Ministro do STF reagiu a alegação do advogado de Filipe Martins, que citou presença do governador em planilha de acessos ao palácio presidencial em 2022
Foto Fabio Rodrigues Pozzebon/Agencia Brasil
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vai oficiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), após o nome do ex-ministro da Infraestrutura ter sido citado durante depoimento da ação penal que apura tentativa de golpe de Estado no fim do governo Jair Bolsonaro.
A citação ocorreu durante audiência em que o advogado Jeffrey Chiquini, representante de Filipe Martins (ex-assessor de Bolsonaro), questionou o ex-ajudante de ordens Mauro Cid se o então ministro Tarcísio esteve presente em uma suposta reunião no Palácio da Alvorada, em dezembro de 2022. A pergunta baseava-se em uma planilha de controle de entrada no local, que apontava o nome de Tarcísio no mesmo dia e horário atribuídos a outros envolvidos.
Diante do questionamento, o ministro Moraes reagiu de forma firme e afirmou que “não se pode lançar ilações sem prova”. Na ocasião, interrompeu o advogado e destacou que Tarcísio “não é parte da ação” e que, se houvesse elementos concretos contra ele, os autos deveriam ser remetidos à Procuradoria-Geral da República (PGR) para apuração formal.
“O senhor está insinuando que o governador de São Paulo participou de reunião golpista? Isso é muito sério. Se essa for a alegação, será necessário ouvir sua versão e enviar as informações à PGR”, declarou Moraes.
Ainda na audiência, Chiquini afirmou que não estava acusando o governador, mas apontando possíveis inconsistências nas investigações. Segundo ele, a presença de Tarcísio na planilha seria ignorada pelas autoridades, ao passo que outras pessoas, como seu cliente Filipe Martins, teriam sido formalmente denunciadas.
Após o embate, Moraes comunicou que enviará ofício ao governador solicitando esclarecimentos sobre a eventual presença no Alvorada e, se necessário, remeterá o caso à PGR.
Defesa nega insinuação
Em nota divulgada à imprensa, o advogado Jeffrey Chiquini esclareceu que não acusou Tarcísio de participação em qualquer reunião golpista, mas quis demonstrar que houve tratamento desigual nas investigações, dado que outras pessoas com registros semelhantes foram denunciadas.
“Não estou fazendo acusação ao governador. A pergunta foi para demonstrar a seletividade e a fragilidade dos elementos que sustentam a denúncia contra meu cliente”, declarou.
Chiquini ainda destacou que registros de entrada no Alvorada podem ser falhos ou manipuláveis, segundo depoimento anterior do próprio Mauro Cid.
Tarcísio nega qualquer envolvimento
A assessoria de imprensa do governador Tarcísio de Freitas emitiu comunicado reafirmando que ele não participou de nenhuma reunião com teor golpista, que nunca foi investigado ou denunciado, e que já prestou todos os esclarecimentos necessários à Polícia Federal, em depoimento dado em 30 de maio.
“O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, repudia qualquer tentativa de vinculá-lo a atos antidemocráticos. Sua atuação sempre esteve dentro dos marcos legais e constitucionais. Em nenhum momento participou de qualquer reunião com conteúdo golpista, tampouco com os envolvidos nos episódios investigados pelo STF”, diz a nota oficial.
A planilha mencionada por Chiquini seria apenas um registro administrativo de entrada, sem comprovação de que o governador tenha participado de encontros clandestinos ou reuniões irregulares.
PGR pode avaliar novo pedido
Com a formalização do ofício, caberá à Procuradoria-Geral da República decidir se há elementos suficientes para abertura de nova frente investigativa ou se a menção a Tarcísio será descartada. Até o momento, o nome do governador não aparece em nenhuma denúncia formal apresentada ao STF.
O episódio intensifica o clima político em torno das investigações do 8 de janeiro e do inquérito sobre tentativa de golpe, que já envolve nomes como Jair Bolsonaro, Braga Netto, Filipe Martins, Anderson Torres, entre outros.