O verdadeiro custo do trem-bala brasileiro deverá ser conhecido somente na metade do ano que vem. A percepção das empresas que pretendem participar do projeto é de que só após a divulgação do edital de licitação, que ainda será submetido à consulta pública, será possível iniciar uma avaliação mais precisa dos custos envolvidos na construção do trecho que ligará Campinas, São Paulo e Rio.
Por enquanto, o orçamento de R$ 34,6 bilhões é tido como superficial, pois diversos detalhes têm de ser mais bem explicados para que se tenha uma dimensão exata do volume de recursos necessários. Ontem, Philippe Mellier, presidente mundial da divisão de transportes da Alstom, endossou o coro das empresas de que os dados apresentados até o momento não permitem prever com exatidão quanto vai custar a implantação do trem-bala no País.
Na opinião de Mellier, entre as principais variáveis que ainda precisam ser melhor dimensionadas estão o o custo das obras de engenharia, as compensações ambientais e a desapropriações de terrenos que estão no trajeto previsto. “É difícil saber se vai custar R$ 34,6 bilhões com tanta antecedência”, disse Mellier, em entrevista a jornalistas brasileiros que visitaram a sede da Alstom, em Paris.
No estudo apresentado pelo governo, o maior peso é o das obras de infraestrutura, 71%, seguido pelas desapropriações e medidas socioambientais, 11,3%. O restante está dividido entre os trens e os sistemas e equipamentos complementares. A previsão é de que o trajeto entre as três cidades totalize 511 quilômetros.
Para Mellier, a fabricação e a entrega dos trens e do material de sinalização não requerem prazos tão longos quanto as obras. Isto significa que, no que compete aos fabricantes de equipamentos, é possível ter o trem-bala em funcionamento antes da realização dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.
Mellier não deu maiores detalhes sobre os possíveis parceiros da empresa no Brasil para a formação do consórcio que deverá disputar a licitação.
As declarações do presidente da Alstom ocorrem no momento em que cresce a pressão de empresas interessadas em participar da construção do trecho para que o governo brasileiro assuma maiores responsabilidades no projeto.
Hoje, as principais reivindicações dizem respeito à mitigação dos riscos de a demanda estimada não se confirmar, e os custos ambientais e de desapropriações serem maiores do que os previstos no estudo elaborado pela consultoria Holcrow. Para as empresas, o ideal é que o governo compartilhe parte destes riscos.
Esta e outras reivindicações constam da consulta pública encerrada em 15 de outubro passado. Agora, o governo corre contra o tempo para disponibilizar o edital da licitação até o fim do ano para nova consulta. Só depois da publicação é que as empresas poderão começar a elaborar suas propostas, o que deve levar cerca de seis meses.




