Ministros contestam relatório que reduz horas semanais sem alterar escala e mobilizam base na véspera da votação
Uma ala do governo federal entrou em campo para barrar o parecer do deputado Luiz Gastão (PSD-CE), que propõe reduzir a carga semanal para 40 horas, mas preserva a escala 6×1 — ponto considerado inegociável pelo Planalto.
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A reação ocorreu na tarde desta terça-feira (2), em Brasília, quando a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Secretaria-Geral, Guilherme Boulos, decidiram tornar pública a divergência interna com o relatório da subcomissão responsável pelo tema. A votação está marcada para esta quarta-feira (3), na Câmara.

Gleisi afirmou que o governo defende a eliminação da jornada 6×1, ao argumentar que a simples redução das horas semanais não garante descanso efetivo. O discurso expôs abertamente um incômodo crescente: a percepção de que o relatório final não apenas ignora acordos prévios, como pode fragilizar o debate dentro da própria base.
O movimento foi acompanhado por parlamentares que patrocinam propostas anteriores sobre o assunto. Reginaldo Lopes (PT-MG), autor de uma PEC que trata da redução da jornada, e Daiana Santos (PCdoB-RS), autora de um projeto de lei similar, indicaram alinhamento total com a posição do governo.
Boulos afirmou que o grupo foi “surpreendido” pelo texto, sinalizando que o Planalto prepara articulação para derrubar ou modificar o parecer nas próximas etapas. A promessa de levar o tema “às ruas” mostra que a disputa tende a extrapolar o plenário e se transformar em disputa pública — reforçada pela ampla aceitação popular captada em levantamentos recentes, que apontam apoio majoritário à mudança.
Nos bastidores, a mobilização do governo revela temor de que setores empresariais ganhem terreno na CCJ, última instância antes de levar a discussão ao plenário. Integrantes do Planalto passaram o dia tentando recompor votos e contornar resistências discretas de partidos da própria base, receosos de desgaste eleitoral com categorias que trabalham em escala contínua.
A discordância entre governo e relator expõe uma reconfiguração silenciosa sobre quem conduz a pauta trabalhista na Câmara. A articulação direta de dois ministros amplia o peso político do tema e cria pressão adicional sobre o PSD, partido do relator, que tenta evitar fissuras internas.
Há também temor de que o parecer abra espaço para negociações pontuais entre setores empresariais e parlamentares, retardando a tramitação e diluindo o alcance da mudança. Interlocutores ligados à pauta trabalhista afirmam que, desde a semana passada, emissários de federações patronais intensificaram conversas, defendendo que a jornada 6×1 seja preservada por “viabilidade operacional” — argumento que o governo vê como tentativa de travar o avanço da proposta.
CCJ
Caso o parecer seja aprovado na subcomissão, a discussão segue para a Comissão de Constituição e Justiça, onde o embate tende a ser mais técnico e jurídico. A CCJ terá de avaliar se a alteração da jornada e o fim da escala impactam cláusulas constitucionais relacionadas à organização do trabalho. O governo teme que este seja o principal ponto de resistência e já monitora eventuais movimentos para retirar trechos do texto durante a análise de constitucionalidade.




