Com apoio financeiro extraordinário dos EUA e vitória nas eleições legislativas, o presidente argentino conquista margem para avançar com reformas radicais — embora o custo social cresça e o receio de dependência externa aumente
POR Sandra Venâncio
O presidente argentino Javier Milei celebrou uma expressiva vitória nas eleições de meio termo, sob aplausos de Donald Trump, que destacou o papel dos Estados Unidos no apoio à Argentina e afirmou que a região sul-americana receberá “muita atenção”. Segundo Trump, Washington firmou um swap cambial de US$ 20 bilhões e negocia mais US$ 20 bilhões em investimento em dívidas argentinas — insumos financeiros que ajudaram a impulsionar a recuperação dos títulos do país e elevar sua classificação de risco.
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Nas legislativas de 26 de outubro de 2025, o partido de Milei, La Libertad Avanza, conquistou cerca de 40 % dos votos nacionais e ampliou assentos tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, reforçando sua capacidade de vetar, legislar e sustentar a agenda econômica.

Esse resultado dá ao presidente argentino um “cheque em branco” para avançar com reformas de choque — mesmo diante de descontentamento popular com cortes, inflação persistente e desemprego.
Analistas lembram, porém, que embora a vitória seja contundente, Milei ainda depende de apoio parlamentar e enfrenta resistências regionais.
O apoio dos EUA e o pacote financeiro
Donald Trump declarou que os EUA “ajudaram muito” para a vitória de Milei, mencionando o swap cambial de US$ 20 bilhões já assinado e uma proposta de mais US$ 20 bilhões em investimentos em dívidas argentinas.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, descreveu o pacote como uma “ponte” para apoiar o programa econômico de Milei, afirmando que Washington está disposto a comprar títulos e usar o Fundo de Estabilização de Câmbio conforme necessário.
A agência de classificação de risco Fitch Ratings reconheceu que o apoio dos EUA evitou um rebaixamento da nota da Argentina, mas alertou que Buenos Aires ainda precisa de um plano mais amplo para reconstruir reservas e conseguir um upgrade.
A agenda de reformas e o “ganho” de mercado
Milei assumiu o poder com uma plataforma radical de liberalização: cortes de gastos, privatizações, desregulação, e redução do papel do Estado — rompendo com décadas de políticas peronistas.
Apesar da forte aposta, ele enfrenta descontentamento popular — inflação ainda alta, desemprego crescente, e setores sociais mobilizados. A vitória eleitoral, portanto, não elimina os riscos internos.
Os mercados reagiram: os títulos argentinos subiram e a confiança externa aumentou — o que Trump classificou como “ganhamos muito dinheiro com essa eleição”. Ele, entretanto, ponderou que “não estamos nisso apenas pelo dinheiro”.
Implicações geopolíticas e riscos
O envolvimento dos EUA nesse apoio maciço à Argentina sinaliza interesse estratégico na América do Sul — tanto em termos econômicos quanto em contenção de influência de potências concorrentes.
Especialistas alertam que esse tipo de intervenção financeiro-política pode gerar dependência externa e criar vulnerabilidades políticas para a Argentina — se o apoio for condicionado a resultados eleitorais ou se reformas não se sustentarem.
Para a Argentina, a oportunidade é dupla: reconstruir credibilidade internacional e oxigenar a economia; mas o êxito dependerá de continuidade da reforma, controle inflacionário e equilíbrio social.
Com a vitória nas urnas e o respaldo financeiro externo, Javier Milei embarca agora em uma fase crítica: tem autoridade para aprofundar sua agenda de choque, mas enfrenta o desafio de transformar essa autoridade em resultados concretos e sustentáveis — sem desencadear uma crise social ou política. O apoio dos EUA lhe deu ferramentas, mas também atrelou seu destino a uma aliança que, embora vantajosa agora, carrega obrigações e riscos de longo prazo.
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