Nova fase da Operação Sem Desconto mira senador, afasta número dois da Previdência e aprofunda investigação sobre descontos ilegais em aposentadorias
A Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira uma nova etapa da Operação Sem Desconto, ampliando o cerco a um esquema nacional de fraudes em benefícios do INSS que pode ter desviado até R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A ofensiva desta fase atinge diretamente o núcleo político e administrativo do sistema previdenciário, com mandados de busca contra o senador Weverton Rocha (PDT-MA) e medidas severas contra integrantes do alto escalão do Ministério da Previdência.
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O secretário-executivo da pasta, Aldroaldo Portal, foi afastado do cargo e colocado em prisão domiciliar por determinação do Supremo Tribunal Federal. Ele ocupava o posto de número dois do ministério e já havia atuado como chefe de gabinete do senador Weverton, ligação que passou a ser examinada pelos investigadores diante do avanço da apuração. No mesmo dia, foram presos Romeu Carvalho Antunes, filho de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e Éric Fidélis, filho do ex-diretor de Benefícios do órgão, André Fidélis. Ambos são apontados como operadores do esquema que se infiltrou na máquina previdenciária.

Ao todo, a operação cumpre 52 mandados de busca e apreensão, 16 prisões preventivas e outras medidas cautelares em São Paulo, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Minas Gerais, Maranhão e no Distrito Federal. O número de presos ainda estava em atualização até o fechamento desta edição. A investigação foi autorizada pelo STF, indicando indícios de envolvimento de autoridades com foro privilegiado.
O esquema, revelado na primeira fase da operação em abril, consistia na cobrança mensal de valores diretamente dos benefícios de aposentados e pensionistas, sem autorização dos titulares. Os descontos apareciam como contribuições associativas, simulando a filiação dos beneficiários a entidades de aposentados que, na prática, não prestavam os serviços prometidos nem possuíam estrutura para tal. As associações alegavam oferecer assistência jurídica e vantagens comerciais, mas funcionavam como fachada para a retirada sistemática de recursos.
Onze entidades tiveram contratos suspensos e passaram a ser alvo de medidas judiciais. A dimensão do rombo e a capilaridade do esquema provocaram uma crise política no governo federal, culminando na saída do então ministro da Previdência, Carlos Lupi. Ele deixou o cargo após a investigação atingir sua gestão. O comando da pasta foi assumido por Wolney Queiroz, que até então exercia a função de secretário-executivo.
Paralelamente à investigação criminal, o governo iniciou em julho o processo de devolução dos valores descontados de forma irregular. O ressarcimento está sendo feito em parcela única, sem ordem de prioridade, e o prazo para contestação foi estendido até 14 de fevereiro de 2026. A medida busca mitigar os danos causados a milhões de beneficiários, mas não interfere no curso das apurações, que agora se concentram em rastrear responsabilidades políticas, administrativas e financeiras.
Operação Sem Desconto
A investigação passou a examinar conexões entre dirigentes do INSS, operadores financeiros e agentes políticos, incluindo vínculos funcionais e históricos de nomeações. O foco é identificar como as associações conseguiram autorização sistêmica para os descontos, quem facilitou o acesso aos cadastros de beneficiários e como os recursos foram distribuídos ao longo da cadeia. A presença de familiares de ex-dirigentes entre os presos reforça a suspeita de um esquema estruturado dentro do órgão, com ramificações políticas que ainda estão sendo mapeadas.




