26.5 C
Campinas
segunda-feira, dezembro 23, 2024

Aumenta 10 vezes o número de famílias ameaçadas por despejo

Data:

A situação é agravada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2 de novembro, que não acatou o pedido de movimentos populares para prorrogar por mais seis meses a proibição de remoções forçadas por conta da pandemia. Foto Tânia Rego/Agência Brasil

 

 

 

Em apenas dois anos, a ação deletéria de Jair Bolsonaro contra as políticas sociais multiplicou por dez o número de famílias ameaçadas de despejo pelo Brasil. O levantamento mais recente da Campanha Despejo Zero, que reúne 175 organizações e movimentos populares, estima que subiu para 201,3 mil o número de famílias nessa condição entre março de 2020 e outubro de 2022.

Desde o início da pandemia, a quantidade de pessoas na iminência de perder o teto cresceu 901%. O último levantamento da Campanha Despejo Zero, em maio de 2022, apontava a existência de 142.385 famílias sob despejo iminente. Nesse intervalo de quatro meses, o número de famílias na situação saltou 32%.

Entre as atuais 898.916 pessoas, cerca de 600 mil são negras, 154 mil são crianças e 151 mil, idosas. O estudo também revela que mais de 40% das famílias recebem até um salário mínimo (R$ 1.212). O estado com a maior população em risco é São Paulo, com cerca de 57 mil famílias, seguido pelo Amazonas, com 28 mil.

A situação é agravada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2 de novembro, que não acatou o pedido de movimentos populares para prorrogar por mais seis meses a proibição de remoções forçadas por conta da pandemia. Relator da ADPF 828, que tratava do tema, o ministro Luís Roberto Barroso determinou que se instaure no país um “regime de transição” para os despejos.

A decisão, respaldada pela maioria da Corte, estabelece que os tribunais nos estados criem Comissões de Conflitos Fundiários. O Poder Público passa a ser obrigado a ouvir representantes das comunidades afetadas; avisá-las com antecedência da situação; dar um “prazo razoável” para a desocupação e encaminhar quem precise para “abrigos” ou adotar “outra medida eficaz para resguardar o direito à moradia”.

Mas as condicionantes do regime de transição valem apenas para ocupações coletivas. Despejos de quem vive em casas por aluguel de até R$600 já podem ocorrer, ainda que o ocupante esteja em situação vulnerável. Estudiosos ouvidos pela revista eletrônica Consultor Jurídico acreditam que o número de despejos deve aumentar nos próximos meses, no caso dos contratos residenciais nos quais os inquilinos estejam inadimplentes.

Lei proposta por petistas suspendeu despejos e desocupação de imóveis

Despejos ou desocupação de imóveis foram suspensos até o fim do ano passado pela Lei 14.216/2021, oriunda do Projeto de Lei 827/20, protocolado na Câmara em abril de 2020 pelas deputadas federais Natália Bonavides (PT-RN), Professora Rosa Neide (PT-MT) e André Janones (Avante). Mesmo tramitando em caráter emergencial, a proposta levou mais de um ano e meio para virar lei, em 8 de outubro de 2021.

Bolsonaro chegou a vetar o projeto, mas a decisão foi derrubada pelo Congresso. PT, outros partidos de oposição e movimentos sociais conseguiram estender o prazo no STF por duas vezes, até o final de junho deste ano.

Ainda tramita no Senado o Projeto de Lei (PL) 1.718/2022, do senador Paulo Paim (PT-RS), que prorroga o prazo novamente, até 31 de março de 2023. Enquanto a proposta não for aprovada, a ameaça de despejo se mantém, em um momento de empobrecimento e endividamento das famílias e de extinção do programa Minha Casa Minha Vida, que ergueu mais de 4 milhões de habitações no país de 2009 a 2016.

Bolsonaro lançou o Casa Verde e Amarela via medida provisória apresentada em agosto de 2020. O programa excluiu as famílias de menor renda e agravou o déficit habitacional país afora. A estimativa da empresa de investimentos e gestão TCP Partners, divulgada no ano passado, era de falta de moradias para 6,1 milhões de pessoas.

Déficit habitacional explodiu sob Bolsonaro

A revista Piauí reporta que pelo menos 17,4 milhões de pessoas vivem no país em situação de déficit habitacional – em casas precárias, improvisadas ou com a maior parte da renda comprometida com o aluguel. Cerca de 88% das famílias nessa condição recebem até 3 salários mínimos.

Boa parte delas vive em assentamentos informais, caracterizados pelo estado precário das moradias, superlotação, irregularidade da propriedade ou ausência de serviços públicos. Em 2021, a área total ocupada por favelas no Brasil totalizava 106 mil hectares.

Além de não construir casas, ao longo dos anos o desgoverno Bolsonaro foi reduzindo o orçamento destinado à contenção de desastres naturais. Conforme dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), pelo menos 9,5 milhões de pessoas vivem em áreas de risco, sujeitas a deslizamentos de terra, enchentes e outros desastres climáticos.

Embora quase 900 cidades brasileiras possuam moradias em áreas de risco, 20 municípios concentram 36% de todas essas áreas ocupadas nos últimos 37 anos. As seis primeiras cidades da lista são: Salvador (BA), Ribeirão das Neves (MG), Jaboatão dos Guararapes (PE), São Paulo (SP), Recife (PE) e Belo Horizonte (MG).

Os dados do Cemadem também apontam que, a cada 100 hectares de favelas, 15 estão em área de risco por alta inclinação. Em ocupações urbanas com declive maior que 30%, o risco de acidentes causados por eventos climáticos é potencializado.

As mais de 175 entidades reunidas na Campanha Despejo Zero entregaram a representantes do Gabinete de Transição do governo uma carta com propostas de medidas urgentes e estruturais para o enfrentamento do déficit habitacional e a ameaça de despejos coletivos no campo e na cidade mapeados pela campanha.

“As propostas visam contribuir com a adoção de medidas que garantam um Brasil e um governo Despejo Zero, e o fim da violação de direitos humanos em processos de remoção/reassentamento”, afirma o documento. “Espera-se que o Governo Federal cumpra seu papel de articulador de uma política nacional de prevenção e mediação de conflitos fundiários articulando as diversas instâncias de governo com a participação da sociedade civil e a partir do acúmulo das experiências.”

Da Redação do PT

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Compartilhe esse Artigo:

spot_imgspot_img

Últimas Notícias

Artigos Relacionados
Relacionados

Bancos têm horários reduzidos de atendimento no final de ano

As festas de final de ano vão alterar o...

Desabamento deixa 11 feridos na zona norte do Rio

O desabamento de  um imóvel deixou 11 feridos no...

Nova Cesta Básica Nacional de Alimentos: veja quais alimentos da lista terão isenção

A Nova Cesta Básica Nacional de Alimentos é composta...

Barroso dá 5 dias para MP e Defensoria opinarem sobre câmeras da PMSP

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís...
Open chat
Quer anunciar ligue (19) 99318-9811
Redação (19) 99253-6363