógrafo, o teatro São Carlos fora o espaço escolhido para a primeira exibição da novidade francesa em Campinas. Esta escolha talvez tenha sido devido a sua importância cultural à cidade, sua estrutura – modesta, porém, avançada para os padrões da cidade – ou até por ser freqüentado pela “fina flôr campineira”. A projeção do cinematógrafo no teatro foi considerada como um espetáculo de “magia elegante”, como ressaltado por Eustáquio Gomes. Segundo Castro Mendes, a novidade foi apresentada no dia 2 de outubro de 1897, trazida pela grande companhia de variedades dirigida por Fauré Nicolay, empresário e prestidigitador. Entretanto, as melhores e mais perfeitas demonstrações do novo aparelho foram as proporcionadas pelo empresário Nicola Maria Parente, que apresentaria o cinematógrafo Lumiére, em 1899. Os anúncios diziam: “Salve! Grande exposição de movimento natural”, “a máxima perfeição”, “o melhor e mais perfeito aparelho desse gênero”, “o maravilhoso CINEMATÓGRAFO LUMIÉRE”, “sem igual”, “última maravilha do século XIX”, “ADMIRÁVEL”, “SURPREENDENTE”, “a última sublimidade da ciência que a humanidade extasiada curva-se para saudar o gênio elevado do inventor, diante da naturalidade nas reproduções de grande sucesso e importantes cenas, nas quais vê-se representadas fielmente, por meio da fotografia, com tôda a vida tamanho e movimentos naturais!”, “VER E ADMIRAR O QUE JULGAR-SE-IA IMPOSSÍVEL”.
Em 1908, a Companhia Campineira de Tração, Luz e Força se constituiria, eletrificando, em 1912, a rede pública e substituindo os bondes de burro por bondes elétricos. É neste momento que os cinemas se difundem e popularizam na cidade. Geraldo Sesso Jr. constata que em 1910 observava-se a preferência popular em torno do cinematógrafo, o que era percebido pelos empresários que apareciam em grande quantidade em Campinas nesta época. Em 1911, diversas casas do gênero haviam sido montadas, muitas por iniciativa particular. Apesar das contradições em relação a uma data específica para a propagação de salas de cinema em caráter permanente (se a partir de 1906 ou 1909), o período de 1900 a 1920 caracterizar-se-ia pela introdução no país de “novos padrões de consumo”, alimentados por um iniciante e, porém, agressivo marketing. A partir desta popularização, diversos outros espaços de entretenimento adaptaram-se de forma a exibir sessões de cinema, podendo-se citar o Rink Campineiro (rinha de galos e patinação) e o Coliseu Taurino (touradas), além do próprio Theatro São Carlos, berço do cinamatógrafo campineiro, o qual era espaço de espetáculos teatrais, lutas de boxe e lutas greco-romanas. Tal adaptação deveu-se à lucratividade do cinema. Além disso, a imprensa local ajudava na propagação do entretenimento e sua freqüência exaltando-o como exemplo da modernidade, em oposição ao passado retrógrado da cidade.
Geraldo Sesso Jr. fez importante constatação a respeito da popularização do cinema, assim como em relação à abertura de diversas casas no início do século XX: “se considerarmos o índice de nossa população, naqueles tempos, Campinas de maneira alguma poderia manter o número exagerado daquelas casas de espetáculos e o resultado apareceu mais tarde, quando a maioria deles foi obrigada a encerrar suas atividades por falta de público”. Neste contexto e considerando-se também a preocupação da cidade em ter um teatro à altura de seu progresso, o Theatro São Carlos foi demolido, em 1922, querendo a população substituir o “feio e obsoleto” São Carlos, deteriorado, ameaçando ruínas e mau gosto de seu estilo, por algo mais moderno e atual. A obra comemorativa Campinas Século XX: 100 anos de história aponta que o São Carlos fora, durante muito tempo, o “cenário privilegiado da burguesia cafeeira”; sua demolição foi cruel mas representou a medida simbólica dos “novos tempos”. Em seu lugar, foi construído o Teatro Municipal, inaugurado em 1930, posteriormente conhecido como Castro Mendes e, hoje, também inexistente. Se, em meados das décadas de 1890, 1900 e 1910, Campinas não tinha condições de manter o esbanjador número de casas de espetáculos que tinha, um século depois, é lamentável considerar os poucos teatros que temos na cidade e o monopólio dos shoppings em relação aos cinemas.