Segundo a Federação Única dos Petroleiros a greve da categoria “está forte e a cada dia ganha mais força”. Foi o que informou o coordenador da entidade, José Maria Rangel. Ele acrescenta que a mobilização e a paralisação proporcionaram debates importantes com a sociedade sobre a privatização da Petrobras e o significado de as refinarias permanecerem sob controle do Estado. “Estamos no caminho certo, mesmo com o silêncio da mídia conservadora e os ataques do Judiciário. Felizmente a categoria tem entendido a importância da participação nesse movimento.”
Nesta terça-feira (11), trabalhadores de mais cinco plataformas e dois terminais aderiram à greve. No total, 102 unidades do sistema Petrobras estão mobilizadas em 13 estados do país. A empresa começou, na segunda-feira (10), a buscar temporários para manter as operações.
As mais recentes adesões são do Terminal de São Caetano do Sul (região do ABC paulista), do Terminal Aquaviário, de Barra do Riacho (ES) e cinco plataformas, entre as quais a P-58, que opera o campo de Jubarte, no pré-sal da Bacia do Espírito Santo.
Os petroleiros exigem a suspensão das demissões na Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), previstas para serem desencadeadas na próxima sexta-feira (14), e o cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho.
A FUP e sindicatos recorreram ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), com pedido para que o ministro Ives Gandra reconsidere as decisões tomadas em dois despachos monocráticos favoráveis à gestão da estatal. Para a federação, embora Gandra tenha reconhecido a legalidade da greve, ele impôs condições “severas” ao movimento, ao determinar, por exemplo, que 90% dos efetivos operacionais sejam mantidos.
O descumprimento à liminar, segundo a decisão, implica em multa diária de R$ 500 mil para a FUP e os sindicatos do Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo, e mais R$ 250 mil para os demais sindicatos. No total, diz a FUP, os critérios “desproporcionais” da penalização podem resultar em R$ 4,5 milhões por dia.
Mesmo assim, a FUP e seus sindicatos afirmam estar cumprindo a liminar, como, por exemplo, a determinação de não realizar piquetes. Por outro lado, a direção da Petrobras nega informações sobre efetivos e impede o acesso dos trabalhadores às unidades, segundo a entidade. “Em vez de negociar, a gestão anunciou contratações temporárias, medida que coloca em risco os trabalhadores e as próprias unidades, cuja operação exige profissionais extremamente qualificados e treinados.”
Alerta
A FUP alerta que o fechamento da Fafen-PR não só deixará mil trabalhadores da unidade desempregados, como é um risco para o setor exportador do agronegócio e, principalmente, para os consumidores de carne vermelha.
Além de uma possível alta de preços, existe risco de contaminação da carne por formol, de acordo com a entidade. Isso porque o governo fechou as refinarias da Bahia e de Sergipe e pretende fechar a do Paraná, o que acarretará o fim da produção de ureia (usada como suplemento na ração do gado) pela Petrobras. As três refinarias eram responsáveis por 24% da fabricação de ureia.
Para compensar o valor mais caro da ureia importada, os produtores podem aumenta o preço da carne. Pior do que isso, segundo a FUP, seria eles utilizarem ureia agrícola, cujo processo leva formol. “Um produto totalmente diferente da ureia pura, que não representa perigo à saúde do ser humano”, afirma a FUP.
Empresa exportadora
Em relatório divulgado nesta segunda-feira (10), a Petrobras comemora o “excelente desempenho operacional no último trimestre de 2019”. De acordo com a empresa, a produção chegou a 3,025 milhões barris de óleo equivalente por dia (boed). Foi a primeira vez que a companhia ultrapassou os 3 milhões de barris em um semestre.
A Petrobras se reafirma cada vez mais como empresa exportadora de petróleo cru. Essa posição é confirmada pelo relatório. A exportação de petróleo no quarto trimestre de 2019 foi 11% maior do que nos três meses anteriores e 38% na comparação ao quarto trimestre de 2018. Em novembro, diz a companhia, a exportação chegou ao nível recorde de 767 mil barris por dia.
Na prática, a situação é reflexo da política instituída na Petrobras a partir do governo Michel Temer, e intensificada com Jair Bolsonaro, de transformar a companhia cada vez mais em exportadora de óleo cru e importadora de combustíveis.
Por isso, o governo tenta a todo custo vender as refinarias Landulpho Alves (RLAM), na Bahia; Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco; Alberto Pasqualini (Refap), no Rio Grande do Sul; Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná; e Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais.