O movimento dos “indignados” contra a crise e as finanças globais, que teve seu início na Espanha, repercutiu mundialmente neste final de semana, levando às ruas dezenas de milhares de pessoas em manifestações marcadas por incidentes e prisões em Roma e Nova York.
“O movimento dos indignados renasce como uma força global”, proclamou em sua capa de domingo (16) o jornal El País, principal diário da Espanha, onde em 15 de maio os primeiros “indignados” começaram a levantar suas barracas em pleno centro de Madri. É a primeira vez que uma “iniciativa cidadã” consegue organizar “de forma coordenada tantas manifestações em lugares diferentes e afastados”, diz o jornal.
Sob slogans como “povos do mundo, levantem-se”, ou “sair à rua cria um novo mundo”, os “indignados” convocaram no sábado (15) manifestações em 951 cidades de 82 países, segundo o site 15october.net, em protesto contra a precariedade vinculada à crise e o poder das finanças. “Evidentemente, existe agora um movimento internacional”, confirmou o editorialista do Repubblica, Eugenio Scalfari.
“Expressa a cólera de uma geração sem futuro nem fé nas instituições tradicionais, políticas, mas também financeiras, que são consideradas responsáveis pela crise e que se aproveitam dos danos causados ao bem comum”, prossegue o editorialista.
“O mundo sai às ruas, de forma pacífica e colorida”, assegura o La Stampa, apesar da manifestação de Roma ter sido a mais violenta, perturbada desde o início por indivíduos descontrolados que quebraram vitrines e queimaram automóveis. Os confrontos com a polícia deixaram 70 feridos, entre eles três graves. Doze pessoas foram detidas.
Além de Roma, onde dezenas de milhares de pessoas protestaram pacificamente, Madri e Lisboa foram cenário das maiores marchas. Milhares protestaram também em Washington e Nova York, onde 88 pessoas foram detidas.
“Somos o povo, e eles nos venderam”, “a cada dia, a cada semanas, ocupemos Wall Street”, foram suas principais mensagens. Em Londres, várias centenas de “indignados” passaram a noite de sábado para domingo em barracas na praça na frente da catedral de St. Paul, no coração da City, após a manifestação do dia anterior, marcada também por alguns confrontos e prisões.
No sábado, de 2.000 a 3.000 “indignados”, segundo estimativas da BBC, protestaram ao redor da St. Paul, entre cartazes contra a política de austeridade do governo britânico e os cortes orçamentários, assim como contra o sistema financeiro. Também em Amsterdã foram levantadas 50 barracas, colocadas na praça da Bolsa, onde os indignados passaram a noite de sábado para domingo.
Genebra, Miami, Paris, Saraievo, Zurique, Cidade do México, Lima, Santiago, Hong Kong, Tóquio, Sidney… a “indignação” contra o capitalismo foi expressada no sábado praticamente em todos os continentes. E receberam inclusive um inesperado apoio: o do governador do Banco da Itália, Mario Draghi, ex-diretor do Goldman Sachs, símbolo da desregulamentação das finanças anglo-saxãs, que no mês que vem assumirá a presidência do Banco Central Europeu.
“Os jovens têm razão de estar indignados”, declarou Draghi a jornalistas italianos no sábado paralelamente a uma reunião de finanças do G20 em Paris. “Estão irados contra o mundo das finanças. Eu os compreendo”, completou.