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sábado, julho 5, 2025

Anta brasileira é fundamental para salvar as florestas do País

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Percorre grandes extensões de habitat em suas áreas de uso e, por se alimentar de diversas espécies de frutos, acaba “plantando” e renovando a floresta por meio das sementes que passam por seu trato digestivo e são depositadas por suas fezes.

 

 

Uma floresta sem antas é uma floresta que corre grande perigo de extinção. Isso não é nenhum exagero. De acordo com a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB) que completa 25 anos agora em 2021, um ambiente de onde as antas tenham desaparecido encontra-se muito vulnerável e empobrecido em termos de biodiversidade. A maior razão disso é o fato de que a anta brasileira (Tapirus terrestris) é uma verdadeira jardineira das florestas. Percorre grandes extensões de habitat em suas áreas de uso e, por se alimentar de diversas espécies de frutos, acaba “plantando” e renovando a floresta por meio das sementes que passam por seu trato digestivo e são depositadas por suas fezes.

A INCAB é uma iniciativa do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). As pesquisas sobre a anta começaram em 1996, no Parque Estadual Morro do Diabo, no Pontal do Paranapanema, São Paulo. Ali, foram estruturadas as bases de pesquisa sobre a anta na Mata Atlântica, onde a principal ameaça para a espécie é a perda e fragmentação de habitat. Em 2008, a INCAB expandiu suas ações para o Pantanal da Nhecolândia, no Mato Grosso do Sul, um local com menos ameaças atuantes e onde as antas encontram-se em um estado de conservação menos ameaçado. No Pantanal, a INCAB vem coletando desde então informações extremamente relevantes sobre a espécie, envolvendo ecologia, saúde e genética. Entretanto, em outra localidade do Mato Grosso do Sul, na região do bioma Cerrado, a situação é totalmente oposta e as antas lidam com muitas rodovias e colisões constantes, caça ilegal e um risco muito elevado de contaminação por agrotóxicos em função da expansão da agropecuária em larga escala. Assim, em 2015, a INCAB também ampliou seus esforços de pesquisa para essa porção do bioma.

“A anta é a jardineira das nossas florestas e exerce um papel crítico para a conservação das mesmas.

Adicionalmente, é uma verdadeira heroína, lutando para sobreviver em áreas extremamente degradadas. A espécie ainda persiste nessas paisagens antropizadas, mas seu papel na renovação florestal e manutenção da biodiversidade vem sendo bastante comprometido”, explica Patrícia Medici, coordenadora da INCAB-IPÊ.

Os programas de pesquisa nos diferentes biomas são o instrumento inicial e de base para que a INCAB-IPÊ busque a efetiva conservação desta verdadeira heroína das florestas. Com dados e resultados bastante substanciais (e, muitas vezes, alarmantes), a Iniciativa busca influenciar o processo de tomada de decisões junto ao poder público para combater as ameaças atuantes e, claro, evitar a extinção da anta e de seus habitats remanescentes.

Um exemplo foi a abertura de inquéritos civis e ações civis públicas junto aos Ministérios Públicos Estadual e Federal solicitando a urgente tomada de medidas para o enfrentamento dos atropelamentos e mortes de antas (e seres humanos) nas estradas do Mato Grosso do Sul. Em março de 2020, a INCAB concluiu seis anos de monitoramento de atropelamentos de antas nas rodovias do estado. Desde 2013, 34 rodovias federais e as estaduais foram meticulosamente monitoradas, com o registro de mais de 600 carcaças de anta. No mesmo período, 77 pessoas ficaram feridas e 34 vieram a óbito por causa de colisões veiculares com antas nas rodovias estaduais e federais no MS.

Recentemente, a INCAB-IPÊ lançou um relatório bastante preocupante sobre os efeitos dos agrotóxicos utilizados na agropecuária no Cerrado na saúde das antas. Até mesmo anomalias físicas foram encontradas nos animais capturados e amostrados. Efeitos negativos dos agrotóxicos nos animais alertam também para a saúde humana.  O estudo foi também publicado em uma revista científica internacional.

“Nossa missão é garantir a sobrevivência da anta no Brasil sendo esta uma das formas mais efetivas de conservar os nossos biomas e as funções ecológicas das florestas, áreas úmidas, savanas e muitos outros ecossistemas utilizados por este animal. Conservando a anta, vamos também contribuir para a manutenção do clima, suprimentos para serviços ecossistêmicos, e o bem-estar humano. A vida da anta significa também a vida de uma série de outras espécies animais e vegetais que com ela compartilham o habitat”, coloca Patrícia.

Em 2021, a INCAB-IPÊ avançou também para o monitoramento das antas em ambiente urbano. Através do projeto Antas Urbanas, os pesquisadores vêm coletando informações sobre a ocorrência de antas nas áreas urbanas e periurbanas de Campo Grande, cidade circundada pelo bioma Cerrado. Em breve, antas serão capturadas e equipadas com colares de monitoramento por satélite para entender como funciona a ecologia da movimentação desses animais neste tipo de ambiente. Os animais capturados serão também amostrados para exames de saúde e genética.

Também em 2021, a INCAB-IPÊ chegou à Amazônia para estudar as antas ao longo do arco sul do desmatamento, em áreas com grande interferência humana. O trabalho foi estabelecido em diversas áreas nos estados de Mato Grosso e Pará. Os dados compilados por estes estudos na Amazônia vão adicionar ainda mais ao conhecimento sobre a espécie no Brasil.

Longo prazo é essencial para a conservação

O maior banco de dados sobre a anta no mundo só pode existir dentro de um programa de longo prazo como a INCAB-IPÊ. É no longo prazo que as perguntas são respondidas com substância e robustez e as estratégias de conservação podem então ser desenvolvidas de forma sólida, realista e inclusiva. A Iniciativa vem operando nos últimos 25 anos graças a uma coalizão de parceiros institucionais e financeiros provenientes de diversas partes do mundo, em grande parte internacionais. O impacto da pesquisa aplicada de longo-prazo é tamanho que reflete na conquista de nove prêmios internacionais recebidos ao longo dos anos, incluindo o mais recente deles, o Whitley Gold Award (2020), considerado o Oscar Verde da Conservação.

 

  • Na Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado e início das atividades na Amazônia:
    + de 500 amostras biológicas coletadas e estocadas em um BIOBANCO para estudos de saúde e genética
    + de 700.000 fotos e vídeos de antas obtidos por armadilhas fotográficas nos diferentes biomas
    175 antas diferentes capturadas e amostradas (35 na Mata Atlântica, 104 no Pantanal, 35 no Cerrado, e 1 na Amazônia)
    105 antas monitoradas por telemetria

*O corpo de dados aumentará significativamente a partir de 2021 com os novos programas na Amazônia e em áreas urbanas (Campo Grande, MS).

 

Linha do Tempo INCAB-IPÊ (principais eventos)

1996                PRIMEIRO GRANT – FUNDO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

ESTABELECIMENTO DA INCAB – MATA ATLÂNTICA

1997                PRIMEIRA CAPTURA MATA ATLÂNTICA – PARQUE ESTADUAL MORRO DO DIABO

2000                PATRÍCIA MEDICI NOMEADA PRESIDENTE DO IUCN SSC TAPIR SPECIALIST GROUP (TSG)

2004                PRÊMIO HARRY MESSEL CONSERVATION LEADERSHIP IUCN

INÍCIO DO EXPERIMENTO PLOTS DE EXCLUSÃO NO PARQUE ESTADUAL MORRO DO DIABO

2008                EXPANSÃO PARA O BIOMA PANTANAL – ESTABELECIMENTO COMO INICIATIVA A NÍVEL NACIONAL

ESTABELECIMENTO DA INCAB NA FAZENDA BAÍA DAS PEDRAS, PANTANAL DA NHECOLÂNDIA

2008                PRÊMIO FUTURE FOR NATURE (GOLDEN ARK AWARD) – HOLANDA

PRÊMIO WHITLEY – REINO UNIDO

2012                DADOS INCAB-IPÊ UTILIZADOS PELA PRIMEIRA VEZ PARA ALIMENTAR A LISTA VERMELHA NACIONAL ICMBIO

2013                INÍCIO DO MONITORAMENTO DE ATROPELAMENTOS EM RODOVIAS NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL

2014                PATRÍCIA MEDICI RECEBE O TED FELLOWSHIP

WHITLEY FUND FOR NATURE CONTINUATION FUNDING

2015                EXPANSÃO PARA O BIOMA CERRADO

2016                CONSOLIDAÇÃO DO BANCO DE DADOS DA INCAB COMO O MAIOR SOBRE A ESPÉCIE NO MUNDO

2017                PLANO DE MITIGAÇÃO DE ATROPELAMENTOS NA RODOVIA MS-040

2018                ESTABELECIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A RODOVIA MS-040

PRÊMIO WILLIAM G. CONWAY INTERNATIONAL CONSERVATION AWARD DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE ZOOLÓGICOS – ESTADOS UNIDOS

RELATÓRIO TÉCNICO SOBRE O IMPACTO DE AGROTÓXICOS NAS ANTAS NO CERRADO – INCAB PASSAR A COMPOR A COMISSÃO DE COMBATE AOS IMPACTOS DE AGROTÓXICOS NO MATO GROSSO DO SUL

DADOS INCAB-IPÊ UTILIZADOS PARA PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA UNGULADOS AMEAÇADOS – ICMBIO

2019                PRÊMIO NATIONAL GEOGRAPHIC HOWARD BUFFET – ESTADOS UNIDOS

2020                RETORNO À MATA ATLÂNTICA 10 ANOS MAIS TARDE

PRÊMIO WHITLEY GOLD AWARD – REINO UNIDO

2021                PUBLICAÇÃO PAPER TOXICOLOGIA CERRADO

EXPANSÃO PARA O BIOMA AMAZÔNIA

ESTABELECIMENTO PROJETO ANTAS URBANAS

 

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