Documentos apreendidos em Brasília mostram monitoramento detalhado de Robinson Barreirinhas; empresa deve quase R$ 30 bilhões e é investigada por sonegação e fornecimento de combustível ao PCC
A operação realizada na semana passada contra a refinaria Fit — antiga Refit, ou Manguinhos — revelou que a empresa mantinha um dossiê manuscrito com informações sobre a trajetória profissional e dados familiares do secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas. O material, encontrado no escritório da empresa em Brasília, aponta para um monitoramento minucioso de cargos, indicações e vínculos políticos do atual chefe da Receita, em meio a uma investigação por sonegação bilionária e possíveis conexões com postos ligados ao PCC.
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Investigadores afirmam que o dossiê foi encontrado durante buscas que apuram um rombo de quase R$ 30 bilhões em tributos não pagos pela Fit. A refinaria é considerada pela Receita como uma das maiores sonegadoras do país e enfrenta diversas ações de cobrança.

O incômodo entre autoridades aumentou quando veio à tona que o material também fazia referências a familiares do secretário — dados considerados sem qualquer utilidade operacional para procedimentos administrativos ou jurídicos.
Fontes ligadas à empresa afirmam que o levantamento seria parte de um “processo padrão” para mapear relações institucionais e identificar interlocutores úteis a suas demandas. A justificativa, porém, não convenceu investigadores, que querem compreender o real propósito da coleta desses dados em meio a um cenário de litígios fiscais e suspeitas de práticas irregulares.
O nome do ministro da Fazenda também aparece no final da página apreendida, com a lista de cargos de primeiro escalão que ele ocupou desde 2003. Investigadores avaliam se o monitoramento tinha como objetivo antecipar movimentos da alta cúpula econômica do governo.
Paralelamente às acusações de sonegação, a Fit é alvo de outra frente de apuração: a venda de combustíveis para postos administrados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). A suspeita é que margens e condições especiais tenham beneficiado estabelecimentos sob controle da facção, ampliando o alcance das investigações para o campo do crime organizado e da lavagem de dinheiro.
A apreensão do dossiê levanta dúvidas sobre a prática de monitoramento de servidores estratégicos por empresas com grandes dívidas tributárias. Investigadores tentam identificar quem produziu o documento e se relatórios semelhantes existem para outros integrantes do Ministério da Fazenda e da Receita. Há também indícios de que parte das informações foi atualizada recentemente, o que sugere acompanhamento contínuo.
Outro ponto em análise é a relação entre o mapeamento e decisões judiciais que impactaram a refinaria nos últimos anos. Procuradores avaliam se a empresa buscava prever movimentos do governo federal ou influenciar interlocutores em processos de cobrança.
Sonegação
Além das acusações de sonegação, o mapeamento pode levar a novos enquadramentos caso se confirme a intenção de obter vantagem indevida mediante pressão, intimidação velada ou tentativa de interferir em decisões administrativas. Especialistas consultados apontam que, dependendo dos detalhes, podem ser avaliados crimes como associação criminosa e violação de dados pessoais.
A Polícia Federal já solicitou perícia no material apreendido e pode ampliar a investigação para entender se o dossiê circulou entre executivos da empresa ou terceiros com influência política.
O Ministério Público Federal também deve pedir cópia integral dos documentos para cruzar com apurações sobre o suposto fornecimento de combustível ao PCC.
Nos bastidores do Ministério da Fazenda, o clima é de preocupação com a possibilidade de que outras grandes devedoras mantenham rotinas internas de monitoramento de autoridades fiscais. A descoberta gerou debate sobre a vulnerabilidade de servidores que atuam em áreas sensíveis de cobrança e fiscalização.
Nas redes sociais, a revelação se espalhou rapidamente, com internautas questionando a dimensão das atividades da Fit e levantando especulações sobre a relação entre a empresa, grupos políticos e organizações criminosas. Perfis ligados ao setor de petróleo e combustíveis comentaram que o caso pode abrir uma nova frente de investigação sobre práticas recorrentes no mercado.




