Num mercado cada vez mais competitivo, deter e incentivar a capacidade criadora de seu pessoal é um dos grandes desafios das empresas no setor de recursos humanos. O que corresponde, do lado do profissional, à necessidade de investir em sua educação continuada.
O diagnóstico foi apresentado pelo advogado e jornalista Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), na Aula Magna que proferiu aos calouros do campus de Paulínia da Universidade São Marcos. O tema era “A atual situação da economia brasileira e as novas oportunidades de trabalho”. Com o auditório lotado, a palestra dada no dia 3, sexta-feira, foi o ponto alto da programação de recepção aos novos alunos daquele campus, situado no Interior, na região de Campinas.
As organizações sabem que o capital humano é o mais importante e, por isso, investem em programas de educação corporativa, convênios e outras formas que facilitam a constante aprendizagem de seus funcionários. Elas, igualmente, têm que se preocupar com o tema da educação permanente, pois as novas exigências do mercado não podem ser atestadas apenas por um diploma. “O valor do diploma soma-se ao conhecimento efetivamente demonstrado pelo profissional em seu lugar de trabalho”, disse Bertelli. “O que se adquire nas universidades – públicas ou privadas – é o combustível para uma caminhada. Hoje é preciso voltar a estudar dois ou três anos depois, pois tudo muda muito rápido. Antes, o combustível valia por 20 anos”.
Com 41 anos de existência, o CIEE não é uma ONG, mas parece, não é uma fundação, mas poderia ser. A entidade é sustentada por 120 mil empresas, prefeituras e estatais “que acreditam na educação como o pilar básico do desenvolvimento sustentável”. A entidade já colocou no mercado 6 milhões de jovens, através de estágios, programas de trainees e projetos sociais.
Profissões se interagem
Para o presidente executivo do CIEE, o quadro que descreveu explica a tendência das profissões se interagirem, bem como da busca de uma segunda graduação. Quanto mais versátil para atuar em desafios em diversas áreas, mais valorizado será o profissional. “Ele tem que saber se adaptar aos desafios, não importa o curso que fez. Essa é uma das razões por que aqueles que praticam esportes hoje são mais valorizados que no passado. Não temem obstáculos e sabem atuar em equipe”.
“Da mesma forma, valoriza-se cada vez mais aquelas pessoas que realizam trabalho voluntário, uma demonstração prática de cidadania e entendimento do contexto em que se vive. E, ao contrário do passado, hoje também as empresas gostam de quem atuou em grêmios estudantis, pois em geral são pessoas com espírito de liderança e determinação”.
Essas informações devem ser valorizadas nos currículos dos estudantes quando eles procuram seu primeiro emprego. O CIEE tem, inclusive, um setor que presta orientação a respeito. “Outros pontos que marcam o perfil do profissional moderno são a autoconfiança aliada com produtividade, criatividade, persuasão e boa comunicação, empreendedorismo e domínio do inglês, e até algum outro idioma além do português, que tem que ser infalível. Aliás, eu sempre repito que o jovem brasileiro lê pouco e quem não lê, não raciocina, não sabe escrever bem. Não chega a 10% o percentual de jovens de hoje acostumados à leitura de um jornal. Num mercado cada vez mais seletivo, isto é um desastre anunciado na carreira. A empresa globalizada pode levar o profissional a quebrar barreiras, não apenas geográficas, mas exige a reciprocidade.”
264 mil bolsas de emprego
Antes de mais nada, a pessoa é que tem que se valorizar para se destacar no cenário de um país com enormes contrastes. O Brasil vem registrando, nos últimos anos, um crescimento pífio do PIB e, ao mesmo tempo, forma 1,5 milhão de universitários todos os anos. “Não haverá empregos para todos, a menos que o País cresça a um ritmo de 6% ao ano. No ano passado, nosso PIB foi de apenas 2,3%; em 2003, não passou de meio porcento. Só Haiti e El Salvador têm desempenho menor que o nosso na América Latina”.
O País precisa de um plano de desenvolvimento sustentável de longo prazo, que acabe com a desigualdade social, o desemprego alto, o analfabetismo e a queda dos investimentos externos. Mesmo assim, diz Bertelli, “não devemos perder as esperanças, pois o Brasil é hoje, também, o maior produtor de carne do mundo, o maior exportador de frango e o segundo na exportação de aviões a jato. Temos a segunda frota de helicópteros do mundo e aqui é o lugar onde mais de consome canetas Mont Blanc. O açúcar mais barato também é o daqui, onde tivemos ainda o pioneirismo no desenvolvimento de carros com motores flex, que trocam de combustível conforme a necessidade do momento”.
Um dos papéis da universidade é entender esse quadro, saber acompanhar as novas necessidades profissionais, promover pesquisas que ajudem o desenvolvimento e aproximar os jovens do mercado de trabalho. Na opinião de Bertelli, embora alguns critiquem, o estágio é ainda o melhor caminho para a empresa conhecer melhor e contratar os talentos jovens que estão nas universidades. Hoje, 264 mil bolsas estão ativas, nas 300 unidades do organismo no País todo. Sessenta por cento do público atendido fica no Estado de São Paulo.
Experiente profissional do setor petrolífero e de produção de açúcar e de álcool, Bertelli foi escolhido para a Aula Magna em Paulínia por ser esta cidade, justamente, o nosso principal pólo petroquímico. Com a bagagem que a vida lhe deu, tendo sido inclusive um dos pioneiros do Proálcool no País, ele se mantém otimista apesar de tudo. Acredita muito na capacidade do brasileiro de superar desafios e, entre os jovens atuais, na correta percepção das profissões emergentes, como tecnologia e engenharia ambiental, gestão da informação, tecnologia da informação, hotelaria e gastronomia, comércio exterior e relações internacionais, letras (tradutores e intérpretes), direito internacional, do consumidor, ambiental e esportivo e saúde para idosos, entre outros.
A professora Verônica Paternost, diretora assistente do campus Paulínia, recebeu o visitante, juntamente com os professores Paulo Neves, coordenador do curso de Administração, Aguinaldo Cavalcante, coordenador assistente, Flávio do Valle, gerente de planejamento da Universidade, e Júlio Moreno, diretor de comunicação institucional.