Na noite da última segunda-feira (20), o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, anunciou oficialmente a aquisição do Acervo Glauber Rocha pelo Ministério da Cultura para acesso ao público. A cerimônia ocorreu, em Salvador, no Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha.
Para Juca Ferreira, Glauber Rocha sempre repercutirá na cultura brasileira exatamente pela transcendência da sua obra. “Glauber não se traduz em reduções simplórias. Não se explica em dois minutos. Não se define exatamente pelo seu permanente estado de combustão criativa, por essa militância apaixonada”.
Durante a cerimônia, o Secretário de Cultura do Estado da Bahia, Márcio Meirelles, explicou que “a Bahia resolveu investir no audiovisual tanto pela questão da identidade cultural e para poder levá-lo mundo afora, como também para gerar emprego e renda”. Ele também destacou o trabalho que foi feito durante as gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira: “A revitalização da ação cinematográfica brasileira é fruto de uma política do Ministério da Cultura que tem mudado as faces do Brasil”.
No evento, houve também uma sessão especial de exibição do filme “Leão de Sete Cabeças” (“Der Leone Have Sept Cabeças”), gravado na África, em 1970, que é o primeiro filme estrangeiro feito por Glauber Rocha, criador do cinema novo. O filme aborda os conflitos do colonialismo africano e da invasão estrangeira, e até hoje era inédito no circuito comercial brasileiro, retornando às telas agora a partir de um trabalho de restauração da obra. “Leão de Sete Cabeças” foi totalmente restaurado e lançado em DVD duplo. Posteriormente, o filme será distribuído entre instituições participantes do projeto, cineclubes e faculdades de cinema.
Acervo
O Acervo de Cinema Glauber Rocha é composto de 22 filmes de Glauber, além de 80 mil documentos que incluem correspondências pessoais, roteiros de filmes, peças de teatro, poemas e romances. Desse total, 223 roteiros e projetos de livros permanecem inéditos. O investimento do Ministério da Cultura na compra do acervo foi de R$ 3 milhões.
A compra do acervo pelo Ministério da Cultura faz parte de uma política de aquisição de obras do cinema brasileiro, que será disponibilizado ao público na Cinemateca Brasileira. “Nós tivemos uma contribuição bem extensiva de toda a história do audiovisual brasileiro, do cinema em particular, não só pela preservação da memória, mas pela valorização, do conjunto da obra do cinema brasileiro e da importância que a obra tem para o Brasil de ver nas telas, de recriar, compreender e inventar”, afirmou o ministro Juca Ferreira.
Restauração
A coleção Glauber Rocha é um projeto de restauração, difusão digital e cinematográfica, iniciado em 2003, que com o patrocínio da Petrobras e por meio da Lei Rouanet, já restaurou em tecnologia digital de alta definição os clássicos “Barravento” (1960), “Terra em Transe” (1967), “O Dragão da Maldade Contra o Santo Gerreiro” (1969) e “A Idade da Terra” (1977), lançados no cinema e em DVDs duplos em 2008.
O restauro do filme “O Leão de Sete Cabeças” faz parte deste projeto e inicia a fase de recuperação de filmes que Glauber Rocha dirigiu fora do Brasil entre 1970 e 1975, durante o período de seu exílio político. Além dele, “Cabeças Cortadas”, “Claro”, “História do Brasil” e “As Armas e o Povo” integram as co-produções glauberianas com italianos e espanhóis.
A cópia original do filme “Leão de Sete Cabeças” foi entregue a Cinemateca Brasileira, instituição vinculada ao MinC, em 2009, após permanecer mais de 30 anos na Cinemateca Nazionale di Roma. O método adotado pela Cinemateca Brasileira foi o de escaneamento no formato 4K e o restauro digital 2K. Este processo possibilitou a confecção de uma nova matriz em alta definição e um negativo em 35mm.
Bahia 100 anos de cinema
Durante o ato público foi lançado também uma coleção especial de filmes chamada “Bahia 100 anos de cinema”, com 30 obras representativas do cinema baiano reunidas em 12 DVDs, no total aproximado de 20 horas de programação. A coleção foi realizada com as curadorias dos críticos e especialistas em cinema, Rubens Machado e Carlos Alberto Matos, pela pesquisadora Maria do Socorro Carvalho e pelo cineasta Joel de Almeida.