Resultados ajudarão na definição de políticas
de saúde mais apropriadas para o homem.
Diferentemente do que se verifica na literatura mundial e em outros países, como os Estados Unidos, o câncer de próstata no Estado de São Paulo é mais comum em brancos do que em negros. Esse é um dos principais resultados do estudo epidemiológico “Perfil do Câncer de Próstata no Estado de São Paulo”, divulgado nesta terça-feira (06/12) pelo urologista Aguinaldo César Nardi, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – Secção São Paulo (SBU-SP). A pesquisa foi realizada pela SBU-SP entre setembro de 2004 e setembro de 2005. É o primeiro estudo do gênero realizado no País.
Segundo Nardi, foram pesquisados 1.915 pacientes, dos quais 1.026 (53,6%) provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS), 708 (37,0%) da rede de saúde suplementar (convênios médicos, cooperativas e sistemas de auto-gestão em saúde) e 172 (9,0%) da clínica privada (particulares). Em 9 casos (0,5%), a modalidade de atendimento foi outra ou desconhecida. A pesquisa foi feita de forma voluntária, por urologistas sócios da SBU-SP, que preenchiam um formulário pela internet com os dados de cada paciente com a doença que atendiam. Os resultados obtidos são significativos, pois os 1.915 pacientes estudados representam 16% dos 13.020 casos novos de câncer de próstata previstos pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) para o Estado de São Paulo em 2005.
O trabalho revelou que 85,2% dos pacientes estudados eram brancos e apenas 13%, negros, e 1,8%, amarelos. A pesquisa mostrou ainda que 38,1% dos pacientes pesquisados procuraram espontaneamente o médico, dos quais a maioria é de pacientes particulares (49,1%) e conveniados (51,5%). Apenas 14,9% eram pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). “Isso mostra que pode existir uma falta de informação entre os pacientes do SUS”, explicou Nardi. “Ou então que eles têm maiores dificuldades de chegar até o urologista.”
O estudo da SBU-SP teve outros resultados importantes, como o fato de que foi maior a porcentagem de pacientes negros (33%) do que brancos (22,2%) que chegaram ao médico com a doença em estágio mais avançado. O mesmo ocorreu com os pacientes do SUS (30,6%) em relação aos de convênio (22%). Em outras palavras, mais doentes negros e do SUS procuraram tratamento com o câncer já em estágio avançado, o que pode novamente revelar falta de informações ou dificuldade de acesso ao médico especialista.
Dificuldade essa que é reforçada por outro dado, a necessidade de deslocamento para ser atendido. Pacientes do SUS foram os que mais se deslocaram de suas cidades (68,38%), enquanto os de convênios registraram o menor índice (37,41%). “Isso reflete a realidade da assistência à saúde no Brasil”, explica Nardi. “Os pacientes dos SUS precisam se deslocar para outras cidades para obter o diagnóstico de câncer de próstata, enquanto os de convênio são atendidos onde moram.”
Durante a apresentação dos resultados do estudo, Nardi falou também da importância e eficácia do exame por meio do toque retal e condenou o preconceito que o cerca. “Tabu, medo e preconceito ainda imperam entre os homens”, disse. “Eles pensam que vão perder sua masculinidade se fizerem o exame.”
Para mudar essa situação, a SBU vem fazendo campanhas para acabar com o preconceito contra o toque retal. “É o exame mais eficiente que existe”, garantiu. “Junto com o PSA, um outro exame que se baseia na presença dessa proteína no sangue, o toque retal consegue diagnosticar a doença em 80% dos casos. O exame do PSA sozinho não alcança mais do que 47%. Além disso, o toque retal é rápido – dura de 5 a 7 segundos –, de fácil realização e acessível a todos, por causa de seu baixo custo.”
O estudo da SBU-SP se reveste ainda de importância porque o câncer de próstata, depois do de pele, é o mais comum em homens, representando aproximadamente 10% de todos os cânceres diagnosticados na população masculina. Estima-se que haverá 543 mil novos casos da doença no mundo, em 2005. No Brasil, o câncer de próstata representa um problema de saúde pública, em função de suas crescentes taxas de incidência e mortalidade. Em 1999, registraram-se 14.500 novos casos e 4.970 mortes no país, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que, em 2003, computou 35.240 casos novos. Para o ano de 2005, o Inca prevê 46.330 casos novos, com uma incidência bruta de 51 casos por 100.000 homens.
“Com base nos dados revelados pelo estudo, será possível aos órgãos públicos a definição de políticas mais adequadas de atenção à saúde do homem”, observou Aguinaldo Nardi.




