Operações miram células do Estado Islâmico sob justificativa de proteção a cristãos
Os Estados Unidos realizaram ataques aéreos contra militantes ligados ao Estado Islâmico no estado de Sokoto, noroeste da Nigéria, durante a noite de Natal. A ofensiva foi ordenada pelo presidente americano Donald Trump, que comunicou a ação em mensagem publicada de seu clube em Palm Beach, na Flórida, durante o feriado. A operação foi conduzida sob anuência do governo nigeriano, segundo informações militares.
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Trump afirmou que o objetivo seria retaliar grupos responsáveis por ataques contra comunidades cristãs na região. A justificativa ecoa advertências feitas desde outubro, quando ele declarou que o cristianismo estaria sob “ameaça existencial” no país africano e que poderia haver resposta militar caso a violência continuasse. A mensagem reforça uma linha de discurso associada a políticas de intervenção baseadas em critérios religiosos, apresentada como defesa de minorias perseguidas.

A ofensiva ocorre em um contexto de instabilidade prolongada no norte e nordeste nigerianos. Regiões como Sokoto e Borno têm histórico de atentados extremistas, atribuídos a facções vinculadas ao Estado Islâmico e ao Boko Haram. No mesmo dia, um ataque suicida contra uma mesquita em Maiduguri, capital de Borno, deixou mortos e dezenas de feridos. Nenhum grupo assumiu autoria.
O governo nigeriano sustenta que a violência atinge diferentes segmentos, incluindo muçulmanos e cristãos. A disputa narrativa se intensifica desde que Washington direcionou críticas a Abuja por supostamente falhar na proteção a comunidades cristãs. Paralelamente aos ataques, voos de reconhecimento norte-americanos vêm sendo realizados sobre áreas sensíveis desde novembro, como preparação estratégica.
Na Nigéria, a divisão populacional — muçulmanos concentrados no norte e cristãos no sul — alimenta tensões políticas e religiosas, usadas por grupos extremistas para justificar ações violentas. A cooperação militar com Washington expõe o governo local a cobrança interna por transparência e soberania nas operações externas, enquanto a intervenção americana tende a repercutir no debate internacional sobre os limites da atuação militar extraterritorial sob alegação de proteção de minorias.
Pano de fundo e impactos regionais
Levantamentos de organismos internacionais indicam que Sokoto e Borno figuram entre os estados com maior incidência de ataques atribuídos a grupos jihadistas na última década. A atuação de células aliadas ao Estado Islâmico e ao Boko Haram gerou deslocamentos humanitários, fechamento de vilarejos e retração de atividades agrícolas. A presença norte-americana na região se expandiu nos últimos anos por meio de bases logísticas e acordos de cooperação antiterrorismo, somando apoio de inteligência, drones e treinamento.
Especialistas em relações internacionais avaliam que intervenções motivadas por discursos religiosos podem ampliar tensões e provocar reações de grupos armados, ao mesmo tempo em que reforçam a dependência de governos locais de apoio externo para manter controle territorial.




