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quinta-feira, setembro 19, 2024

HIPERATIVIDADE: UMA DOENÇA INFANTIL A SER TRATADA

Data:

Compreensão, avaliação e atuação sobre o TDAH
Por Dr. Paulo Breinis, Neuropediatra

O transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) na criança é caracterizado por uma série de problemas relacionados com falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. O TDAH é um distúrbio bio-psicossocial, isto é, parece haver vários fatores genéticos, biológicos, sociais e vivenciais que contribuem para a etiologia do problema.

Foi comprovado que o TDAH atinge cerca de 3% a 6% da população durante toda a vida. Diagnóstico precoce e tratamento adequado podem reduzir drasticamente os conflitos familiares, escolares, comportamentais e psicológicos, vividos por essas pessoas.

“Através do diagnóstico e tratamento correto, um grande número de problemas, como repetência escolar, abandono dos estudos, depressão, distúrbios de comportamento, problemas vocacionais e de relacionamento, bem como abuso de drogas, podem ser adequadamente tratados”, afirma o neuropediatra Paulo Breinis.

Histórico
Em 1902, pesquisadores descreveram pela primeira vez as características dos problemas de impulsividade, falta de atenção e hiperatividade apresentados por crianças com TDAH. Desde então, o distúrbio foi denominado de várias maneiras, entre elas, Disfunção Cerebral Mínima, Reação Hipercinética da Infância e Distúrbio de Déficit de Atenção. A 4ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, atualmente descreve este conjunto de problemas como Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. Existem três tipos diferentes do transtorno: TDAH com predomínio de sintomas de desatenção, que gera elevadas taxas de prejuízo acadêmico; TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade, com altas taxas de rejeição e de impopularidade frente aos colegas e também o TDAH combinado, um misto dos anteriores.

Sintomas
O TDAH interfere na habilidade da pessoa de manter a atenção – especialmente em tarefas repetitivas – de controlar adequadamente as emoções e o nível de atividade, de enfrentar conseqüências consistentemente e, talvez o mais importante, a inabilidade de controle do impulso. As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na primeira infância. O distúrbio é caracterizado por comportamentos crônicos, com duração de no mínimo 6 meses, que se instalam definitivamente antes dos 7 anos.
Listados abaixo estão os principais sintomas, nos quais a pessoa que possui TDAH apresenta pelo menos seis das seguintes caractarísticas:

Tipo Desatento
§ Não enxerga detalhes ou faz erros por falta de cuidado.

§ Dificuldade em manter a atençao.

§ Parece não ouvir.

§ Dificuldade em seguir instruções.

§ Dificuldade na organização.

§ Evita/não gosta de tarefas que exigem esforço mental prolongado.

§ Freqüentemente perde objetos necessários para uma atividade.

§ Distrai-se com facilidade.

§ Esquecimento nas atividades diárias.

b>Tipo Hiperativo/Impulsivo
§ Inquietação, mexendo as mãos ou os pés ou se remexendo na cadeira.

§ Dificuldade em permanecer sentada.

§ Corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente (em adultos, há um sentimento subjetivo de inquietação).

§ Dificuldade em engajar-se numa atividade silenciosamente.

§ Fala excessivamente.

§ Responde as perguntas antes delas serem formuladas.

§ Age como se fosse movida a motor.

§ Dificuldade em esperar sua vez.

§ Interrompe e se intromete.

No tipo combinado, a pessoa apresenta os dois conjuntos de critérios dos tipos desatento e hiperativo/compulsivo.

Conseqüências
O transtorno afeta e deve causar problemas em pelo menos dois contextos da vida de um indivíduo. Na idade escolar, crianças com TDAH apresentam um baixo desempenho escolar, dificuldades de relacionamento, baixa auto-estima, interferência no desenvolvimento educacional e social e predisposição a distúrbios psiquiátricos. Supõe-se que os sintomas do TDAH sejam catalisadores, tornando as crianças vulneráveis ao fracasso nas áreas mais importantes para um bom desenvolvimento – a escola, o relacionamento com os colegas e a família.

Conscientização
O TDAH é com freqüência apresentado, erroneamente, como um tipo específico de problema de aprendizagem. Ao contrário, é um distúrbio de realização. Sabe-se que as crianças com TDAH são capazes de aprender, mas têm dificuldade em se sair bem na escola devido ao impacto que os sintomas do TDAH têm sobre uma boa atuação. Por outro lado, o TDAH pode estar associado a outras doenças, que são chamadas de comorbidades, tais como tiques, depressão, ansiedade, transtorno opositor desafiador, transtorno de conduta, dislexia, etc, que devem ser tratados conjuntamente.
À medida que cresce o conhecimento médico, educacional, psicológico e da comunidade a respeito dos sintomas e dos problemas ocasionados pelo TDAH, um número cada vez maior de pessoas está sendo corretamente identificado e diagnosticado.

Causa
Pesquisas não mostram diferenças significativas na estrutura do cérebro de pessoas com TDAH. “Estudos bioquímicos e metabólicos, somados a estudos genéticos e sobre família, bem como a pesquisa sobre reação a drogas, demonstram claramente que o TDAH é um transtorno neurobiológico”, confirma o doutor Paulo Breinis. Apesar da multiplicidade dos problemas experimentados pelos portadores de TDAH variar de acordo com suas experiências de vida, está claro que existem vários genes de pequena expressão que quando somados determinam as alterações neuroquímicas.
“A identificação do precoce do problema, considerando o grau de prejuízo dos sintomas e o tratamento adequado, tem demonstrado que essas crianças podem vencer os obstáculos”, diz o especialista que recebe várias famílias em sua clínica em busca de um diagnóstico preciso e tratamento para o TDAH de seus filhos.
O tópico TDAH provavelmente continuará sendo o mais amplamente pesquisado e debatido nas áreas da saúde mental e desenvolvimento da criança. Novidades acontecem a cada dia. Os estudos sobre genética molecular possivelmente cheguem a identificar os genes relacionado com esse distúrbio. Com a crescente conscientização e compreensão da comunidade em relação ao impacto significativo que os sintomas do TDAH têm sobre as pessoas e suas famílias, o futuro parece ser promissor.

Paulo Breinis é médico chefe do setor de Neurologia Infantil do Hospital São Luis, do Hospital da Criança e do Hospital Santa Isabel. Foi Professor do Departamento de Pediatria e Chefe do Pronto-Socorro Infantil da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo por 14 anos.

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