A Amazônia está definitivamente comprometida pelos problemas causados pelo homem? Essa pergunta está na pauta do dia dos ambientalistas e a população em geral. A estiagem na região não dá trégua e a situação da população que vive nas cidades e povoados à beira dos rios e córregos se agrava cada vez mais. Espécies raras, como o boto e o peixe-boi não sobrevivem ao baixo volume de água, formando um cenário de desolação e tristeza. São relatos tristes, como o do peixe-boi que, por causa do baixo nível dos rios em muitos locais, morre atolado na lama dos rios e cursos d´água. A chuva pode chegar a qualquer momento, mas o estrago está feito e o alerta está dado.
A situação é muito grave e talvez seja o sinal mais claro e forte de que a Amazônia, assim como o resto do planeta, não está agüentando. A floresta já perdeu 17% de sua cobertura vegetal, está 20% mais seca e 1.º C mais quente. É o cenário perfeito para um caminho de destruição que, em pouco tempo, pode ser irreversível, a exemplo do que aconteceu com a Mata Atlântica no litoral brasileiro. Se a situação continuar assim, uma série de fatores podem comprometer definitivamente a floresta. Como em um organismo, o acúmulo de vários fatores negativos pode comprometer toda a vida.
Historicamente, o clima úmido e o ciclo de chuvas bem definido da região impede o alastramento das queimadas. Mas, com a forte estiagem e o clima seco, pode ser desencadeado um processo em que a mata fica cada vez mais vulnerável e comprometa toda a vegetação, que aos poucos será substituída por grandes cerrados. A floresta, sozinha, não consegue mais vencer a quantidade de agentes que comprometem todo o ecossistema.
Estudo coordenado pela Universidade Stanford, nos Estados Unidos revela que o estrago causado pela atividade ilegal de exploração da madeira pode ser o dobro do que se imaginava até agora. Pelo estudo, a extração de madeira entre 1999 e 2002 eliminou de 12 mil a 19,8 mil quilômetros quadrados de cobertura florestal por ano em cinco estados brasileiros. Essa cifra não foi contabilizada pelas estatísticas oficiais.
Ainda não se sabe ao certo qual será o futuro da Amazônia. Mas há uma certeza: caso nada seja feito para o equilíbrio do ambiente, com toda certeza a natureza continuará a cobrar a fatura por décadas de destruição. Como afirmou o escritor amazonense Thiago de Mello, a seca é culpa do homem ou castigo do Jurupari, personagem lendário do Amazonas considerado o deus da escuridão e do mal. Estudioso da Amazônia, o escritor considera a devastação o principal fator da estiagem, pois a evaporação da água retida na copa das árvores é, segundo ele, o grande fator das chuvas. E arremata em apenas uma frase: para toda ação há uma reação.
O autor é deputado estadual pelo PT, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água. E-mail: gotadagua@sebastiaoalmeidapt.com.br.
A vingança de Jurupari
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