André Gaúcho, Eduardo Arroz, Leandrinho e André. Além da vontade de vencer pela Ponte Preta, esses quatro jogadores têm mais duas coisas em comum. A primeira, todos tiveram o mesmo tipo de lesão de joelho, um rompimento do ligamento cruzado anterior. A segunda coincidência, porém, levou a uma mudança de postura que pôde ser verificada nos pés dos jogadores pontepretanos durante o treino de hoje: todas as vezes em que os quatro sofreram a lesão, o tipo de chuteira utilizado por eles era exatamente o mesmo, o com travas de “ barbatana de tubarão”.
“O apelido da chuteira é por que as travas se assemelham às barbatanas do animal, mas em posição inversa, para dar mais firmeza ao jogador em campo. Não há como afirmar com certeza absoluta que essas travas são responsáveis pelas lesões, mas o fato é que elas dificultam o giro do jogador. Na prática, o atleta vai fazer o giro rápido, sozinho ou muitas vezes para se proteger de um choque, e o pé permanece fixo na mesma posição no chão, enquanto o restante do corpo se movimenta”, explica o fisioterapeuta Eduardo Bassi, coordenador geral do Ponte IMAP (Instituto de Medicina e Avaliação da Performance).
Bassi lembra que jogadores de outros times que tiveram contusões semelhantes, por coincidência ou não, também estavam utilizando o mesmo modelo de chuteira – disponível em várias marcas. “O Nilmar, por exemplo, é um dos que rompeu o ligamento e usava a chuteira com cravo de barbatana no momento em que ocorreu a lesão. O médico do Palmeiras, Vinícius Martins, disse que o jogador Alemão (na época no Palmeiras) e o Obina (então no Flamengo) também usavam quando se lesionaram. O Joaquim Grava, outro médico especialista na área esportiva, também já alertou para o fato e, por mais que não haja uma pesquisa científica que confirme ou negue o fato, a coincidência nos fornece indícios suficientes para que recomendemos a não-utilização”, pontua Bassi.
A recomendação foi passada ontem mesmo pelo técnico Wanderley Paiva aos jogadores – “coincidência ou não, não custa nada nos precaver”, alertou o treinador – e já teve resultados hoje (importante notar que cada jogador tem o direito de utilizar a chuteira que acha mais adequada para desenvolver seu trabalho, razão pela qual efetivamente não há uma padronização). O volante Guilherme, por exemplo, era um dos adeptos desse tipo de chuteira e no treino desta sexta já aboliu seu modelo barbatana, optando pela chuteira com o tradicional cravo redondo.
“Pode até ser coincidência, mas achei bom mudar porque realmente pode ter alguma coisa a ver, então é melhor não arriscar. Fizemos inclusive umas tentativas de giro rápido na grama e vimos que realmente ela não deixa o pé girar”, diz Guilherme.
A recomendação de não usar as chuteiras com trava de barbatana recebeu ainda um reforço de peso: o atacante Leandrinho, em fase final de recuperação após o rompimento do ligamento ocorrido em março deste ano. Desde que sofreu a lesão, Leandrinho não usa mais esse tipo de equipamento e aproveita a própria história para convencer os colegas a fazerem o mesmo.
“Depois da lesão do Nilmar eu já desconfiava que a chuteira poderia ser uma possível causadora, mas, apesar de sempre ter tido medo de sofrer uma lesão no joelho, usava a barbatana de teimoso. Até que me lesionei. Agora deixei todas as chuteiras desse tipo guardadas na casa da minha família em São Paulo. Pode até ser que ela não tenha nada a ver com isso, mas com tanta coincidência, todo cuidado é pouco: no meu pé não entra mais.”
Confira abaixo os jogadores que tiveram as lesões e usavam o mesmo tipo de chuteira, com cravo em forma de barbatana de tubarão:
André Gaúcho – Em 28 de agosto de 2007, em partida contra o Paulista, o zagueiro rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito. Em maio de 2008, o zagueiro estava recuperado quando sofreu nova lesão idêntica durante um treino da Ponte.
Eduardo Arroz – Em 22 de novembro de 2008, durante treino, em giro praticado sozinho em jogada individual, Arroz rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e passou por cirurgia. Em 15 de setembro, já recuperado e jogando normalmente, Arroz novamente rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. Desta vez a lesão ocorreu em uma partida contra a Portuguesa: novamente sozinho, o atleta pisou em um equipamento de irrigação e ao pisar e girar o corpo seu pé não se mexeu.
Leandrinho – Em 29 de março de 2009, durante partida contra o Guaratinguetá, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito, após giro de corpo.
André – Durante treino em 21 de outubro de 2009, rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho direito ao fazer um giro em jogada individual.