Construtivismo nas escolas valoriza o processo de aprendizagem
Antes de tudo é preciso investir na formação dos professores
Mariana Dorigatti
O construtivismo é uma postura educativa que busca a sintonia entre o ensino e a aprendizagem. Como o próprio nome sugere, no construtivismo aplicado nas escolas, as crianças constroem o conhecimento a partir das suas próprias percepções, e de informações que vão recebendo através das relações sociais. Com autonomia, a criança busca assimilar objetos, fenômenos, acontecimentos, para encontrar respostas aos problemas trazidos por essas assimilações, e esse esforço é que modifica sua capacidade cognitiva para melhor. Portanto, esta prática pedagógica valoriza não só o conhecimento em si, mas também o processo de aprender.
O construtivismo que se conhece em educação vem de Jean Piaget (1896-1980), pesquisador Suiço que afirmava que o principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram.
Fernando Becker é professor de Psicologia da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e autor do livro A epistemologia do professor e Educação e construção do conhecimento. Ele explica a partir de uma analogia, que sob o ponto de vista do conhecimento, somos o resultado do que fazemos. “Nosso organismo é produto do genoma que herdamos, mas não só. É produto do que fazemos com ele. Se comemos de forma inadequada e em excesso, viramos obesos. Se comemos de menos e de forma inadequada, comprometemos nossa saúde. O que fazemos nos determina”. Nesse sentido, o construtivismo vai contra ao modelo tradicional de ensino, em que o aluno precisa repetir com axaustão um conteúdo para que seja assimilado, independentemente de sua realidade sociocultural.
Para Silvia M. Gasparian Colello, professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da USP, o construtivismo não pode ser visto como um método, pois não existe uma trajetória pré-definida, com atividades previstas e exercícios pré-estabelecidos que possam ser aplicados em bloco para uma vasta população estudantil.
“O Construtivismo não dá receitas didáticas nem fórmulas prontas de ensino, razão pela qual a escola construtivista requer professores competentes e criativos, capazes de construir a sua prática pedagógica”, explicou Silvia.
Sendo assim, a preparação dos professores se faz essencial para que haja intervenções ajustadas aos momentos específicos, promovendo o avanço e o desenvolvimento de cada aluno individualmente, mas também do grupo. Porém, a professora Silvia salienta que a ausência de um método com delineamento “passo a passo” de procedimentos e atividades não significa, contudo, a inexistência de certa metodologia, isto é, da postura do professor que age sistematicamente, pressupõe metas e não abdica das práticas de planejamento, registro das atividades e avaliação dos processos de aprendizagem.
“Seu ensino precisa desafiar o aluno a construir tais estruturas numa continuidade sem fim – é nisso que consiste o tão propalado e pouco compreendido aprender a aprender”, disse Fernando Becker, evidenciando que o professor precisa manter um ensino que leve o aluno a potencializar as capacidades de aprendizagem com que chegou à escola e não apenas a acumular conteúdos.
Para tanto, os pesquisadores defendem que qualquer política pública que tente incentivar o construtivismo no país, deve antes de tudo, assumir um compromisso formar professores de qualidade. “Não há como apostar num construtivismo com professores mal preparados”, afirmou Becker.
Para Colello, é preciso investir na formação dos professores, no incentivo à carreira docente, na melhoria das condições de trabalho dos educadores, na desburocratização da vida escolar, na infraestrutura da escola, na construção democrática e responsável de projetos pedagógicos e na qualidade do livro didático e dos materiais de apoio pedagógico.