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domingo, dezembro 22, 2024

31% dos brasileiros não sabem o que é Saneamento Básico

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Com a meta de conhecer como a população percebe a oferta do serviço de esgoto nas maiores cidades do País, qual a importância que dá a esse serviço, o entendimento de seus impactos sociais, tanto positivos como negativos, bem como de quem é a responsabilidade pelo seu fornecimento, o Instituto Trata Brasil e o IBOPE Inteligência acabam de divulgar a pesquisa “Percepções sobre Saneamento Básico”.

A pesquisa ouviu 1.008 pessoas moradoras das 79 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes e revelou que 31% da população não sabem o que é Saneamento Básico. Em uma questão específica sobre o termo, na qual os entrevistados poderiam indicar mais de um tipo de serviço dentro do conceito, as cinco respostas mais mencionadas foram: serviços de esgoto (54%), serviços de água (28%), coleta de lixo (15%), limpeza pública (14%) e pavimentação (8%). A citação ao esgoto ficou em primeiro lugar em todas as regiões do País, seguida de serviços de água, que só na região Nordeste ficou em terceiro lugar, atrás de limpeza pública.

Apesar dos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Ministério das Cidades) indicarem que apenas metade da população têm acesso a esgoto, 77% das pessoas acreditam que estão ligadas à rede pública. Essa percepção é maior nas cidades do Sul (87%) e do Sudeste (84%).

“Como os dados oficiais indicam que esta porcentagem é menor, percebe-se que a população acredita que o esgoto de seu domicílio é ligado à rede municipal de esgoto, quando na verdade não é”, afirma Raul Pinho, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.

A pesquisa revela que 1 em cada 5 domicílios (20%) consultados declara que não está ligado à rede pública. Os índices são maiores nas cidades da região Nordeste (56%) e de médio porte (68%). Segundo Hélio Gastaldi, diretor de Atendimento e Planejamento do IBOPE Inteligência, quanto menor é a renda, a escolaridade e a classe social do entrevistado, menor é o percentual dos que estão ligados à rede. “Esse resultado era esperado, mas o que chama a atenção é a quantidade significativa das pessoas mais escolarizadas e com uma condição financeira acima da média que ainda não contam com esse serviço essencial. Um terço da classe D/E (32%) não dispõe de acesso à rede pública, proporção que passa para um quinto (21%) dentro da classe C, e para cerca de um em cada 10 domicílios (9%) da classe A/B”, comenta.

Em relação à escolaridade dos entrevistados que não têm acesso à rede de esgoto, 23% estudaram somente até o Ensino Fundamental, 17% possuem o Ensino Médio e apenas 10% cursaram o Ensino Superior.

Embora pouco mais de ¼ dos entrevistados (28%) afirmarem desconhecer o destino do esgoto de sua cidade, percentual próximo (22%) dos que acreditam que os resíduos vão para uma estação de tratamento; para 32%, o esgoto das casas segue direto para os rios. Quanto ao tratamento, 17% das pessoas acham que todo o esgoto coletado recebe tratamento, 50% avaliam que apenas parte dos resíduos é tratado e para 16% não há tratamento algum. Quase 1/5 (17%) dos entrevistados não sabe opinar.

Das pessoas que acham que o esgoto vai para os rios, 32% não estão ligadas à rede pública, 36% moram em cidades do Sudeste, 37% habitam em periferias e 37% vivem em cidades de médio porte. As porcentagens das respostas dos que afirmaram que os resíduos seguem para um centro de tratamento estão divididas em: 38% dos mais ricos, 37% das cidades do Sul, 37% das cidades de porte médio, 34% dos mais escolarizados e 31% dos moradores do interior. Já entre os que não sabem, 32% são menos escolarizados, 38% estão em cidades do Nordeste, 32% vivem na periferia, 35% são de classes mais pobres e 33% moram em favelas.

Para Hélio Gastaldi, as pessoas entendem o significado geral do termo “esgoto” e percebem a existência de uma rede na qual são despejados os resíduos dos domicílios, apesar de não terem familiaridade com a expressão “coleta”. Com relação ao tratamento, a questão é mais delicada, uma vez que os entrevistados demonstraram grande dificuldade para entender os percursos e o destino do esgoto a partir do momento em que este sai de suas casas. Para o estabelecimento de um parâmetro para a avaliação de cada tipo de serviço foi necessária uma explicação sobre o significado destes termos.

Conduzida a escolher entre a ampliação da rede atual e o tratamento do que já é coletado, a população praticamente se divide em duas partes: 54% preferem a ampliação, enquanto 40% entendem que a prioridade deveria ser a universalização do tratamento. “A surpresa aqui ficou na proporção dos que preferem tratamento, que é praticamente a mesma entre os que estão e não estão ligados à rede pública. As percentagens foram 40% e 37%, respectivamente”, conta Gastaldi.

As pessoas que ainda não possuem o serviço de escoamento ligado à rede, mostraram-se interessadas em fazer parte da rede pública de coleta, mas praticamente a metade dos que se encontram nessa situação não está disposta a gastar qualquer quantia que seja para ter o serviço. Destes, 41% declaram que não pagariam nada e 28% estão indecisos. A média de gastos entre os que se disporiam a pagar (31% do total de domicílios sem o serviço atualmente) é de R$ 44,00. Para 50% dos entrevistados, o valor cobrado pela conta da água em relação ao serviço prestado é considerado caro. Dos que têm essa percepção, 72% estão localizados nas cidades do Norte e do Centro-Oeste do País. Os que pensam que o valor cobrado está adequado à qualidade do serviço somam 26%.

SATISFAÇÃO COM OS SERVIÇOS

Cerca de 1/4 (26%) dos entrevistados está insatisfeito com os serviços de coleta e de tratamento de esgoto, enquanto 50% se encontram satisfeitos. Entre os que consideram os serviços satisfatórios, destacam-se os moradores da região Sul (61%), do interior (63%), com renda familiar entre 2 e 5 salários mínimos (59%) e os que estão ligados à rede pública (59%). Os insatisfeitos são os mais escolarizados (34%), residentes nas cidades da região Nordeste (47%), habitantes da periferia (31%), das cidades de médio porte (37%) e moradores de favelas (44%).

Na questão sobre serviços de tratamento do esgoto, o perfil dos que estão satisfeitos e o dos insatisfeitos não variam muito. Os mais satisfeitos são os entrevistados da região Sul (56%), do interior (57%) e com renda familiar entre 2 e 5 salários mínimo. Já os mais insatisfeitos são os mais escolarizados (31%), os da região Nordeste (46%), das cidades de médio porte (37%), mais pobres (36%) e moradores de favelas (47%).

Segundo Hélio Gastaldi, as pessoas de condição socioeconômica mais crítica (classes D e E) mostram-se menos satisfeitas, porém, com diferenças menos significativas em relação às de classe mais alta do que se poderia esperar em decorrência das diferenças observadas na prestação desses serviços para cada tipo de morador. “Entre os que não possuem o serviço de coleta de esgoto, a insatisfação chega a 65%, mas o que surpreende é que praticamente 1/5 encontra-se satisfeito com um serviço que não recebe”.

SANEAMENTO BÁSICO E OUTRAS ÁREAS

O esgoto ficou em 7º lugar no ranking de áreas mais problemáticas, apontado por 10% dos entrevistados. A primeira colocação ficou com saúde (49%), seguido de segurança (46%), drogas (40%), educação (28%), emprego (27%), calçamento e pavimentação (11%) e limpeza pública (11%). “Uma vez que o saneamento pode ser apontado de acordo como é percebido em cada uma das suas vertentes, à primeira vista pode parecer que o tema não tem tanta importância, comparado às demais áreas. Porém, se somarmos as menções a esgoto (10%), limpeza pública (11%), coleta de lixo (4%) e abastecimento de água (9%), chegamos ao mesmo patamar dos problemas mais citados”, comenta Gastaldi.

Entre os que apontaram o esgoto como a área de maior problema se destacam os que não estão ligados à rede (22%), os moradores de favelas (17%), cidades de médio porte (16%), periferias (15%) e cidades nordestinas (14%).

Na questão sobre o grau de importância das áreas prioritárias, os entrevistados votaram nos serviços que acham “muito importantes”, “importantes”, “pouco importantes” ou “nada importantes”. As respostas mostram que, na soma das menções “muito importantes” e “importantes”, saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto são considerados tão importantes quanto as demais áreas avaliadas, incluindo saúde, educação e segurança pública.

IMPACTOS NEGATIVOS POR FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO

Quase 1/5 (18%) dos domicílios sofre com problemas de refluxo, praticamente a mesma quantidade (17%) que aponta problemas com enchentes e inundações. O mau cheiro dos esgotos afeta uma proporção maior, sendo indicado por mais de 1/3 dos domicílios pesquisados.

É bastante expressivo o conhecimento dos entrevistados sobre os impactos negativos gerados pela falta de serviços de coleta e tratamento de esgoto. Os mais citados são: doenças e problemas de saúde (70%), mau cheiro (41%), presença de ratos (36%), presença de insetos (27%) e poluição de rios (14%).

Com relação aos serviços de saneamento básico mais urgentes, 21% das pessoas citaram a limpeza de bueiros/bocas de lobo, 15% falaram das coletas de esgoto e também 15% elegeram a retirada de entulhos das ruas e áreas abandonadas. Dos que acham coleta de esgoto prioritário, 37% não estão ligados à rede, 28% são de cidades do Nordeste, 23% de cidades do Norte e do Centro-Oeste, e 19% são moradores de favelas.

ESGOTO X QUALIDADE DE VIDA

Para Hélio Gastaldi, a maioria praticamente absoluta da população (84%) vincula a presença de esgoto com melhora da sua qualidade de vida, assim como a de sua família. Também mostra discernimento, ao indicar como ocorrem os principais ganhos.

“Metade dos entrevistados (50%) afirma evitar doenças e problemas de saúde, respostas às quais poderiam ser agregadas referências à possibilidade de evitar a presença de insetos (13%) e ratos (12%), com implicações óbvias em relação à saúde. As outras respostas mais expressivas dizem que a canalização dos esgotos impede a proliferação de sujeiras em geral (23%), assim como o mau cheiro (17%)”.

A leptospirose, também citada como “doença de ratos”, é o maior problema dentre os vários que podem ocorrer, apontados espontaneamente (sem uma relação de respostas específicas) pelos entrevistados, sendo citado por praticamente 64%, seguido de diarreia, com uma incidência de 42%. Foram bastante lembradas as doenças de pele (28%) e viroses (21%), além de alguns outros casos que, na verdade, são sintomas de alguma doença específica: vômito (25%) e febre (21%).

Cerca de 1/3 dos entrevistados já vivenciou ou conhece alguém que já teve problemas relacionados ao esgoto. Os percentuais mais expressivos estão entre os entrevistados da região Sul (43%), das periferias (40%), mais pobres (39%) e entre os que não estão ligados à rede pública (42%). Os problemas mais presentes são os relacionados à saúde (11%), ou correlatos, como presença de ratos (8%) e de insetos (6%), assim como outros estruturais, nos quais se destacam os entupimentos (9%) e os causados por enchentes (7%).

SANEAMENTO BÁSICO X ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A maioria dos entrevistados entende que a administração municipal é responsável pelos serviços de saneamento básico (68%). A avaliação dos serviços de coleta e tratamento de esgoto mostra que a atuação da Prefeitura está aquém da expectativa da população, com notas inferiores às dos demais serviços prestados: coleta de lixo (8,0), tratamento de água (7,6), coleta de esgoto (6,4) e tratamento de esgoto (5,9). Apesar de 61% das pessoas afirmarem que a administração municipal se esforça, porém não o bastante, para que os serviços de coleta e tratamento sejam universais, ¼ dos pesquisados (24%) considera que ela não faz nada para que a cidade tenha um atendimento pleno dos serviços. Destes, 34% são moradores de cidades do Nordeste, 33% estão entre os mais pobres, 39% vivem em periferias e 45% não estão ligados à rede.

A pesquisa revelou ainda que é muito baixo o número de pessoas que declara ter levado em conta as condições de esgoto quando escolheu seu candidato nas últimas eleições municipais: apenas 2%, que passam para 5% entre os que não possuem serviço público de coleta. O abastecimento de água é citado por 1%. Nos primeiros lugares, aparecem as demandas por serviços de saúde (19%), segurança (10%) e educação (10%).

Na opinião de 61% dos pesquisados, os candidatos não se mostraram preocupados com o tema saneamento básico. Essa percepção é maior na periferia (68%), em cidades do Norte e do Centro-Oeste (67%) e pelos que não estão ligados à rede (67%).

Mesmo atribuindo grande importância ao tema, a população não se mobiliza para agir de forma organizada em relação às carências da área. As ações individuais também ficam restritas a uma pequena parcela e ocorrem fundamentalmente em participação de abaixo-assinados (5%) e contato telefônico com os órgãos responsáveis. “Até mesmo nos domicílios sem acesso à rede pública de coleta, mais de oito em cada dez nunca teve qualquer atitude”, afirma Gastaldi.

Perguntados sobre onde gostariam de buscar mais informações sobre os serviços de coleta e tratamento de esgoto, os entrevistados responderam: TV (34%), conta de água (20%), boletim informativo (17%), carta da Prefeitura (17%), rádio (16%) e jornais (15%).

O Instituto Trata Brasil acredita que a avaliação da qualidade dos serviços de saneamento básico oferecerá um instrumento objetivo, que dará mais transparência à gestão pública, permitindo mais chances de entendimento da população sobre o que está sendo feito com o dinheiro público, bem como aos administradores municipais acompanharem a evolução da percepção da população sobre as melhorias nas cidades.

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