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sábado, julho 19, 2025

Dessalinizar água do mar é opção para amenizar crises hídricas em SP

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Em Israel, 67% da água para consumo doméstico são tratados a partir da dessalinização; especialista Fredi Lokiec diz que Brasil poderia trilhar caminho semelhante

A construção de usinas de dessalinização no litoral paulista poderia garantir água potável para a população e o abastecimento não dependeria mais das flutuações climáticas. Essa é a análise do engenheiro ambiental Fredi Lokiec, feita a Opera Mundi.

Lokiec, carioca que se mudou para Israel em 1969, é um executivo da maior empresa israelense de dessalinização – a IDE Technologies –, que já construiu 3 das 4 usinas existentes no país, além de mais 400 usinas em 40 países.

Com uma experiência de 24 anos na área hídrica, Lokiec diz lastimar a situação de degradação do abastecimento de água em São Paulo.

Para o engenheiro, as autoridades relevantes demonstraram não ter uma visão de longo prazo. “Rezar para que chova não é suficiente, as autoridades deveriam construir infraestrutura para enfrentar a seca. A dessalinização é um método que confere independência”, disse o engenheiro.

Do total da água do planeta, apenas 2,5% são água doce e todo o restante é dos oceanos. Diante da crescente escassez de água doce, a água do mar se destaca como o grande reservatório da humanidade, especialmente em vista de novas tecnologias que tornam a dessalinização um processo rápido e viável.

O processo de dessalinização dura cerca de 30 minutos e consiste na denominada “osmose inversa”, na qual, por intermédio de pressão, a água do mar atravessa um sistema de membranas que separa o sal de outras substâncias, tornando-a potável. Em seguida, as substâncias retiradas da água são devolvidas ao mar.

Em Israel, que é um país semiárido que sofre de longos períodos de estiagem, 67% da água para consumo doméstico já provêm da dessalinização.

De acordo com Lociek, as usinas de dessalinização fornecem 500 milhões de metros cúbicos por ano, dos 750 milhões consumidos domesticamente no país.

Outro 1,2  bilhão de metros cúbicos é extraído de fontes naturais e serve às necessidades da agricultura e da indústria.

“Se Israel não tivesse investido em dessalinização, hoje não teríamos água nas torneiras das grandes cidades”, disse Lokiec.
Preço
O metro cúbico de água dessalinizada custa entre 70 e 80 centavos de dólar na saída da usina. A este custo se somam as despesas de canalização da água até o consumidor. No caso da cidade de São Paulo haveria o custo de bombear a água dessalinizada, que viria do litoral, pela Serra do Mar acima, o que acarretaria despesas de energia que poderiam elevar o custo até cerca de 1 dólar por metro cúbico.

“Se houvesse uma usina de dessalinização no litoral, a água produzida poderia abastecer as cidades no próprio litoral e isso liberaria uma grande quantidade de água para o abastecimento da cidade de São Paulo”, sugere o engenheiro.

De acordo com ele, em Israel “é mais barato utilizar água dessalinizada do que canalizar abastecimento de lugares distantes”.

Até 2005, quando a água dessalinizada começou a ser utilizada em larga escala no país, grande parte da água consumida em Tel Aviv era canalizada por meio do Canal Nacional, do Mar da Galileia, que fica a 150 quilômetros da maior cidade de Israel.

Hoje em dia quatro usinas de dessalinização suprem praticamente todas as necessidades das cidades ao longo da orla do Mar Mediterrâneo, onde mora a maioria da população israelense.

A utilização de água dessalinizada também contribui para que as fontes naturais, principalmente os aquíferos do litoral israelense e da montanha (na região de Jerusalém), possam se recuperar após muitos anos de estiagem.
Sugestões para São Paulo
De acordo com o engenheiro brasileiro-israelense, o governo de São Paulo deveria se preparar para a eventualidade de que crises como a atual se repitam no futuro.

“Ninguém garante que dentro de cinco ou dez anos uma seca como a atual não vá se repetir”, afirma Lokiec, “São Paulo deve se preparar para um futuro com escassez de água”.

Ele menciona o exemplo de Cingapura, que apesar de ter chuvas abundantes e um contrato de longo prazo de abastecimento de água da Malásia, está construindo usinas de dessalinização.

“O problema de Cingapura é que seu território é muito pequeno, portanto não possui área para captar as águas das chuvas”, explica.

“Para se precaver contra o risco de que no futuro a Malásia venha a suspender o fornecimento de água, a Cingapura constrói usinas de dessalinização e assim serve de exemplo de planejamento hídrico de longo prazo”.

A construção de uma usina de dessalinização para suprir 10% do abastecimento para fins domésticos da área metropolitana de São Paulo poderia durar 3 anos “se o financiamento fosse do governo”, avalia Lokiec. Se o empreendimento fosse privado haveria necessidade de um prazo a mais para captação de capital, explica.

Mas antes de se pensar em dessalinização ele sugere que o governo de São Paulo implemente as medidas tomadas por Israel há décadas. “Antes de tudo deve-se educar a população a economizar água e assim evitar o desperdício no dia-a-dia”, disse. “Aqui em Israel já no jardim de infância se ensina as crianças a fecharem a torneira enquanto escovam os dentes.”

Outra medida que o engenheiro considera urgente é “reduzir a quantidade de água não contabilizada”. De acordo com ele, hoje em dia em São Paulo cerca de 40% da água se perde em vazamentos do sistema ou em desvios ilegais. Já em Israel a quantidade de água não contabilizada é de apenas 8% a 10%. “Se o Estado de São Paulo conseguisse diminuir as perdas do sistema hídrico de 40% para 20% já seria um grande avanço”, disse.

ashkelon-usinaA água de esgoto tratada é de qualidade tão boa que pode ser reutilizada para irrigar qualquer tipo de plantação”, afirma Lokiec e sugere que em São Paulo também se pense seriamente em reutilização dos efluentes domésticos.

 

 

 

 

 

 

 

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