A partir de janeiro de 2009 entrará em vigor, no Brasil, o novo acordo ortográfico assinado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). No entanto, desde que a reforma ortográfica foi anunciada, ela tem gerado muita controvérsia.
Este acordo foi realizado com o intuito de promover uma unificação do idioma português para que a língua pudesse ser difundida facilmente entre todos os países falantes do português. Pensando sob este aspecto, a divulgação de material impresso entre todos os países da CPLP será facilitada, além de se evitar muita burocracia, já que hoje todo documento que circula entre a Comunidade deve ser redigido em duas versões, uma com o português de Portugal e outra valendo-se do português do Brasil.
Entretanto, quando nos debruçamos um pouco mais sobre as mudanças que ocorrerão, percebemos que tratam apenas da grafia das palavras e não de questões sintáticas, fonéticas e semânticas. Nem poderiam. A identidade de um povo está também em sua língua, e cada país pertencente à CPLP tem sua própria cultura, seus próprios costumes, apesar de falar o mesmo idioma.
O acordo, como já dissemos, trata apenas de questões ortográficas e acaba por não “unificar” de fato, uma vez que permite várias duplas grafias, obedecendo ao fato de que cada povo tem a sua variedade de língua. Dessa forma, somos tentados a afirmar que este acordo ortográfico pretende resolver um “não-problema”, tendo em vista que, apesar das diferenças ortográficas, suas variantes escritas são perfeitamente compreensíveis por qualquer falante de língua portuguesa pertencente aos países da Comunidade. Além disso, ele se vale de critérios de pronúncia e não leva em conta a etimologia das palavras.
Porém, é interessante observar que com uma ortografia unificada, desaparecerão as barreiras ortográficas e as barreiras de mercado. Com o acordo, as editoras brasileiras poderão entrar no mercado africano. Nossos livros lá não são tão bem recebidos como gostaríamos, já que os países africanos que falam o português adotam a grafia lusitana, e com a reforma, a grafia seria a mesma em todos os países falantes de língua portuguesa. Dessa forma, esse acordo possibilitaria, assim, maior circulação de livros e ampliaria o mercado editoral brasileiro. Fala-se na quantia volumosa de dinheiro que será gasto para se revisar todo o material que já existe, mas quanto não se ganharia com a entrada no mercado africano?
Ainda assim, quando pensamos sobre este novo acordo, vem-nos quase sempre à cabeça as mudanças ortográficas propriamente ditas e a dúvida: Para que isso agora? Sabemos que um moçambicano consegue compreender o que um brasileiro escreve e este consegue ler o texto de um português. Portanto, é preciso abrir os olhos para os outros interesses em jogo que não são tão divulgados quanto o fim do trema ou o uso ou não do hífen.
Raquel Marcondes Nogueira




