Andrei Passos Rodrigues afirma que não aceitará interferência na Polícia Federal; governo Lula entra em confronto com o relator Guilherme Derrite por alterações no PL Antifacção que, segundo o Planalto, enfraquecem o combate ao crime organizado
Por Sandra Venancio
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, declarou que não aceitará qualquer tipo de interferência política ou tentativa de redução das competências do órgão. A manifestação ocorre em meio à polêmica sobre as mudanças propostas no Projeto de Lei Antifacção, originalmente elaborado pelo governo federal para fortalecer o enfrentamento às facções criminosas.
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O texto foi modificado pelo deputado federal Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. A nova redação apresentada pelo parlamentar prevê que a Polícia Federal só possa atuar em casos de tráfico, milícias ou organizações criminosas mediante solicitação dos governadores, o que, na prática, limitaria a autonomia da instituição e enfraqueceria operações em curso.

A reação interna foi imediata. Fontes ligadas à corporação afirmam que a proposta de Derrite representa uma tentativa de subordinar a PF a interesses políticos regionais, comprometendo o sigilo e a independência das investigações. O diretor-geral reafirmou que a Polícia Federal é uma instituição de Estado e não aceitará restrições que possam inviabilizar apurações em andamento.
O governo Lula também reagiu. Segundo a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, o projeto modificado é visto como “a maior ofensiva já articulada para afastar a PF do combate ao crime organizado”. Diante da gravidade do impasse, o Planalto convocou uma reunião de emergência com ministros, técnicos do Ministério da Justiça e representantes da corporação.
Apesar de ajustes propostos, o novo texto ainda mantém pontos considerados preocupantes. Ele determina que a PF comunique às autoridades estaduais a abertura de investigações — medida que, segundo delegados, poderia expor informações sigilosas e comprometer operações contra facções e redes de corrupção.
Além disso, o projeto estabelece que a atuação da PF não transfere automaticamente os casos para a Justiça Federal, restringindo o foro de análise aos tribunais estaduais. Essa alteração é vista como uma tentativa de limitar o alcance das investigações e dificultar o avanço de apurações que envolvem políticos, milícias e desvios de recursos públicos.
Nos bastidores, integrantes do Ministério da Justiça avaliam que o texto se transforma em uma espécie de “PEC da Blindagem 2.0”, por criar barreiras institucionais ao trabalho investigativo. O governo articula, agora, para impedir que o projeto avance no Congresso na forma atual, preservando a autonomia da Polícia Federal — vista como peça central no enfrentamento ao crime organizado e na defesa da integridade das instituições democráticas.




