Em cúpula virtual, presidente afirma que bloco tem legitimidade para refundar sistema multilateral e critica “chantagem tarifária” de Washington
Por Sandra Venancio – Foto Joedson Alves/Agencia Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (8) que o Brics tem legitimidade para liderar a refundação do sistema multilateral de comércio, em um cenário marcado pelo aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos a parceiros estratégicos. Ao abrir cúpula virtual dos líderes do bloco, Lula defendeu que a cooperação econômica entre os países emergentes é a alternativa para enfrentar o protecionismo.
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“O comércio e a integração financeira entre nossos países oferecem opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo”, disse. “Reunimos condições para promover uma industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia.”
O presidente citou ainda o papel do Novo Banco de Desenvolvimento, destacou que o grupo representa 40% do PIB mundial e quase metade da população global e defendeu a união em torno da próxima conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para 2026 em Camarões.
Crítica aos EUA
Em seu discurso, Lula disse que princípios básicos do livre comércio estão sendo “enterrados” pelo governo norte-americano. Ele classificou o chamado tarifaço da Casa Branca como “chantagem tarifária” e “instrumento de interferência em questões domésticas”.
“Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos. Dividir para conquistar é a estratégia do unilateralismo”, criticou.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que a medida do presidente Donald Trump tem duplo objetivo: conter a perda de competitividade dos EUA em relação à China e fragilizar a articulação do Brics, que discute substituir o dólar nas trocas comerciais.
Geopolítica e conflitos
Lula também abordou a paralisia de instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU, e citou as guerras da Ucrânia e da Faixa de Gaza como exemplos do “fracasso” da comunidade internacional na solução de conflitos. Ele criticou a presença de submarinos e navios dos EUA no Caribe e afirmou que a região tem vocação pacífica.
“No combate ao terrorismo e aos desafios de segurança pública, não se pode usar desculpas para intervenções à margem do direito internacional”, declarou.
COP30 em Belém
O presidente reforçou o convite aos chefes de Estado para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em novembro de 2025, em Belém. Lula sugeriu ainda a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU para integrar esforços hoje “fragmentados”.
“A COP30 será o momento da verdade e da ciência. Precisamos de uma governança climática mais forte, capaz de exercer supervisão efetiva”, disse.
Governança digital
No discurso, Lula também tratou da necessidade de regulação global sobre o ambiente digital. “Sem soberania digital, seremos vulneráveis à manipulação estrangeira. Isso não significa fomentar isolacionismo tecnológico, mas cooperação baseada em ecossistemas nacionais independentes e regulados.”
Participaram da cúpula virtual os líderes de China, Rússia, África do Sul, Egito, Irã e Indonésia, além do príncipe herdeiro dos Emirados Árabes Unidos, do chanceler da Índia e do vice-ministro de Relações Exteriores da Etiópia.




