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quinta-feira, setembro 19, 2024

Formação étnica das famílias de Sousas

Data:

A primeira família que deu origem ao povoado de Sousas foi a de Aleixo Antonio de Godoy, por volta de 1830. Em seguida aportou Bernardo José Samapio, parente da família dos Souza. Juntos contruíram a primeira ponte de madeira que ficou conhecida como Ponte do Arraial, onde hoje está a Praça de São Sebastião.

Bernardo Sampaio deu início por volta de 1835 à lavoura de café nas cercanias de Joaquim Egídio. Na família dos Godoy além de ótimos agricultores havia vários seleiros para montarias de animais.

Em 1845 veio habitar o povoado a família de Manoel Rosa Martins (Maneco Rosa) que ajudou em muito na formação do povoado. Ainda hoje moram em Sousas vários de seus descendentes. Até 1889, data da Abolição da Escravatura, a população local era formada por famílias de fazendeiros de café e mão de obra escrava de origem africana. A partir de 1890 começam a chegar a região os imigrantes italianos para a lavoura cafeeira no lugar dos escravos.

No distrito e arredores habitavam na época (1890 a 1900) várias famílias descendentes de portugueses como a de Maneco Rosa, a dos Nascimento dos Barreto, dos Vieira, dos Pinto, Castro Mendes, a dos França e dos Pedroso e Lima, mesclados com famílias afro-brasileiras, tais como a família dos Teixeira, dos Trajano, dos Oliveira, dos Santosm dos Ribeira, Silva, Francisco e dos próprios Souza. A partir de 1890 a imigração italiana lotou o distrito tanto na área urbana como na rural, a tal ponto que em agosto de 1894 quatorze italianos fundaram uma sociedade para dar assistência aos imigrantes, batizada Societá Italiana Lavoro e Progresso, que existe até hoje com a presidência do imigrante italiano Vitorio Palumbo. desses fundadores, Lourenço Dal Porto, Carlo Caspon, Felice Leone, Pompilho Rossi, Giovechino de Gasperi e Giuseppe Rinaldi, ainda tem descendentes vivendo no distrito.

Além desses moravam no distrito no final da última década do século 19 a família dos Beltramelli, dos Giometti, os Trevizanim Bertazolli, Venturini, Zanata, Fransceschini, Focesi, Martinelli, Guarnelli, Marquini, Marchiori, Rossin, Nadalin, de Santi, Pastore, Pissolato, Tavela Carmelini, Tozo, Paioli, Conti, Pugina, Corazola, Pelegrini, Valério, Bertolucci, Vinei, Reolon, Iório e Mingatto.

A única família de libaneses que habitava Sousas em 1900 era a família Salim, cujo filho nascido em 1903 tornou-se Monsenhor, Emílio José Salim. Na última década do século 19 nasceu também aqui o bispo de Campinas Dom Barreto, em imóvel depois demolido na Praça São Sebastião. Duas décadas depois nascia em Joaquim Egídio Dom Agnelo Rossi, que chegou a ser administrador do Vaticano, em Roma

O Coronel Alfredo Augusto do Nascimento, veio para Sousas em 1849 ainda jovem procedente de Cananéia, litoral paulista. Era formado em farmácia e chegando aqui adquiriu uma gleba de terra no bairro dos Pires que ia da atual Av.Antonio Carlos Couto de Barros, atravessando a atual Av.dos Expedicionários e a antiga linha do bonde que fazia divisa com a Fazenda João de Campos e o Sanatório Dr.Candido Ferreira. Na época em que viveu aqui teve uma desavença com Maneco Rosa em virtude de seu propósito em querer mudar a sede do distrito para onde possuia suas terras. Por fim entrou em acordo com Maneco Rosa e resolveu construir o prédio de sua farmácia e sua moradia às margens do Atibaia onde existe até hoje (Galeria Caleffi). Era casado com Minie Elizário de cujo enlace teve um único filho: Agenor Nascimento (Nunu). Sua esposa foi a primeira oficial do Cartório de Sousas inaugurado em 1897. O coronel Alfredo do Nascimento também foi vereador na Câmara de Campinas de 1902 a 1907. Seu filho Agenor (Nunu) casou-se e foi pai de 3 filhos: Agenor Filho, José Alfredo e Maria de Lourdes.

Agenor Filho casou-se com Arita gerente do Correio de Campinas e desse enlace não houve filhos. José Alfredo (Juca) foi oficial do Cartório de Sousas durante mais de trinta anos. Casou-se com Arminda Alves e desse enlace nasceu uma filha: Rita Helena, Maria de Lourdes (Ninia) casou-se com José Teixeira Pinto (Juju) e desse enlace nasceu José Teixeira Pinto Filho (zelão), somente Rita Helena filha do Juca ainda vive.

Na década de 1930 as ruas e praças de Sousas ainda não haviam recebido calçamento. Eram todas com piso de terra batida. Nessa época não havia rádio, muito menos televisão e nem cinmea na localidade. O costume das famílias depois do jantar era o de arrastar as cadeiras para fora de casa e se juntarem com as dos vizinhos onde ficavam batendo papo até as 10 horas da noite. E a criançada toda do distrito se juntava na Praça Sant´Ana onde somente tinha um chafariz e um coreto na parte central. O que imperava era a criatividade nas brincadeiras. Os meninos improvisavam um campinho e a bola era de pano feito com uma meia costurada. Os meninos que não gostavam de bola faziam a brincadeira do Pastelão. Outros preferiam sentar numa rodinha num canto da praça e cada um contava história de lobisomem e coisas de outro mundo. Muitos jogavam pião e outros bolinha de vidro na birola. Havia aqueles que faziam balões na hora com jornal e que não custava nenhum centavo. Já as meninas brincavam em separado com a peteca, cirandinha, etc… E isso se repetia todas as noites com exceção dos dias chuvosos. Não havia acidentes e nem perigo de violência.

Na década de 1930, além de uma rivalidade intensa no futebol entre Sousas e Joaquim Egídio havia também outra dentro de Sousas em se tratando de carnaval. Existiam na época dois clubes de baile em Sousas: o Clube Recreativo de Sousas e o Grêmio Sousense.

O Recreativo era considerado o clube da elite local e o Grêmio era formado da população mais humilde. A sede do grêmio era na época, onde hoje funciona a Padaria Sant´Ana e a sede do Recreativo onde se situa até os dias de atuais. Naquele tempo não existia carnaval no salões. Estes eram somente para bailes (Aleluia, Primavera, Ano Novom etc). O reinado de Momo era comemorado nas ruas e os preparativos duravam o ano inteiro. Cada clube saia com seus blocos. Estes eram subdivididos em vários compartimentos. No bloco do Recreativo prevalecia o colorido e as ricas fantasias. Já no Grêmio imperava a criatividade, o improviso e o bom humor através da gozação.

A gente que assistia o desfile dos blocos não conseguia identificar os desfilantes tal o disfarce com máscaras e outros artifícios. Cada bloco possuía seu conjunto musical. A rua do centro de Sousas chegava a ter 15 a 20 cm de altura de piso com confetis e serpentina. Após desfilarem aqui, os dois ckubes partiam para Joaquim Egídio para darem sua exibição completa. A comissão julgadora era composta das autoridades do local. Quem vencia ia comemorar em sua sede com uma belo baile, ornamentado por confetis, serpentinas e lanças-perfume. Que saudades desse tempo!

Antes da década de 1950 haviam vários divertimentos peculiares da época para os moradores de Sousas e região. Mas, quero destacar um que me marcou bastante na memória: havia onde é o Jardim Atibaia, na divisa com o Regatas, uma raia para corrida de cavalos programada sempre aos domingos à tarde. Essa raia comportava a corrida de dois cavalos por páreo e tinha o comprimento de 500 metros dividida no meio por um cordão de terra batida. A afluência de público era enorme, comparecendo adeptos de distrito e de toda a zona rural. As apostas eram feitas a céu aberto com dinheiro e quem não tinha apostava sua vaca de leite, um touro reprodutor, etc…

Os jóqueis dessas corridas eram sempre os mesmos: Palamquim, Adelino Raizer e Amilar Carvalho (tio do Nelsinho Cayres). A figura mais folclórica dessas corridas era o Ferrucio Vicentini, ferreiro de cavalos em Sousas. Ele se posatva a 300 metros e de lá dava o grito de largada e somente saia do meio da pista quando os cavalos se aproximavam. Eram corridos 10 páreos por jornada. Nessa tarde esportiva apareciam vendedores de sorvetes, pipoca, amendoim, laranjas, melancia e etc. O pessoal da zona rural usava como meio de transporte o cavalo, a charrete, os cabriolés, etc. Era uma verdadeira festa que jamais esquecerei. Funcionou de 1935 a 1946.

Até a década de 1940 a maioria das famílias afro-brasileiras descendentes de escravos habitava a rua 13 de maio em Sousas. Família dos Teixeira, dos Souza, dos Moraes, dos Silva, dos Ribeiro, dos Conceição, dos Florêncio, etc. Isso talvez por influência da data de sua libertação que se deu naquele dia em 1888. E, os festejos desse povo que se tornou livre eram realizados no dia 13 de maio e se seguiam durantes as festas juninas de cada ano. O local do evento era a casa de Benedito Teixeira, situada à direita da ponte, pois possuía um grande terreno às margens do curso d´água. Os festejos se mesclavam com a cultura dos ancestrais africanos e a religião católica advinha dos portugueses. Havia samba-de-roda, congada, mastro içado a São Benedito e à Princesa Izabel e no mês de junho à Santo Antonio, São João e São Pedro, fogueira, balões, etc. Os comestíveis eram batata-doce na brasa, pipocam amendoim e quitutes afriacanos. A bebida era a cachaça com gengibre (quentão) e licor de jaboticaba. Eu assisti nesses festejos figuras como Salomé-Iaiá, Cândido, Rosa Cascuda, Angelu, Mirão, Chicão, Alice Bataclã, Brasa Ferrom Tio Adão, Pé de Ferro. Luiz de Souza, Ernestão, Anacleto (pai de Sabará), Zico e outros. As famílias italianas do distrito davam apoio aos festejos prestigiando com seu comparecimento sem nenhum preconceito. Esse tempo deixou saudades!

Emoção na infância
Uma das maiores emoções que vivi foi na infância, na década de 40, por ocasião da II Guerra Mundial. Corria o ano de 1942 e o Brasil declarava guerra à Alemanha em virtude da agressão a navios brasileiros, em nossa costa litorânea. Nessa época havia na rua central de Sousas o costumeiro “footing” da paquera, no trecho que ia da Praça Sant´Ana até bem perto da ponte. As moças desfilavam em filas horizontais de braços dados e os moços também em grupo, vinham em sentido contrário. Sempre havia esse “footing” após a reza das 19 horas e no domingo depois da missa matinal e à noite. Dentro desse quadro eu focalizava um casal de namorados que se postava na porta da loja do Jaime Castanho onde hoje é o Caipirão. Ele era alto, de cabelos pretos e ondulados e ela uma moça bonita de cabelos compridos e da mesma altura dele. Ele se chamava Oscar Rossim e ela América Juliatti. Esse quadro durou até a convocação de Oscar Rossim para a guerra. A partir daí o detalhe desse casal de namorados dentro do “footing” deixou de existir. Da região forma convocados 6 cidadãos: Luiz Bertazolli (Lili), Mauro França, Oscar Rossim, Orlando Iório, Fernando de Andrade (Fazenda São Quirino). Desses faleceram em combate Oscar e Franciswco, que estão enterrados no Mausoléo da Praia Vermelha no Rio de Janeiro. Mas a grande emoção que vivi foi na chegada dos pracinhas em Campinas, no primeiro semestre de 1945. Eles tiveram uma recepção estrondosa pela população campineira e da região. Eu estava presente e nos meus 14 anos assisti a tudo chorando pelo não retorno de 2 conterrâneos de Sousas e pela alegria dos que estavam voltando. No presente, aepnas Luiz Bertazolli (Lili) ainda vive nos seus 87 anos.

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