Deputada bolsonarista teria sido transferida de cela em Roma após ameaças de detentas; advogados italianos que a defendem já atuaram em casos de corrupção envolvendo Berlusconi e cardeais do Vaticano

Por Sandra Venancio – Foto Lula Marques/Agencia Brasil

A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), presa na penitenciária de Rebibbia, em Roma, enfrenta dias de crise emocional, isolamento e constrangimentos públicos. Fontes ligadas à prisão relatam que a parlamentar passou a noite chorando e foi apelidada de “Pazza di merda” (“louca de merda”) por colegas de cela. Há divergências sobre uma suposta transferência após ameaças. Ao mesmo tempo, sua defesa na Itália levanta polêmicas: dois dos advogados escolhidos estão vinculados a escândalos de corrupção e disputas judiciais de alto calibre, envolvendo figuras como Silvio Berlusconi, Cesare Previti e o Vaticano.

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Segundo o advogado ítalo-brasileiro Pietro Nardella-Dellova, Zambelli foi removida de cela no sábado (16) após ter sido ameaçada por outras presidiárias incomodadas com seu choro incessante. Na nova cela, ela teria recebido acolhimento de uma detenta africana. Sua defesa, porém, nega a transferência, mas confirma que a deputada tem chorado muito e se recusa a se alimentar, em suposta greve de fome.

Atualmente, Zambelli divide o espaço com uma italiana condenada por homicídio e duas ciganas acusadas de crimes menores. Fontes próximas afirmam que as condições são hostis e que a deputada reclama da falta de remédios e de itens básicos de higiene. Durante audiência em 13 de agosto, ela chegou a mencionar a ausência de xampú. O juiz Aldo Morgigni, da 4ª Seção da Corte de Apelação de Roma, determinou o fornecimento dos medicamentos — dez tipos diferentes —, mas a defesa alega que parte ainda não foi entregue. O xampú, segundo relato, foi pago do bolso dos próprios advogados italianos.

Outro ponto de desgaste é financeiro: com as contas do marido bloqueadas no Brasil, os honorários da defesa estariam sendo pagos com dificuldade. Um escritório brasileiro colabora pro bono, mas os valores repassados na Itália foram descritos por uma fonte como “baixos demais” para bancar advogados de renome.

Advogados sob polêmica

A defesa de Zambelli é liderada pelos irmãos Angelo Alessandro Sammarco e Pieremilio Sammarco, além do civilista Giuseppe Bellomo.

• Angelo Alessandro Sammarco: renomado criminalista romano e professor da Universidade de Salerno. Já defendeu Silvio Berlusconi e foi citado em investigações ligadas ao ex-premiê condenado Cesare Previti. Atuou ainda no caso conhecido como “Audiência do Século”, que discutiu a gestão dos fundos da Santa Sé e revelou pagamentos suspeitos a consultores ligados ao cardeal Angelo Becciu.
• Pieremilio Sammarco: constitucionalista e professor em Bérgamo, foi citado em mensagens com Raffaele Marra, aliado da prefeita de Roma, Virginia Raggi, em casos de corrupção. Também esteve envolvido em disputas judiciais entre o comediante Beppe Grillo e o ex-premiê Giuseppe Conte.
• Giuseppe Bellomo: civilista, integra a equipe de apoio jurídico de Zambelli, focado em recursos de caráter administrativo e civil.

Situação carcerária

Situação carcerária: relatos de choro constante, ameaça de agressões e apelidos pejorativos contrastam com a versão oficial da defesa de que a deputada mantém “relações cordiais” na prisão.

18 de agosto: Zambelli será submetida a perícia médica para avaliação de seu estado físico e mental.

27 de agosto: está marcada a audiência para reavaliar a prisão, que pode resultar em relaxamento ou manutenção da detenção.

Defesa em xeque: a escolha de advogados com histórico de envolvimento em escândalos aumenta o peso político e midiático do caso.