No contexto das comemorações dos 150 anos do início da imigração italiana para o Brasil, o presidente Lula recebeu, nesta segunda-feira (15), o presidente da Itália, Sergio Mattarella, no Palácio do Planalto. O encontro oficial serviu à assinatura de acordos bilaterais e à convergência entre os países em temas como a reforma do modelo de governança global, o combate à fome e à pobreza e a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Essa é a primeira vez, em 24 anos, que um presidente da Itália vem ao Brasil.
Em declaração à imprensa, Lula começou agradecendo as doações feitas pelo país europeu à reconstrução do estado do Rio Grande do Sul (RS), onde os primeiros italianos começaram a desembarcar a partir da década de 1870. “Esses laços se reforçam por meio de demonstrações de amizade e solidariedade, como ocorreu em relação às enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul”, elogiou o presidente.
“Por isso, presidente, eu queria, de público, agradecer o governo italiano por toda a ajuda que vocês fizeram para atender o sofrimento do povo brasileiro no estado do Rio Grande do Sul. Pode ter certeza, presidente, que foi de muita, mas de muita valia, e de muita importância. E eu tenho certeza que o povo gaúcho […] será eternamente grato ao povo italiano por sua generosidade”, reconheceu Lula a Mattarella, ao lembrar das 25 toneladas de ajuda humanitária enviadas ao RS.
No encontro bilateral, os presidentes trataram dos desafios mais relevantes a serem encarados pelos países atualmente: a preservação da democracia, a guerra na Ucrânia, o conflito em Gaza, o combate à fome e à pobreza, a transição ecológica e a reforma da governança global. Em 2024, o Brasil ocupa a presidência rotativa do G20, enquanto que a Itália, a do G7.
“Na presidência do G20 e do G7, respectivamente, Brasil e Itália têm a oportunidade de liderar a busca por soluções para os problemas compartilhados […] País sede da FAO e do programa mundial de alimentos, a Itália convidou o Brasil a participar do grupo de trabalho sobre a segurança alimentar do G7. Retribuí a confiança convidando a Itália para se somar à aliança global de combate à fome e à pobreza que lançaremos no Brasil por ocasião do G20”, detalhou Lula.
Sobre o livre comércio Mercosul-UE, cujas negociações já se arrastam por 25 anos, Lula manifestou ao presidente da Itália o desejo do Brasil de concluir, o quanto antes, o acordo. “Que seja equilibrado e que contribua para o desenvolvimento das duas regiões. Explicitei que o avanço das negociações depende dos europeus resolverem suas próprias contradições internas”, defendeu, antes de enumerar alguns dos investimentos italianos feitos no Brasil.
Acordos bilaterais
Na reunião com Mattarella, Lula conversou também sobre a necessidade de ampliação e diversificação do comércio bilateral entre Brasil e Itália, que estão entre as 10 maiores economias do mundo. “Dois países dessa estatura devem ter um fluxo de comércio e investimentos à altura da sua riqueza. Nossa corrente de comércio de aproximadamente US$ 10 bilhões só agora retomou aos níveis registrados há uma década”, disse Lula.
“A retomada, em breve, do Conselho Brasil-Itália de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Industrial e Financeiro poderá contribuir muito nesse sentido”, acrescentou.
Na área acadêmica e de pesquisa em segurança alimentar, acordos e memorandos de entendimento foram firmados entre a Universidade de São Paulo (USP), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade de Turim. Brasil e Itália assinaram ainda tratado de reconhecimento recíproco de carteira de habilitação, visando fomentar o turismo nos dois países.
Relações Brasil-Itália
Brasil e Itália mantêm longevos laços diplomáticos, com intenso diálogo político, troca de perspectivas acerca dos temas internacionais e proximidade social e cultural. No Brasil, são mais de 30 milhões de indivíduos de origem italiana, considerados a maior comunidade de italianos fora da Itália, informa o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Nas principais cidades do país europeu, os brasileiros somam 100 mil, contando aqueles que dispõem de dupla cidadania.
Por ano, em média, cerca de 300 mil brasileiros visitam a Itália, enquanto que 240 mil italianos viajam ao Brasil.
Os investimentos italianos cobrem uma gama de setores da economia brasileira e fazem da Itália o 12º maior investidor direto no país. Operam em território nacional 1,5 mil empresas italianas, responsáveis por centenas de milhares de empregos. Os aportes estão concentrados, principalmente, no ramo imobiliário, na telefonia, no comércio atacadista de alimentos e na fabricação de máquinas, equipamentos, peças e acessórios para veículos.
“A Itália é uma importante fonte de investimentos para o Brasil. As quase 1,5 mil empresas italianas instaladas aqui geram mais de 150 mil empregos. Desde o início deste mandato, trabalhamos para atrair ainda mais investimentos. Vemos interesse da indústria automotiva pelo Brasil, como o anúncio de R$ 30 bilhões do grupo Stellantis para modernização e ampliação do setor automobilístico no Brasil. É o maior investimento da indústria automotiva em toda a América do Sul”, comemorou Lula, por meio do “X”.