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sexta-feira, setembro 20, 2024

Livro relata a trajetória de Tancredo como presidente

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Nestes 25 anos da Nova República, diplomata publica memórias da viagem ao exterior realizada às vésperas da posse. Obra é um dos principais documentos do delicado período da história brasileira. O lançamento, pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, acontece no dia 16, a partir das 19 horas, na Loja das Artes da Livraria Cultura, no Conjunto Nacional.

 

A Nova República alvorecia naqueles meses de 1985. Eleito, mas ainda não empossado, Tancredo Neves programou um giro internacional, seu primeiro grande movimento como presidente eleito, a ser recebido por outros importantes chefes de nação, além do Papa. A viagem seria, ao mesmo tempo, sua consagração no cargo e o início de promissora jornada. O que não se podia prever é que aquele período – contradizendo sua longa e bem-sucedida carreira política –, fosse o período que a encerraria, de um só golpe, junto com a expectativa e as esperanças de toda uma nação.

Para acompanhá-lo nessa jornada ao Exterior escolheu o então chefe do Departamento das Américas do MRE – Ministério das Relações Exteriores, Rubens Ricupero, que anotou em uma agenda que ganhara às vésperas da viagem os principais acontecimentos, diálogos e impressões. Teria sido um registro da primeira viagem, mas hoje é um dos principais documentos sobre esse singular período da história brasileira. Finalmente publicado, “Diário de bordo: a viagem presidencial de Tancredo Neves” será lançado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo no próximo dia 16, terça-feira, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional – Av. Paulista, 2.073, em sua Loja das Artes.

“A viagem era não só a melhor preparação para o dr. Tancredo começar a treinar para o governo que logo exerceria, mas na prática o início desse próprio governo, pois os contatos, as conversas, as discussões com os chefes de governo estrangeiro constituíam já o esboço de compromissos e políticas a serem continuadas em breve”, explica Ricupero, na apresentação da obra.

No Brasil, como ele relata, o clima não era ainda dos mais tranquilos. “A transição ‘lenta, gradual e segura’ continuava a parecer não suficientemente lenta e segura aos duros do regime, aos que o presidente Geisel caracterizava como elementos ‘sinceros, porém radicais’. Os rumores de conspirações e resistências se multiplicavam, somando-se às dificuldades naturais de transições demasiado longas como as nossas: as pressões, intrigas e manobras dos aspirantes a cargos, a contra-informação maliciosa sobre as intenções e confidências do presidente eleito”, acrescenta, mais adiante, o embaixador.

Ser recebido no exterior pelo papa e governantes de países poderosos era, portanto, uma quase “sagração informal, uma espécie de reconhecimento e legitimação perante a comunidade das nações, o que deveria normalmente atuar como inibição para surpresas de última hora, fator não desprezível em situação de regime militar que já se prolongava por quase vinte e um anos”.

De posse de uma agenda de capa vermelha, Rubens Ricupero pôs-se então a escrever em hotéis, nos voos longos ou curtos, nas salas de espera de aeroportos. Às vezes, segundo seu relato, era “atropelado pelo itinerário” e, quando as etapas principiaram a suceder-se a intervalos cada vez mais curtos, via-se obrigado a atrasar a redação. Porém, não mais que de um ou poucos dias, para preservar o frescor das impressões.

E assim Ricupero registrou com detalhes o dia-a-dia da viagem. Houve encontros com o papa João Paulo II e Bettino Craxi, em Roma; com o presidente François Miterrand, em Biarritz; com o primeiro-ministro Mário Soares, em Lisboa; com o rei Juan Carlos e Felipe González, em Madri; com Ronald Reagan e George Bush, em Washington; com Raul Alfonsin, em Buenos Aires, apenas para citar os momentos mais importantes. Alguns foram felizes, outros exigiram diplomacia. A obra reúne, também, discursos e conferências de imprensa feitos na ocasião, encontros com os presidentes do BID e Banco Mundial, além de um capítulo de artigos importantes de Celso Lafer, Sergio Danese (diplomata que assessorava Ricupero), Andréa Neves da Cunha (em evocação afetuosa de seu avô) e José Serra, à época coordenador da COPAG – Coordenador do Plano de Ação do Governo Tancredo Neves.

Ao completarem-se 25 anos da Nova República, o projeto de publicar “Diário de Bordo”, postergado tantas vezes, se impôs. “Não poderia adiar mais a publicação da memória daqueles instantes breves e intensos que Celso Lafer, em inspirado artigo reproduzido ao final deste livro, chamou de o ‘momento presidencial de Tancredo”, justifica o autor. Foram os dias em que Tancredo Neves foi recebido e tratado como presidente, revelando um pouco do que teria sido seu desempenho, caso a doença e a morte não tivessem impedido que ele “se tornasse efetivamente um dos melhores presidentes que o Brasil teria tido”, completa Ricupero.

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