Cinco atletas brasileiros conquistaram vagas para competir nas próximas Olimpíadas de Inverno, que acontecem entre os dias 12 e 28 de fevereiro em Vancouver, no Canadá. Entre eles, está a esportista beneficiada pelo programa Bolsa-Atleta do Ministério do Esporte, Jaqueline Mourão, que será a primeira mulher latino-americana a se classificar na modalidade esqui Cross Country. A conquista desses atletas é ainda maior por viverem em um país tropical, sem tradição nos esportes de inverno.
O ministro do Esporte, Orlando Silva, ressalta a importância de se estimular a prática esportiva, mesmo em modalidades que não são tradicionais no país. “O papel do Ministério do Esporte é proporcionar a prática esportiva, seja ela recreativa ou de alto rendimento, a todos os brasileiros”, disse o ministro. Também se classificaram para as Olimpíadas de Vancouver 2010 os atletas Jhonatan Longhi e Maya Harrison (esqui alpino); e Isabel Clark (snowboard) e Leandro Ribela (esqui Cross Country).
Jaqueline Mourão – Amor à primeira deslizada
Segue a entrevista realizada com a atleta Jaqueline Mourão sobre a trajetória no esporte, preparação para as Olimpíadas de Inverno e expectativa quanto ao resultado. A atleta espera que a participação dela inspire jovens brasileiros a se dedicarem ao esqui.
Como é praticar um esporte que não é da natureza do Brasil, um país tropical?
Jaq – Não temos neve no Brasil, mas é possível treinar sem neve. E, com o aquecimento global, vários países estão sofrendo com a falta de neve. Temos opções como o roller ski, esqui na areia, patins com bastões, caminhada com bastão (nordic walking), e toda a parte de preparação física pode ser feita com facilidade no verão.
Os Jogos Olímpicos são o maior evento esportivo do Mundo, e colocar a bandeira brasileira entre os países participantes é uma vitória. É com essa mentalidade que enfrento esse desafio. Eu sou a única representante da América Latina no esqui Cross Country feminino em Vancouver 2010.
Quando você conheceu o esporte?
Jaq – O meu contato com o esqui aconteceu por puro “acidente da natureza”. Eu estava competindo na América do Norte em provas de Mountain Bike e quando cheguei em Quebec, no Canadá, fomos recebidos com uma tempestade de neve tardia (em maio de 2005) e não tinha como pedalar.
Meu marido, Guido Visser, atleta olímpico canadense na modalidade, me convidou para esquiar, e, como não tinha outra opção, resolvi aceitar. Foi amor à primeira deslizada e comecei desde então a me interessar por esse esporte.
Como foi a sua preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno?
Jaq – Começamos a temporada olímpica em maio de 2009 no Brasil e, em seguida, em Quebec. Tivemos a ajuda de Jean Paquet, treinador nacional do time canadense de Biathlon, e fizemos muitos treinamentos em roller esquis (esqui com rodas) em Val Cartier.
Em agosto de 2009 fomos à Argentina para participar do Campeonato Brasileiro de xc esqui e da tradicional prova “Marcha Blanca”. Foi uma experiência muito boa e um ótimo training camp, com um ambiente bem latino.
Eu ganhei as duas provas regionais e, na Marcha Blanca, além de vencer na categoria feminino, eu consegui terminar na 3ª colocação geral. Eu fiquei muito feliz com meus resultados e com a melhora da minha técnica no estilo livre, depois de tanto roller esqui no Quebec.
Depois, em outubro 2009, fizemos outro training camp em Ramsau, na Áustria, com a equipe canadense de Biathlon.
Após esse camp, estivemos no Brasil para visitar minha família e amigos antes do início da temporada. Eu sabia que Natal, Ano Novo e no meu aniversário eu estaria “na estrada”. Era um bom momento para encontrar a família e me fortalecer antes da longa temporada boreal. No Brasil, continuamos os treinamentos com roller ski e também esqui na areia. Nós amamos a oportunidade de poder ensinar e mostrar nosso esporte aos jovens e crianças brasileiros por lá.
Depois disso, nós viajamos para a Noruega, a minha primeira experiência em uma Copa do Mundo, considerando que eu alcancei o índice em março 2009 (um resultado inferior a 120 pontos FIS). Com um nível altíssimo, foi uma ótima oportunidade de ganhar bastante experiência e se acostumar com o ambiente competitivo que vamos enfrentar em Vancouver 2010. Então nós participamos de várias provas: Noruega, Suíça, Itália e Áustria. Em janeiro de 2010, voltamos para Quebec e iniciarmos a preparação final.
Qual é a sua expectativa de resultado?
Jaq – Eu tenho mais experiência hoje do que nas Olimpíadas de Torino 2006 e também melhores resultados que indicam que iremos melhorar ainda mais nossas marcas. Espero estar na minha melhor forma e pontuar bem, isso quer dizer, fazer meus melhores pontos em confronto direto com as tops mundiais. Até agora meus melhores pontos em confronto direto são 181 pontos FIS – Federação Internacional de Esqui.
Eu ficarei satisfeita se pontuar abaixo disso, esquiar bem e não cometer erros durante as descidas. Nós já conhecemos a pista Olímpica (fizemos um training camp em dezembro de 2008 em Wistler), sabemos o que iremos enfrentar e isso me dá bastante confiança nesta reta final da preparação.
Eu não espero ganhar uma medalha nesta Olimpíada, espero melhorar meu resultado de Torino e representar bem não somente o Brasil, mas toda a América Latina, considerando que serei a única mulher latina classificada no esqui Cross Country. Mas espero que essa minha trajetória esportiva inspire jovens brasileiros a se dedicarem ao esqui Cross Country e no futuro poderemos brigar por medalhas nas Olimpíadas de Inverno no esqui xc.




