Vivemos um momento ímpar na história recente onde nenhum de
nós estava preparado para ter de interromper o ritmo normal do nosso cotidiano
para combater um inimigo microscópico, o covid-19, que nos fez ficar em casa
para conter o aumento da curva de contágio e proteger principalmente nossos
idosos.
No entanto, também não tínhamos como prever as consequências do isolamento
forçado e da quarentena no nosso comportamento e nas relações domésticas e
familiares, dado que esta era uma situação inimaginada, prevista apenas na
ficção Hollywoodiana.
Dados apontam para o aumento de casos de Violência Doméstica, neste momento de
Isolamento Social. No Rio de Janeiro houve um aumento de 50% de casos de
violência doméstica, durante o confinamento. E qual a explicação para estes
números alarmantes?
A neuropsicóloga Roselene Espírito Santo Wagner, conhecida como Dra.
Leninha Wagner, revela o que pode estar por trás das estatísticas e dos fatos:
“Se por um lado nos afastamos voluntariamente do convívio social, por outro nos
expomos a um excesso de convívio familiar. Que em alguns, despertou o
sentimento de confinamento, de exclusão, exacerbando a agressividade, que antes
era liberada, de forma criativa nas relações e programas sociais.”
O que diz a ciência?
A especialista aponta que são vários os estudos que associam o retraimento
social a perturbações internalizadas como ansiedade, fobias, hipocondria,
TOC, depressão, ideação suicida e agressividade: “É de suma importância as
interações sociais para o desenvolvimento dos laços afetivos, do prazer da
companhia, do desenvolvimento cognitivo, para a introjeção das normas e leis
sociais. No excesso de convívio familiar, crianças com escolas fechadas, estão
contidas em ambientes reduzidos, na grande maioria em apartamentos, maridos e
esposas, estão dividindo além do espaço físico, a dinâmica da casa com os
filhos, no mesmo cenário. Isso potencializa os conflitos e confrontos que
estavam latentes, tornando-os agora manifestos”.
O Fenômeno da Violência Doméstica
A Dra. Leninha Wagner revela que a violência doméstica, é compreendida
como um fenômeno complexo, nas suas distintas formas, particularmente
como causa e consequência a desigualdade de poder nas relações de gênero: “A
violência doméstica ou de gênero afeta a integridade biopsicossocial da vítima.
São diversas as sintomatologias e transtornos do desenvolvimento que podem se
manifestar, tais como: doenças nos sistemas digestivo e circulatório, dores e
tensões musculares, desordens menstruais, depressão, ansiedade, suicídio, uso
de entorpecentes, transtornos de estresse pós-traumático, além de lesões
físicas, privações e assassinato da vítima.”
A importância de buscar ajuda
Estamos num cenário mundial adverso e desafiador e por este motivo a
neuropsicóloga aponta que é momento de manter a sanidade mental, através do
equilíbrio emocional e, se for necessário, buscar ajuda: “Se em algum
momento, você sentir a perda da serenidade. A tal ponto que sua natureza mais
primitiva e inconsciente, possa se transformar em violência psicológica, verbal
ou física, contra o outro (mulher). Busque ajuda profissional, um Psicólogo
poderá lhe ajudar. Já se você sente-se uma vítima em potencial, peça socorro
pelos canais oficiais. Não se alie ao inimigo, contra você, por medo ou vergonha.
Peça ajuda.”