De cada dez carros produzidos no Brasil hoje, oito possuem a tecnologia flex – que permite ao usuário escolher abastecer o tanque com álcool ou gasolina. Um levantamento feito com base nos dados dos últimos cinco anos da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), mostrou que pouco mais de 30% dos veículos se encaixavam nessa categoria em 2005.
Diante da grande oferta de automóveis com a tecnologia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, decidiu prorrogar o IPI reduzido para os carros flex até 31 de março de 2010. No caso dos veículos de até 1.000 cilindradas, o imposto foi congelado em 3% – o que deve impulsionar as vendas dos chamados carros populares.
Segundo Mantega, o governo pretende manter os benefícios tributários “para o setor automobilístico que têm a ver com o meio ambiente”. O ministro chegou a sugerir a criação de um “selo verde” para os automóveis, que serviria para medir o nível de consumo e emissão de gases dos veículos fabricados no país.
Entretanto, a poluição causada por automóvel movido a álcool não é muito diferente daquela provocada pelos que usam gasolina. De acordo com o engenheiro automotivo e especialista em motores bicombustíveis da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade do Brasil) Eduardo Tomanik, na média, a poluição de um carro à gasolina equivale a dois a álcool.
Algumas medições realizadas recentemente indicam que os motores flex “frios” consumindo álcool não vaporizam tão bem como à gasolina. Nessa etapa, são mais poluentes que gasolina.
No veículo movido com o derivado do petróleo, são cerca de 150 gramas de CO2 produzidos por km, enquanto o carro com álcool, com o motor já “quente” e em pleno funcionamento, gera 75 gramas de CO2 por km.
Segundo Tomanik, considerando a poluição regional, a medida do governo parece não surtir efeito imediato já que haverá mais carros flex nas ruas usando álcool como combustível. Proporcionalmente, o nível de poluição também deve crescer.
Porém, em termos globais, o especialista concorda com a eficácia da medida e diz que “pensar no mundo é melhor que pensar no escapamento” – uma alusão aos prejuízos locais em detrimento das vantagens globais do uso do álcool.
– A discussão forte hoje é o aquecimento global, que até pouco tempo não considerava o CO2 como vilão. Desde a cadeia de produção do etanol até sua utilização, só há benefícios: a cana consome CO2 para crescer e nós respiramos o gás carbônico, o que gera uma compensação. Na minha opinião, é uma posição coerente do governo.
r7