Com a crise econômica, altas taxas de desemprego, redução de salários e suspensão dos contratos de trabalho durante a pandemia do novo coronavírus, aumentou para 67,4% no mês de julho o percentual de famílias brasileiras endividadas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal e prestação de carro.
É o maior nível de dívida das famílias da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta terça-feira (28) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Tipo de dívida
A dívida mais comum entre os brasileiros é o cartão de crédito, declarado por três em cada quatro entrevistados, com 76,2%. Carnês foram mencionados em 17,6% das entrevistas; financiamento de carro, em 11,3% e financiamento de casa, em 10,1%.
Dívidas por faixa de renda
Bateu recorde e chegou a 69% em julho – em junho era de 68,2% – o endividamento das famílias com renda de até 10 salários mínimos, as mais afetadas pela crise e medidas como o isolamento social para conter a disseminação do vírus e as leis propostas por Jair Bolsonaro (ex-PSL) e aprovadas pelo Congresso que reduziu a renda dos trabalhadores e trabalhadoras.
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Já entre as famílias que recebem acima de 10 salários mínimos, a proporção de endividamento diminuiu para 59,1% em julho, contra 60,7% em junho. Apesar da flexibilização da quarentena em vários estados, muitas famílias não estão querendo frequentar lugares com aglomeração de pessoas com receio de contrair a Covid-19 e um desses lugares são os shoppings que vem registrando vendas muito menores do que antes da pandemia.
O número de famílias com dívidas ou contas em atraso aumentou de 25,4% em junho para 26,3% em julho, atingindo a maior proporção desde setembro de 2017. Na comparação com julho de 2019, houve crescimento de 2,4 pontos percentuais. Neste item, também foi observado comportamento distinto entre as faixas de renda: a parcela de brasileiros inadimplentes que recebem até 10 salários mínimos por mês cresceu de 28,6% em junho para 29,7% em julho, enquanto no grupo com renda superior a 10 salários o percentual registrou leve retração mensal (de 11,3% em junho para 11,2% em julho).
“Embora o tempo de atraso nas quitações tenha aumentado em julho, os atrasos acima de 90 dias estão em queda desde antes da pandemia e mantiveram a trajetória decrescente durante a crise”, chama a atenção a economista.
Outro percentual calculado pela pesquisa é o das famílias que não terão condições de pagar suas dívidas, que chegou a 12% em julho, acima dos 11,6% de junho e dos 9,6% de julho de 2019. Nesse caso, o percentual cresceu para os dois grupos de renda: de 13,2% em junho para 13,7% em julho no caso das mais pobres; e de 4,7% em junho para 4,9% em julho no caso das mais ricas.
Nível de endividamento
O número de pessoas que se declararam muito endividadas teve, em julho, sua primeira queda desde o início do ano. O percentual caiu de 16,1% em junho para 15,5%. No ano passado, porém, essa fatia dos entrevistados era de 13,3%.
Em média, as famílias declararam que as dívidas consomem 30,3% de sua renda, percentual que caiu em relação a junho, quando era de 30,4%. Já em julho de 2019, eram 29,9%.
Ainda segundo a pesquisa, o tempo médio de comprometimento com dívidas cresceu e chegou a 7,4 meses em julho. Uma parcela de 21,2% das famílias declarou ter dívidas até três meses, enquanto 34,5%, por mais de um ano. Também se elevou o tempo médio para quitação das dívidas das famílias inadimplentes, de 60,7 dias em junho para 61 dias em julho.