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segunda-feira, outubro 20, 2025
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População campineira se rende aos loteamentos e condomínios fechados

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Localizado a 15 km do Centro de Campinas, no Distrito de Sousas, próximo às áreas de preservação ambiental, o loteamento Caminhos de San Conrado nasceu em 1978, na antiga Fazenda Santo Antônio. O que todos os moradores têm em comum é a procura pela paz e a natureza.
Além de muitas árvores e flores, o local proporciona assistir às crianças nas ruas, algo incomum atualmente, devido à violência. Andar de bicicleta ou carrinho de rolimã e até mesmo bater de porta em porta para pedir um doce ou uma travessura no Dia das Bruxas fazem parte das brincadeiras.
“O pessoal [moradores] comentava que em local nenhum onde moraram viram isso. É uma das atividades que a gente tem para a garotada. São coisas que se perderam no tempo e a gente procura fazer”, comenta de maneira animada o Presidente da Sociedade Civil dos Caminhos de San Conrado, Sebastião Torres, 53, mais conhecido como Sebá.
“Eu gosto de andar de bicicleta em volta de casa”, diz o menino Luca Ceccarelli, 6, que minutos antes da entrevista passeava pelas ruas em sua motocicleta.
Foi em busca dessas memórias que muitos pais se renderam à distância. Dificultaram suas vidas em alguns aspectos, mas conseguiram outras vantagens relacionadas à qualidade de vida.
O pai de Luca mora há 15 anos no local e acredita que os fatores relacionados ao sossego e à natureza são os que fazem valer a pena. “Eu acho que o ar, o meio ambiente… a segurança nem tanto porque a gente não está vivendo um bom momento, mas o sossego que a gente vive”, diz Gustavo Ceccarelli, 32, instrutor de pilotagem.
Fora as atividades rotineiras (brincadeiras nas ruas e reuniões entre amigos), há também a Semana da Criança, o Carnaval, a Festa Junina e a chegada do Papai Noel. E, para os adultos, uma confraternização de final de ano. “E fora isso a gente tem teatro, algumas atividades no salão e passeio ciclístico. Algumas coisas a gente vai moldando durante o ano”, adiciona o Presidente da sociedade.
Atualmente são 1.800 famílias instaladas no local e aproximadamente 7.000 moradores. Mas será que estas pessoas conseguiram, realmente, alcançar seus objetivos? Elas se sentem satisfeitas e seguras? Quais os aspectos que mais chamaram a atenção na hora da compra?
“Mudamos para Sousas no final de 2002. O San Conrado unia todas as expectativas que tínhamos de um bom condomínio. O contato com a natureza e a idéia de morar em um local que tenha segurança nos chamou muito a atenção”, relata a estudante de Relações Públicas Juliana Halla, 20.
Para o jornalista Celso Bodstein, 48, o que mais contou para a decisão foram os cenários rurais e a segurança. Ele construiu a casa onde mora e se mudou em 1992. “Quando vim, havia umas 30 casas apenas. O local me pareceu ideal para o que pretendia na época. Passava gado em frente e os pássaros forneciam espetáculo à parte”.
Mas as atrações naturais não englobam somente os pássaros. A diferença está em tudo: na temperatura, no ar, nas cores das flores, enfim, nas variedades. Tem até cobras que muitas vezes são encontradas, capturadas e reintroduzidas na mata.
A preocupação com o meio ambiente é constante por parte da associação. Tanto dentro, quanto fora da área onde toma conta. “Nós do San Conrado pedimos o tombamento de duas áreas de preservação permanente que fazem limite, porque lá existem nascentes que abastecem o rio Atibaia. É um processo que já está em andamento”, explica Sebá.
Foi o mesmo motivo, a natureza, que chamou a atenção do professor universitário Celso Bertran, 55. Ele conheceu o lugar por volta de 1980, mas achou muito vazio. Em 1989, ao ler um anúncio de jornal, referente a um dos lotes, resolveu investir. Após 18 anos da compra, decidiu, finalmente, trocar o apartamento na região central onde mora por uma casa em rua sem saída no San Conrado. “O lugar era muito bonito e o preço muito bom. O início da construção foi há dez anos, mais ou menos. No começo era uma casa de final de semana. Não tinha nada, nem vizinhos. Para morar lá a idéia veio há três anos, mas foi determinado somente no último”. A expectativa é que a mudança aconteça até maio deste ano.
Quanto aos aspectos mais positivos em relação ao lugar, os moradores destacam a natureza em geral, a praça poliesportiva, o transporte interno e a conservação das ruas. Nem mesmo a distância em relação ao centro os incomoda, mas sim as questões relacionadas à segurança (único fator considerado negativo). “Bem, já me acostumei com as distâncias de acesso. Acho que a segurança precisa ser repensada em função de alguns, ainda poucos, incidentes”, comenta Bodstein.
Juliana, apesar de gostar muito do local onde vive, sente-se insegura porque sua casa foi roubada no ano passado. “Tínhamos ido viajar e fomos avisados através do meu vizinho. Quando chegamos, estava completamente revirada, com latas de cerveja e bitucas de cigarro espalhadas. Levaram jóias, bijuterias, roupas, perfumes importados, tênis e aparelhos eletrônicos”. Segundo a estudante, outras duas casas vizinhas foram invadidas no mesmo dia.
“Não obtivemos nenhum retorno. Só fomos descobrir que aqui não é um condomínio depois desse episódio. Nenhum pertence foi achado e nenhum ladrão capturado”, completa.
Em entrevista, o Presidente do loteamento explica: “A violência aqui não é uma questão de segurança do San Conrado. É uma questão de Segurança Pública. O pessoal [bandidos] vem pela fazenda e entra nas casas que fazem limite. Hoje nós estamos adotando uma postura até de polícia, ou seja, vigiar a estrada de terra. Estamos colocando guarita, câmeras de vídeo e iluminação nas divisas. Se a estrada tivesse policiamento, a coisa estaria tranqüila. Não é problema de segurança do San Conrado porque ele se propõe a fazer a segurança interna das ruas. Lá você tem as pessoas [monitores] que circulam pelas ruas 24 horas por dia. As soluções que a gente toma são manter contato com os órgãos de Segurança Pública e reforçar os nossos limites”.
Bertran, que também possui casa ao lado da fazenda, acredita que nenhum lugar é totalmente seguro, mas que o San Conrado proporciona mais tranqüilidade que outros lugares. “Mesmo com o tamanho do local, ainda é muito seguro”.
Com opinião diferente, Juliana desabafa: “Eu sinto muito medo de morar aqui devido ao que passei e, principalmente, pela violência estar aumentando ainda mais. Hoje minha casa é toda protegida com alarmes de segurança e, muitas vezes, quando chego da faculdade, não me sinto segura e peço que um carro da Sociedade Civil me acompanhe. Eu gostaria de continuar aqui se atitudes fossem tomadas. É um lugar lindo, mas, infelizmente, a beleza não é prioridade”.
“Nossos índices de furtos e de ocorrências assim são mínimos. Pode melhorar? Pode, não tenha dúvida. Mas a coisa vem de fora para dentro. Essa é a grande questão. Em oito meses nós tivemos um furto. Nós chegamos a ficar dois anos sem ter uma ocorrência. Quando você tem um índice muito baixo, qualquer coisa que aconteça a pessoa se alarma. Não está acostumado àquilo”, comenta Sebá.
Sobre a violência, as opiniões são bem diversificadas. Quanto às belezas naturais, bem, todos concordam que o distrito de Sousas e, conseqüentemente, o San Conrado têm de sobra.
“Ainda me sinto seguro. É claro que um certo isolamento tem suas vantagens e desvantagens. Desejo continuar aqui, até como proposta para os filhos”, finaliza Bodstein.

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