O maior resgate em um mesmo local foi de 273 trabalhadores, em fazendas arrendadas pela WD Agroindustrial em Varjão de Minas (MG), considerado o maior resgate de trabalho análogo à escravidão da última década no Brasil. Foto MPT
A cadeia da cana de açúcar foi a responsável pelo maior número de trabalhadores em situação análoga à escravidão no Brasil em 2022. Foram encontradas 362 pessoas nessa situação no cultivo de cana, quase 20 vezes mais que o número de trabalhadores resgatados na atividade no ano de 2012, quando foram realizadas 19 libertações.
O número representa um aumento de 800% em relação a 2019, primeiro ano da gestão de Jair Bolsonaro (PL), quando foram 45 trabalhadores resgatados no setor. Em 2021, foram 132 pessoas encontradas em situação análoga à escravidão.
“Essa atividade mudou, ela se mecanizou e acho que é natural que a gente busque um número menor de resgatados a cada ano. Isso aconteceu em 2016, 2017. Só que em 2018 esse número começou a subir e não parou mais”, pontua Maurício Krepsky Fagundes, auditor fiscal e chefe da Divisão de Fiscalização para a Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae).
“Atualmente qualquer número que seja maior que 100 trabalhadores no mesmo local já nos surpreende. Em 2007, que foi o ano em que mais trabalhadores foram resgatados, mais de 6 mil naquele ano, somente em três estabelecimentos houve mil trabalhadores no mesmo local. Foi justamente no cultivo de cana de açúcar”, alerta Krepski.
Minas Gerais lidera
Alavancado pela cadeia sucroalcooleira, Minas Gerais lidera o número de trabalhadores resgatados da escravidão contemporânea no país desde 2013, bem como o número de operações. Das 462 operações efetuadas pela Inspeção do Trabalho em 2022, 117 foram em Minas, o que resultou em 1070 pessoas libertadas. Dos 6 municípios com o maior número de resgates no cultivo da cana-de-açúcar em 2022, 4 estão em Minas Gerais.
O maior resgate em um mesmo local foi de 273 trabalhadores, em fazendas arrendadas pela WD Agroindustrial em Varjão de Minas (MG), considerado o maior resgate de trabalho análogo à escravidão da última década no Brasil.
“É mais barato contratar trabalhadores a um salário de fome, em condições degradantes e em jornadas exaustivas, do que ter uma fazenda de uma forma mais moderna. É basicamente isso que acontece. Então, a gente volta a observar situações que eram mais comuns, por exemplo, no início dos anos 2000”, pontua Lívia Miraglia, professora de Direito ao Trabalho da UFMG e presidente da Comissão de Combate ao Trabalho Escravo – OAB-MG.
Maurício Krepsky ressalta a necessidade de aumento de pessoal na Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae/CGFIT/SIT). O último concurso para o cargo aconteceu em 2013. Hoje, são apenas 24 auditores fiscais do trabalho que participam das operações em todo o Brasil.