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sexta-feira, setembro 20, 2024

Cecav descobre caverna com mais de 2.300 metros de extensão

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Ao concluir o mapeamento topográfico da Caverna de Trapiá, uma equipe de analistas ambientais do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), chegou a uma constatação: com seus 2.302 metros de projeção horizontal e 2.330 metros de desenvolvimento linear, a Trapiá é a maior gruta do Rio Grande do Norte e uma das maiores do Brasil.

Só para se ter uma ideia, o seu tamanho corresponde a mais de três vezes o da segunda maior caverna do estado, que tem 730 metros, e ultrapassa o de uma das maiores grutas do Nordeste, a Ubajara, que fica no Parque Nacional de Ubajara, no Ceará, e tem, segundo o Cecav, 2.200 metros. O seu perfil, conforme disse o analista ambiental Diego de Medeiros Bento, difere totalmente do padrão das cavernas da região que têm, em média, entre 100 e 500 metros.

Mas a grandeza da gruta não está restrita a seu tamanho. O professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e um dos espeleólogos pioneiros das cavernas do Rio Grande do Norte, Francisco da Cruz, que pretende desenvolver pesquisas de geocronologia na Caverna do Trapiá, disse que ela é a maior caverna do Brasil em rochas do Cretáceo (período geológico que vai de 144 a 65 milhões de anos atrás). Nesse período, explica o analista Bento, formou-se o calcário da Bacia Potiguar, uma região com grande ocorrência desse mineral entre o Rio Grande do Norte e o Ceará.

O Rio Grande do Norte já é conhecido pela grande quantidade de cavernas. Com essa descoberta, passa agora a compor o rol das regiões com grutas de grande porte. “Há, hoje, cadastradas em base de dados do Cecav, 323 cavernas. Contudo, a maioria delas é muito inferior em tamanho às grandes cavernas de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, por exemplo. A Caverna do Trapiá coloca o Rio Grande do Norte entre os estados da Federação com cavernas grandes e levanta a possibilidade de novas descobertas”, disse Bento.

FÓSSEIS – No interior da Caverna de Trapiá, no Rio Grande do Norte, os pesquisadores descobriram grande quantidade de fósseis de animais pré-históricos como preguiças gigantes, que viveram na região até mais ou menos dez mil anos atrás.

A entrada da caverna é um abismo de 18 metros de altura, formando uma espécie de “funil” para onde as águas das chuvas escorrem durante as enxurradas. Isso faz com que ossos de bichos que morreram fora da caverna sejam levados para dentro dela pelas águas. Além disso, o ambiente no interior da gruta é favorável à preservação dos ossos e à fossilização.

Segundo o analista Diego Bento, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavenas (Cecav), fotos dos fósseis foram enviadas para especialistas. “A identificação por meio de fotos é complicada, mas tem ossos bem grandes no interior da caverna, que permite afirmarmos que não são de nenhum bicho atual”, garante o pesquisador.

Além disso, os pesquisadores encontraram também alguns espeleotemas incomuns na região, como helictites, velas e as primeiras flores de gipsita encontradas em cavernas do Rio Grande do Norte.

Os espeleotemas são formações que só ocorrem dentro de cavernas, como as estalactites e estalagmites.

De acordo com Diego Bento, as helictites são uma espécie de estalactite que não cresce para baixo, e sim para os lados e para cima, geralmente a partir de uma estalactite. As velas são estalagmites muito compridas. As estalagmites são comuns em cavernas, mas as ativas (ainda em crescimento) são bem mais raras.

“Essas descobertas são importantíssimas para nós aqui do Rio Grande do Norte e para o Cecav como um todo, pois colocam o Centro em destaque no cenário espeleológico nacional”, informa o pesquisador.

Ele diz ainda que, atualmente, graças a esses trabalhos, o Cecav mantém parceria com os principais grupos de espeleologia do Brasil e participa de todos os eventos científicos da área. “As cavernas do Rio Grande do Norte têm estado em destaque em todo o Brasil há algum tempo graças ao trabalho do Cecav e esse trabalho com a Caverna do Trapiá só vem a ajudar”, revela.

PRESERVADA – A Caverna de Trapiá foi descoberta em 2003, mas somente em fevereiro deste ano o Centro Nacional de Pesquisa e Proteção de Cavernas (Cecav) iniciou as expedições topográficas no local. Foram quatro viagens ao município de Felipe Guerra, distante aproximadamente 375 km de Natal, capital do Rio Grande do Norte. “A caverna está localizada em uma área com baixíssima ocupação humana e praticamente sem atividades produtivas. Por enquanto, não há ameaças”, afirma o analista ambiental Diego Bento, do Cecav.

Integralmente preservada, a caverna tem como única entrada um abismo de 18 metros no meio da vegetação. “Podemos afirmar com certeza que as únicas pessoas a estarem dentro da caverna fomos nós pois não encontramos vestígios de humanos, como pegadas”, garante.

Tanto é que a exploração dos mais de dois mil metros foi um verdadeiro desafio. “Algumas vezes tinha uma colméia de abelhas no abismo da entrada, outras vezes estava no período chuvoso e partes da caverna estavam inundadas”, conta Bento. Ele diz que o maior problema encontrado pelos pesquisadores durante a exploração foi o calor intenso dentro da gruta.

O pesquisador diz que eles ficavam no mínimo seis horas dentro da gruta a uma temperatura que variava de 29º C na entrada até 34º C em alguns trechos. Isso exigiu o transporte de grande quantidade de água nas expedições, além de preparo físico e psicológico. “Para se ter uma idéia, foram necessários cerca de seis litros de líquido (entre água e isotônicos) por pessoa em cada dia de trabalho na caverna. o calor e a alta umidade podem facilmente desidratar o corpo”, contou ele.

Bento avalia que essa temperatura e, principalmente, o acesso por meio de rapel foram responsáveis pela manutenção da completa integridade da caverna até hoje. “As descobertas e as dificuldades fazem da Caverna do Trapiá um patrimônio natural de importância inquestionável, mas seus desafios e cenários de rara beleza estarão disponíveis apenas para poucos e dispostos felizardos. Talvez seja melhor assim”, comenta.

Segundo ele, o Cecav organizou quatro expedições para mapear a caverna este ano: a primeira foi em fevereiro quando foram mapeados 1.225 metros; a segunda foi em março, mas dessa vez não deu para continuar o trabalho porque havia chovido bastante e parte da caverna estava inundada; a terceira foi em setembro quando foram mapeados cerca de 900 metros e se constatou que a caverna tinha cerca 2.150 metros. A quarta expedição foi no dia 7 de novembro, quando os pesquisadores terminaram a topografia e chegaram aos dados finais.

 

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