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sexta-feira, setembro 20, 2024

Fome quadruplicou em quatro anos no estado do Rio

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O mesmo relatório em âmbito nacional revelou que o país possui mais de 33 milhões de pessoas passando fome. São 14 milhões a mais em comparação com 2020.

 

 

A fome quadruplicou no estado desde 2018: o percentual da população em situação de insegurança alimentar grave subiu de 4,2% para 15,9%. São mais de 2,7 milhões de pessoas passando fome, enquanto mais de 57% de uma população de 17,4 milhões se encontra em insegurança alimentar.

Os dados, inéditos, fazem parte do recorte regional do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Foram apresentados nesta quinta-feira (23) pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan), no encerramento do Encontro Nacional Contra a Fome, realizado no bairro da Gamboa, na Zona Portuária da capital fluminense.

No dia 8 de junho, o mesmo relatório em âmbito nacional revelou que o país possui mais de 33 milhões de pessoas passando fome. São 14 milhões a mais em comparação com 2020. Também indicou que 68,6% dos desempregados e 42,2% dos que estão no trabalho informal são acometidos por insegurança alimentar moderada ou grave.

O recorte do estado foi antecipado a pedido da Ação da Cidadania, parceira e apoiadora da Rede Penssan. Não apenas por ser o local da sede da entidade e também do Encontro Nacional, mas porque o Rio de Janeiro é “um espelho do Brasil”, nas palavras do diretor executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo “Kiko” Afonso.

“A gente quis trazer esses dados do Rio de Janeiro para mostrar que não existe aquela coisa que se tinha na cabeça de que fome é em Roraima, fome é no Rio Grande do Norte. Fome é no Rio de Janeiro. A antiga capital do Brasil. No Centro do Sudeste, onde se produz riqueza”, afirmou Kiko. “Não é possível que as pessoas ainda achem que a fome é uma questão distante. Ela está do nosso lado, está na realidade do nosso dia-a-dia.”

Esse espalhamento da fome para regiões urbanas mais ricas é visto “na quantidade de pessoas procurando emprego, pedindo comida e morando nas ruas”, prossegue o dirigente. “Água, fralda, leite em pó, refeições. Gente que pagava aluguel e foi morar na rua. Gente que não come há dois dias”, exemplificou.

Para Kiko, “a fome tem CEP, tem cor e tem gênero”. “A maior vítima é a mulher preta ou parda e com filho de até 10 anos em casa. Você percebe claramente nos dados”, destaca. “É inequívoco como o racismo estrutural, o preconceito contra a mulher, como as desigualdades brasileiras tem como consequência a fome.”

 

Nova Agenda Betinho pede retomada de políticas públicas de segurança alimentar

Rosana Salles, integrante da Rede Penssan, defende a retomada de políticas sociais de combate à fome e à miséria no país. “Só a transferência de renda agora não consegue dar conta da garantia de uma alimentação saudável em quantidade e qualidade adequada para as famílias. Porque você tem o preço dos alimentos, que está saindo do controle”, explicou.

“Eu acho que até essa frase que tem aqui na minha camisa, ‘quem tem fome tem pressa’, era muito do pensamento do Betinho (fundador da Ação da Cidadania)”, complementa Kiko. “A gente entende que a solução vem de política pública, vem de emprego, vem de renda, saúde e educação. Isso é o que resolve de forma definitiva. Mas o que faz com que as pessoas sobrevivam até lá é a solidariedade.”

Durante o Encontro Contra a Fome foi lançada a nova edição da Agenda Betinho, com 92 propostas de ações de Segurança Alimentar e Nutricional para o país e suas cinco regiões. O material foi elaborado a partir do diálogo com pesquisadores, agricultores, pescadores, ribeirinhos, povos de comunidades tradicionais e de matriz africana, quilombolas, negros, mulheres, indígenas, sindicatos, coletivos e frentes.

Entre as propostas apresentadas no documento estão a desoneração dos itens da cesta básica, a facilitação da distribuição de frutas e legumes, especialmente para as famílias em insegurança alimentar grave, o fortalecimento da agricultura familiar e a ampliação do orçamento para merenda nas escolas.

Kiko lembra que o sociólogo Betinho lançou uma campanha nacional contra a fome quando o país tinha 32 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza. Agora, há 33 milhões de barrigas vazias.

“O candidato que não olhar para a fome como tema prioritário está completamente desligado da realidade do Brasil. Não dá mais pra negar, a fome se espalhou de uma forma muito grave”, afirma o diretor-executivo da Ação da Cidadania. “E nós eleitores temos que olhar para todos os candidatos, como senador e deputado. Muitas das políticas públicas implementadas vêm do Congresso.”

 

Lula: “Não falta comida, falta vergonha na cara do governo”

Em sua visita a Natal, na quinta-feira passada (16), Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que não faltam alimentos no país. “O Brasil tem 33 milhões de pessoas passando fome. E não tem explicação. Se um pequeno produtor rural, com um mínimo de investimento e organização, consegue fazer uma revolução na produção de alimentos, por que tem fome? Na verdade, a fome é falta de vergonha na cara do governo”, afirmou na Feira Nordestina de Agricultura Familiar.

Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome de Lula e do Desenvolvimento Agrário de Dilma Rousseff, o agora deputado federal Patrus Ananias (PT-MG) acusa o desgoverno Bolsonaro de desmontar todas as políticas de soberania alimentar que fizeram o Brasil sair do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Nós integramos o Bolsa Família com políticas públicas de assistência social, como o Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e os Cras (Centros de Referência da Assistência Social), e com políticas de segurança alimentar. Levamos os restaurantes populares Brasil afora e, com eles, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos e políticas de apoio à agricultura familiar”, enumerou em entrevista ao Jornal PT Brasil da quarta-feira (22).

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