Movimento tenta blindá-lo do centrão e reordenar quem controla o bolsonarismo em 2026
Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirma que sua candidatura à Presidência em 2026 é definitiva e não depende de alianças com o centrão. A declaração, dada à Folha de S.Paulo nesta segunda (8), ocorre um dia depois de o próprio senador ter sinalizado que poderia desistir mediante um “preço” político — o que foi revertido por completo no novo discurso. Agora, ele diz que “não há negociação possível” e que o único nome capaz de substituí-lo seria o do pai, Jair Bolsonaro, cuja inelegibilidade considera irreversível.
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O movimento tenta cravar Flávio como herdeiro político do ex-presidente antes que outras lideranças, em especial o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, avancem sobre o eleitorado de direita. A entrevista busca encerrar a disputa interna e enquadrar o governador como aliado e não concorrente. Segundo Flávio, “não há cenário de eu ser candidato e ele ser”, evitando confronto direto com a figura mais bem posicionada da direita nos estados.

Apesar de dizer que não precisa do centrão, o senador citou interesse em compor com PP, União Brasil e Republicanos, partidos que hoje orbitam o governo federal e negociam repasses orçamentários bilionários. A estratégia tenta manter o discurso de independência financeira e ideológica enquanto busca apoio de estruturas que controlam fundo partidário, tempo de TV e bases municipais.
Disputa por herança política e controle financeiro do bolsonarismo
Ao se declarar “irreversível”, Flávio tenta se blindar de pressões internas que incluem setores do PL ligados à ala evangélica e favoráveis a Michelle Bolsonaro como alternativa feminina, além de deputados que preferem Tarcísio por enxergá-lo como menos vulnerável a investigações e melhor avaliado pelo empresariado.
A estabilização de Flávio como pré-candidato redesenha o controle sobre o caixa eleitoral do bolsonarismo. O PL concentra mais de R$ 350 milhões anuais em fundo partidário e fundo eleitoral, além de possuir a maior bancada federal. Com Flávio no topo, a arrecadação de pequenos doadores e mobilização digital volta a ser controlada diretamente pelo núcleo familiar, com intermediação mínima de caciques partidários.
Esse cenário reduz o espaço de Michelle — que se afastou do PL Mulher sob justificativa de “questões de saúde”, sem histórico público de problemas médicos — e fragiliza lideranças regionais que apostavam em Tarcísio como ponte com o empresariado paulista. Internamente, a mudança tem efeito imediato: quem controla o candidato controla o fluxo do dinheiro de campanha e define quem recebe prioridade de recursos no PL.
Tarcísio pode estar fora, mas a elite empresarial não
A retirada simbólica de Tarcísio da disputa não encerra seu peso político. O governador é sustentado por um bloco empresarial que deseja reaproximação com o setor financeiro e distanciamento de pautas de radicalização. Mesmo fora da corrida presidencial, seu apoio tem valor de mercado político.
Na prática, Flávio afirma que tem “sobrenome” como ativo eleitoral. O sobrenome, porém, também carrega risco jurídico: além da inelegibilidade do pai, o senador é alvo de processos que podem repercutir sobre sua campanha. Se o núcleo empresarial entender que essas investigações ameaçam a eleição, a pressão por um substituto — inclusive Tarcísio — pode retornar em 2026.
Estratégia digital e narrativa de protesto
Ao se autodefinir como “candidato de protesto”, Flávio busca captar o eleitor que vê a política institucional como sistema hostil ao bolsonarismo. A narrativa tenta reproduzir a lógica que impulsionou Bolsonaro em 2018, mas sem o desgaste direto do pai. O discurso não pretende moderação; ao contrário, reforça o núcleo duro e prepara mobilização digital permanente, mesmo sem a presença do ex-presidente nas urnas.




