Encontro com cerca de 50 parlamentares revela tensão, disputa por protagonismo e tentativa de recompor a unidade bolsonarista após novos abalos políticos
A reunião convocada pela direção do PL para alinhar a estratégia em defesa de Jair Bolsonaro expôs divergências internas, disputas por espaço e relatos dramáticos sobre o estado emocional do ex-presidente na prisão, redirecionando o foco para a fragilidade política do grupo em meio ao avanço de investigações e desgaste público.
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O encontro, realizado na segunda-feira (24) na sede do PL em Brasília, reuniu aproximadamente 50 parlamentares e toda a família Bolsonaro para discutir a reação do partido após a prisão do ex-presidente. Segundo relatos de participantes obtidos por veículos nacionais, Michelle Bolsonaro protagonizou o momento mais tenso ao relatar que o marido tem apresentado noites com soluços, vômitos e risco de broncoaspiração.

Chorando, ela afirmou temer que, preso e sem auxílio, Bolsonaro sofra uma emergência médica sem atendimento imediato. A narrativa emocionada contrastou com a postura da ex-primeira-dama nos dias seguintes à prisão: no sábado, ela participava de evento partidário no Ceará, mantendo a agenda política apesar do momento de maior fragilidade da família.
Flávio Bolsonaro reforçou publicamente a preocupação com a saúde do pai ao deixar o encontro e assumiu o papel de porta-voz do ex-presidente, posição que ocupa desde a decretação da prisão domiciliar em agosto. No discurso interno, o senador cobrou unidade e atacou a exposição de conflitos entre lideranças estaduais, que têm se intensificado, especialmente em Santa Catarina.
A possibilidade de Carlos Bolsonaro disputar o Senado pelo estado desencadeou uma disputa pública com dirigentes do PL catarinense, ampliando o racha que agora Flávio tenta conter. O senador anunciou que fará uma rodada de conversas com dirigentes nos estados para definir candidaturas majoritárias de 2024 e 2026, sinalizando uma centralização das decisões no núcleo familiar e antecipando novos conflitos internos.
As críticas não ficaram restritas às bases regionais. Diante do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, Flávio cobrou o marqueteiro Duda Lima pela ausência de Jair Bolsonaro nas inserções de rádio, TV e redes sociais da sigla, levantando questionamentos sobre a estratégia de comunicação e o protagonismo partidário. Nos bastidores, outro movimento chamou atenção: Carlos Bolsonaro elogiou publicamente Nikolas Ferreira, conhecido por atrair o público mais jovem e por sua forte presença digital. O gesto ocorreu após semanas de desconfiança de setores do bolsonarismo sobre o engajamento do deputado mineiro na defesa de Bolsonaro.
Além das disputas internas, a reunião tratou da tentativa de reativar no Congresso o projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, pauta que o PL tenta recolocar na agenda legislativa como bandeira para reaproximar sua base mobilizada. Flávio Bolsonaro deverá visitar o pai nesta terça-feira (25), após autorização do ministro Alexandre de Moraes, num momento em que a família tenta reorganizar sua estratégia política enquanto o entorno do partido demonstra sinais de fragmentação crescente.




