Investigação aponta esquema que usava acesso facilitado para subtrair joias e artigos de alto valor
Uma operação deflagrada em 2 de dezembro pelo 12º Distrito Policial de Campinas expôs uma rota silenciosa de furtos em condomínios de alto padrão, praticados por diaristas ligadas a agências de faxina. A ação, conduzida pelo delegado José Roberto da Rocha Soares, reuniu mandados de busca e apreensão e permitiu elucidar dois casos recentes, mas abriu caminho para um mapa mais amplo de ocorrências que se repetiam há meses na região.
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As investigadas usavam empresas que ofereciam serviços de limpeza sob agendamento. Uma vez dentro das residências, separavam joias, roupas e itens de luxo de fácil revenda. Nos casos já comprovados pela investigação, desapareceram um par de tênis avaliado em R$ 8 mil e uma aliança superior a R$ 15 mil. O conjunto dos objetos furtados ultrapassa R$ 100 mil, sem contar peças especiais herdadas pelas famílias, cujo valor simbólico é incalculável.
A ofensiva policial encontrou em um dos endereços vistoriados um item retirado de uma casa no condomínio Entreverdes. No celular de uma das suspeitas havia imagens de objeto furtado no Pedra Alta. Uma das mulheres já aparecia associada a pelo menos quatro ocorrências anteriores com o mesmo método: entrada autorizada via agência, prestação do serviço e, depois, a falta de joias e artigos caros.
As duas atuavam entre franquias conhecidas na cidade –, o que levou investigadores a cruzarem registros antigos e descobrirem reclamações semelhantes em outros bairros. A avaliação interna é que a repetição dos casos aponta para mais pessoas envolvidas e para a existência de receptadores especializados em objetos de alto padrão.



O ponto cego dos condomínios de luxo
Além de elucidar os furtos já confirmados, a operação expôs um gargalo sistêmico: a ausência de protocolos rigorosos para liberar o acesso de prestadores de serviço em condomínios fechados. Portarias tratam diaristas como visitantes comuns, sem histórico, sem registro fotográfico além do momento da entrada e sem qualquer validação sobre antecedentes ou checagem de empresas terceirizadas.
Especialistas ouvidos para comparação em casos similares afirmam que condomínios de elite em cidades da região vêm sofrendo aumento de furtos internos nos últimos três anos, com padrão quase idêntico — prestadores com acesso facilitado, subtração de itens pequenos, revenda rápida e desaparecimento do suspeito sem deixar rastros.
A rota de revenda
As investigações do 12º DP indicam que parte das joias e acessórios furtados pode ter sido escoada para pequenos receptadores que operam no entorno do Centro e em plataformas de venda online. Há indícios de que os objetos eram oferecidos a compradores de ouro no centro da cidade, o que dificulta rastreamento. A prática segue padrão de quadrilhas pequenas especializadas em itens de alto valor com baixo risco de identificação.
As contradições dos depoimentos
Relatos prestados pelas duas mulheres apresentam divergências sobre datas, escalas de trabalho e processos de contratação pelas agências. Uma delas afirmou que “apenas limpava o local”, negando ter fotografado joias, apesar das imagens recuperadas no celular.
Investigações paralelas avaliam se as empresas citadas receberam outras denúncias e como funcionavam seus filtros para encaminhamento de diaristas.
Como a polícia chegou ao grupo
O 12º DP formou um dossiê após repetição de reclamações com o mesmo padrão: diaristas encaminhadas por franquias, furtos cirúrgicos e escolha de casas com objetos de fácil ocultação. A partir do segundo caso em novembro, investigadores cruzaram imagens, rotinas de trabalho, listas de escala e até avaliações em aplicativos.
O rastreamento de aparelhos celulares revelou fotos dos bens, mensagens e detalhes de ofertas de venda, permitindo solicitar os mandados ao Judiciário.
As apurações seguem para identificar possíveis cúmplices e os receptadores que alimentam o ciclo. A orientação da polícia é que vítimas formalizem boletim de ocorrência, já que cruzamento de registros foi decisivo para montar o mapa dos fatos.




